Publicado em 13/11/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
“Não se agride o
espírito democrático impunemente”. (Paulo Pinheiro Chagas, saudoso escritor e homem
público)
Detendo-nos no primeiro fator causal do
detectado desassossego comunitário, vemo-nos impelidos a lançar no ar pergunta
atravessada como espinho na garganta de toda gente. Até quando persistirão
esses repetitivos e inconsequentes abusos retóricos, de nauseabundo teor
antirrepublicano? A Nação anda clamando
por um basta nesta história pra lá de incômoda! O pronto e decidido coro de
vozes irrompido recentemente, no seio da opinião pública, há que ser
interpretado como benfazeja reação ao tropel de impertinências assacadas contra
o sentimento nacional.
A tresloucada opinião de um parlamentar
radical, volta e meia emaranhado em bravatices de escancarado bolor
totalitário, “ameaçando” o país com um novo AI-5, desencadeou compreensível
clamor nacional. O fragor do repúdio fez esquecidas, por algum tempo,
divergências, desencontros e até entrechoques de ideias, às vezes agudos,
inerentes ao cotidiano político. Cidadãos de diferentes tendências e crenças,
deixando de lado antagonismos periféricos, fizeram questão absoluta de bradar,
alto e bom som, seu inconformismo e repugnância a qualquer manobra subversiva
que atente contra as instituições. Sem discrepâncias ao expressarem visceral
repulsa à provocação do despreparado parlamentar, lideranças de todos os segmentos
e matizes deixaram evidenciada, com todos os pontos e vírgulas, firme
disposição de confrontarem quaisquer vociferações e gestos bolorentos dos que
utilizam a imprecação do furor para atingir a pureza e serenidade dos magnos
valores culturais e democráticos.
O recado que as forças vivas da nação
estão passando, aos responsáveis por atos e linguajares conflitivos com a
consciência cívica, documenta discordância frontal a tudo quanto, em gestos ou
ditos, possa representar ameaça ao regime democrático. Regime esse que, nada
obstante perceptíveis defeitos, acha-se consagrado na memória e sentimento das
ruas como único compatível com a dignidade humana. Regime que, aliás, a
propósito, deu chance a alguns dos que, desastrada e equivocadamente,
perseveram na inglória tarefa de miná-lo em sua essência, a serem guindados às
importantíssimas funções hoje exercidas.
Fique bastante explícito, para os
extremados adeptos de facções alojadas nas lateralidades ideológicas
incendiárias, que os brasileiros rechaçam, com veemência, “atos institucionais”
de qualquer numeração. Rechaçam obstruções de qualquer ordem à liberdade de ir
e vir, bem como à livre dicção de ideias e cerceamento da voz da imprensa.
Rechaçam também prisões clandestinas e torturas aviltantes, louvações, como
figuras icônicas, de ditadores e torturadores. Consideram inaceitáveis o
desrespeito e achincalhe de instituições representativas da sociedade livre,
grosseiramente configuradas como óbices a remover em perverso esquema de erosão
democrática.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)