Publicado em 09/08/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
“Não existe justiça na história!” (Yuval Noah Harari, pensador israelense)
Nas
imediações da passagem dos quarenta anos de vida, apoderado de impulso jovem
próprio da idade - neste meu específico caso, impulso duplicado face à
circunstância de a referida contagem de idade estar ocorrendo já pela segunda
vez consecutiva -, tomei a “inabalável decisão” de não mais festejar o
aniversário natalício. A deliberação só foi “definitiva” enquanto durou... Coisa
de pouquíssimas horas. Gente querida à volta interveio, vigorosa e
carinhosamente, pra mode quê a data não passasse, jeito maneira, despercebida.
Entre eles, o conterrâneo e amigo fraterno de décadas, festejado acadêmico e poeta,
desembargador João Quintino. Acontece que o supracitado cidadão faz questão, há
um bocado de anos, infalivelmente, próximo ao 2 de agosto, de presentear-me com
versos gratulatórios de bela feitura poética.
Anoto
com satisfação, depois desta singela explicação, que a costumeira celebração da
data revela-se-me sempre propícia à ampliação da biblioteca, de razoável
dimensão, que emoldura as paredes de minha modesta tenda de trabalho. Lugar em
que, bastante consciente de minhas notórias limitações, dedico-me ao aprendizado
do oficio da escrita.
Na
recente comemoração do começo de agosto, amiga dileta ofertou-me a obra
completa de um escritor israelense. Alguém que anda surfando hoje a crista da
onda literária. Alguém que vem acumulando, com inovadoras teorias, estrondoso
sucesso mundo afora. “O cara é fera”, assegura um conhecido que, muito antes
deste desajeitado escriba, tomou conhecimento do agigantado porte intelectual
de Yuval Noah Harari. Tendo pouco mais de 40 anos, o escritor já se notabilizou
por promover inteligente junção da filosofia, história e ciência em buscas voltadas
à decifração de desconcertantes enigmas da fascinante, posto que exageradamente
conturbada, aventura humana. Peagadê por Oxford, professor na Universidade
Hebraica de Jerusalém, assestou penetrante olhar na remota antiguidade, fixando
ainda sua acesa intuição no futuro da caminhada humana. Consagrou-se, em
substanciosas narrativas, aclamadas por críticos e leitores, a explicar o
sentido da vida, esforçando-se por responder a perguntas do tipo “quem somos”, “para
onde vamos”. Nas análises trazidas a lume, oferece instigante antevisão do
destino da civilização a partir da estupenda epopéia tecnológica dos tempos
contemporâneos. Somando vários milhões de exemplares vendidos em uma centena de
países, 400 mil só no Brasil, o livro “Sapiens - Uma breve história da
humanidade” vem sendo apontado como obra prima pela elite da inteligência. O
pensador sueco Henning Mankell (40 milhões de exemplares de livros publicados)
refere-se assim a “Sapiens”: “Brilhante. Provavelmente o melhor livro – e eu já
li muitos – sobre a história da humanidade. Nunca li nada melhor. E fico triste
em pensar nas pessoas que não vão lê-lo”.
Para
apreciação e reflexão do distinto leitorado, tomo a liberdade de alinhar na
sequência alguns trechos emblemáticos da fala de Yuval Noah Harari. Sustentando
que “não existe justiça na história”, o autor esclarece que, nos milênios
posteriores à revolução agrícola os seres humanos cuidaram de se organizar em
redes de cooperação em massa, “criando ordens imaginadas e desenvolvendo
sistemas de escrita”. Junta, a propósito dessa observação, o comentário crítico
vindo abaixo. “O aparecimento de tais redes foi, pra muitos, uma vantagem
duvidosa. As ordens imaginadas que sustentavam essas redes nunca foram neutras
nem justas. Elas dividiram as pessoas em pretensos grupos, dispostos em uma
hierarquia. Os níveis superiores desfrutavam de privilégios e de poder,
enquanto os inferiores sofriam discriminação e opressão. O Código Hamurabi, por
exemplo, estabelecia uma ordem hierárquica formada por homens superiores,
homens comuns e escravos. Os superiores ficavam com todas as coisas boas da
vida. Os homens comuns ficavam com o que sobrava. Os escravos ficavam com uma
surra, se reclamassem”.
Nos
desdobramentos dos conceitos expendidos, Harari assinala que “apesar de sua
proclamação da igualdade entre todos os homens, a ordem imaginada constituída
pelos norte-americanos em 1776 também estabeleceu uma divisão”. “Criou –
salienta – uma hierarquia entre homens, que se beneficiavam dela, e mulheres,
que ficaram desprovidas de autoridade”. Diz mais: “Criou uma hierarquia entre
homens, que desfrutavam de liberdade, e negros e indígenas, considerados
humanos de uma espécie inferior, não compartilhando, assim, dos direitos
igualitários dos homens”. Mencionando a circunstância de que os signatários da
“Declaração da Independência” (Estados Unidos) eram senhores de escravos, frisa
ainda que “eles não libertaram escravos depois que assinaram a Declaração nem
se consideravam hipócritas”. “Em sua visão – assevera ainda o escritor
israelense – os direitos dos homens pouco tinham a ver com os negros”.
É
nessa toada que se desloca a incursão de Yuval Noah Harari pela história. Reservo para artigo vindouro
outras informações extraídas do best-seller “Sapiens”.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)