Publicado em 26/12/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“Roberto Landell de Moura,
padre, foi um inventor genial.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)
A revelação, feita agora em novembro, rendeu vistosas
manchetes mundo afora. Ganhou compreensível retumbância nas esferas
científicas. Pesquisadores da Universidade de Stanford, Estados Unidos,
anunciaram com pompa, ufanando-se da proeza, haver comprovado a existência da
“aura humana”. Constataram que um fluido energético invisível ao olhar da quase
totalidade das pessoas recobre permanentemente o corpo físico de todos os seres
vivos. Noutras palavras, reconheceram que a “aura” não é tosca crendice, mera
superstição. Até que enfim!
A “descoberta” foi rotulada de “expossoma humano”. Afiança-se
na descrição dessa camada de energia que se trata de uma espécie de “nuvenzita”
composta de micro-organismos e outras partículas suspensas no ar, entre elas
resíduos de gases químicos expelidos em diferentes atividades. A pesquisa
sustenta ainda que todos nós achamo-nos constantemente expostos ao “expossoma”
em todo e qualquer ambiente. Os autores do trabalho expressam, como de costume,
“ceticismo científico” acerca da versão referente à aura propagada em narrativas
esotéricas. Resolvem abrir, ao redor do alardeado feito, uma controvérsia que
promete dar o que falar. Segundo eles, a “aura humana” captada nos experimentos
de laboratório nada tem a ver com energias sutis, percebidas pela ótica mística
e identificadas, não é de agora, nos estudos sobre os chamados fenômenos
transcendentes. Fenômenos, diga-se de passagem, que enxameiam este nosso velho mundo
repleto de coisas assombrosas e de decifração complicada.
Não fica nada fácil para um simples leigo – caso deste
desajeitado escriba, propagador de quiméricas interpretações das charadas
intrigantes antepostas à jornada humana - meter o bedelho em tema de tamanha
complexidade. Mas, seja como for, este “repórter enxerido“ ousa afirmar que a
revelação dos conceituados pesquisadores estadunidenses admitindo a existência
da aura está chegando com atraso de mais de um século. É só atentar para o que,
no final do século XIX e nas duas primeiras décadas do século passado, um
brasileiro notável, arrostando incompreensões e preconceitos de todo quilate,
andou participando aos seus contemporâneos. Ele não apenas descreveu, como
fotografou a aura em aparelho que inventou.
A informação que ora passo ao distinto leitorado
remete à fascinante história de Roberto Landell de Moura. Cidadão gaúcho de
Porto Alegre, nascido em 21 de janeiro de 1861, falecido em 30 de junho de
1928. Falo de um sacerdote católico de mente aberta e inclinações místicas,
cientista e inventor, personagem de avantajada formação cultural e científica. Um
autêntico contemporâneo do futuro. Da leitura de numerosos textos alusivos à
sua vida e obra extraio empolgante narrativa.
A primeira notícia a ser dada é de que, embora
devotado à vida religiosa, com passagens sempre edificantes pela administração
de paróquias no Rio Grande do Sul e São Paulo, Landell focava a atenção paralelamente
em pesquisas científicas de relevância no processo da evolução civilizatória.
Foi apontado, por autoridades na área dos saberes, como alguém de ideias consideravelmente
avançadas para seu tempo.
Com conceitos inovadores da ciência e envolvimento em
assuntos tabus do ponto de vista da ortodoxia religiosa - como contatos com o além, paranormalidade e
crença na existência de outros mundos povoados de inteligência – provocou reações
de desagrado sem conta por parte de seus superiores. Foi advertido em várias
ocasiões para que moderasse o discurso e se ativesse aos cânones doutrinários. De
sua biografia consta episódio emblemático. Em meados de 1890, Landell exibiu um
de seus numerosos inventos a um prelado paulista. Um aparelho que poderia ser
definido como “telefone sem fio”, algo inimaginável naquela época. Perturbado
com as “vozes que vinham de nenhum lugar”, o superior eclesiástico qualificou o
aparelho “como obra do demônio”, proibindo o padre inventor de prosseguir com os
“heréticos” experimentos. Pesquisas a respeito do campo energético sutil que
circunda seres vivos levaram Landell a conceber um outro aparelho extraordinário.
Batizou-o com o nome de “Spiricon”. Foi chamado às falas pela ousadia, acusado igualmente
de prática profana. Anos depois de sua morte, o russo Semyon Davidovich
Kirlian, criou o instrumento que produz o chamado “efeito kirlian”, praticamente
retomando os estudos do padre brasileiro. A descoberta de Kirlian valeu-lhe
reconhecimento mundial. O pioneirismo do padre Landell Moura não foi
oficialmente atestado, em escala universal, devido ao obscurantismo cultural que
alvejou sua atuação.
Este relato sobre a vida e obra do genial compatriota
vai ter sequência. O leitor ficará a par nas próximas anotações de texto em que
ele descreve a “aura humana”, cem anos antes dos cientistas de Stanford.
Cesar Vanucci - Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)