Publicado em 10/12/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“Prefiro o método convencional.” (Antônio Guterres, secretário geral da ONU, a propósito do “aplicativo de paquera”)
Este minifúndio de papel acolhe hoje (como apreciava
dizer o saudoso escritor Roberto Drumond), um desfile de coisas intrigantes e
registros novidadeiros extraídos do trepidante noticiário nosso de cada dia.
l Aplicativo de paquera
revolucionário. A empresa “A eHarmony” anunciou, em Lisboa, estar
desenvolvendo modalidade de aplicativo na linha do IA (Inteligência
Artificial). O instrumento seria capaz de oferecer aos usuários dos infinitos
processos de comunicação digital a chance de poderem identificar – ora, veja,
pois! – o “amor definitivo de suas vidas”.
Os idealizadores desse processo de interação
sentimental garantem que o vanguardeiro esquema bolado, altamente sofisticado,
é tranchan em termos de paquera eletrônica. O IA, assinalam os entendidos, é
uma experimentação científica dotada de condições para programar a reprodução
em computadores de mecanismos humanos ligados às percepções, às sensações, ao
próprio pensamento e tomada de decisões (ora, epa!). Ao ser acionado, o “cupido
eletrônico” estabelece, celeremente, ambiência propícia à aproximação de
criaturas afins para que sejam felizes, juntas, pra todo sempre, amém. Mas já
há quem, “desconfiômetro” ligado, coloque em xeque, bradando “truco”, a
propalada eficácia do sistema. Antônio Guterres, ex-primeiro ministro
português, atual secretário geral da ONU, por exemplo, confessa-se “cético”
quanto à perspectiva do aplicativo baseado no IA ajudar de fato “as pessoas
escolherem suas almas gêmeas”. Afiança estar muito feliz por ter sabido
localizar sua cara metade “fazendo uso dos métodos convencionais de paquera”.
l Os analfabetos funcionais e as
redes sociais. Os chamados “analfabetos funcionais” desempenham papel
destacado na disseminação das informações falsas distribuídas via redes
sociais. É o que acusa pesquisa recentemente vinda a lume coordenada pelo INAF
– Indicador de Analfabetismo Funcional.
Segundo o trabalho técnico divulgado, de abrangência nacional, as mais
de duas mil pessoas ouvidas, classificadas na categoria acima citada, utilizam
em volume bastante considerável os aplicativos existentes na internet. Espalham
incessantemente as mensagens e imagens recebidas. A classificação “analfabeto
funcional” é atribuída a quem confronte dificuldade, na rotina diária, para ler
e interpretar textos e executar operações matemáticas simples. Tais elementos
se mostram permeáveis a absorver e propagar desinformação, por carecerem,
obviamente, das qualificações intelectuais mínimas exigidas para análises
críticas daquilo que lhes está sendo passado, muitas vezes revestido, como
sabido, de aparência verdadeira. Ficam expostos ao risco de compartilhar textos
de sentido distorcido e enganoso, como explica Fernanda Cury, uma das
pesquisadoras envolvidas no trabalho. O cientista político Daniel Cara,
presidente da “Campanha Nacional pelo Direito à Educação”, em depoimento ao
jornalista Thuany Motta, autor de reportagem estampada em “O Tempo”, assevera
que os dados da pesquisa “mostram o que já se vinha falando: mesmo em condição
de analfabetismo funcional, as pessoas se comunicam da forma que podem,
incluindo as redes sociais.” Resta assinalar, em se tratando de rede social,
que a presumida participação do “analfabeto funcional” na proliferação de
notícias falsas não explica por si só o corrosivo processo em toda sua
dilargada extensão. O que não vem faltando na praça é nego tido como alfabetizado
empenhando-se pra valer no esforço de espalhar malvadezas à pamparra na
internet.
l Demanda superou longe a oferta.
Na esteira do governo uruguaio, o governo canadense aprovou o consumo de
maconha para fins medicinais e recreativos. As lojas especializadas no
fornecimento do produto não estão dando conta, entretanto, de atender as
encomendas. A escassez da erva vem levando “consumidores frustrados” a
recorrerem ao “mercado clandestino”. Segundo o departamento governamental
responsável pelo assunto, os fornecedores credenciados veem-se às voltas, no
momento, com numerosos problemas. A saber: as áreas de cultivo legalizado e os
equipamentos de embalagem do artigo são ainda insuficientes para o atendimento
global da clientela. De outra parte, a explosão na procura, fora dos cálculos
oficiais, somada à lentidão burocrática no licenciamento dos produtores da
“cannabis sativa”, constitui elemento causal preponderante na escassez
apontada. Porta-voz da agência reguladora na Província de Quebec, após
esclarecer que a demanda vem superando em muito a oferta, registra: “Os
produtores podem até contratar mais pessoas para garantir o atendimento. Mas
isso não fará as plantas crescerem em menos tempo.” Enquanto isso, no vizinho
Estados Unidos, onde dez estados aprovaram igualmente o uso recreativo da
maconha, o “Boston Globe”, de Massachussets, acaba de tomar uma decisão inédita
na história do jornalismo: criou uma editoria exclusivamente dedicada às
questões relacionadas com a produção, abastecimento e consumo da polêmica erva.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)