ARTIGO ESPECIAL - Um dia Muzambinho perceberá que sem folha não tem vida

Publicado em 04/10/2014 - cidade - Da Redação

Um fato que não se discute é o de que a arborização urbana contribui para a melhoria do aspecto estético das cidades. Mas não é só isso. As árvores atenuam o calor do sol, absorvem ruídos, renovam o oxigênio do ar, diminuem a poluição causada pelos escapamentos dos carros; contribuem para reduzir o efeito das enchentes, além de atrair pássaros.
A ciência já provou que bairros arborizados apresentam temperaturas cerca de 4°C inferiores àquelas das áreas edificadas não arborizadas. Essa redução não é desprezível se levarmos em conta que a temperatura média em Muzambinho deverá elevar-se até 3°C neste século. Além disso, as árvores melhoram o conforto térmico por promoverem a elevação da umidade do ar graças à transpiração de suas folhas. Elas são, também, atrativas para os pássaros, pois fornecem alimento e abrigo para pouso e reprodução. As árvores formam uma barreira natural contra a propagação de ruídos em especial o de automóveis, funcionando como dissipadores. Por fim, e não menos importante, a sua folhagem funciona como filtro de ar por reter materiais particulados em suspensão.
Dessa forma, a vegetação na cidade, atuando no âmbito físico e mental do ser humano, causa-lhe bem estar por atenuar o sentimento de opressão típico do ambiente urbano.
Dito isso, vamos aos fatos! A queda de um Pau Brasil, plantado há mais de 30 anos pelo Senhor Ademar Bócoli, nas proximidades da Baixada e o imenso vazio que ficou no lugar, sem folha, sem sombra, sem vida, é um marco para se pensar o que será dessa cidade, que há mais de 21 anos não assiste a uma única política pública de arborização. Ao contrário, poderes públicos e sociedade constituída parecem enxergar nas árvores simplesmente um estorvo, num exemplo clássico de o quanto a busca pela facilidade tirou a longevidade de nosso planeta.
Quer saber como é o Deserto do Saara? Dê uma volta a pé pela Avenida Doutor Américo Luz ao meio dia. Mas, afinal, pra que andar a pé se todos têm carros? Temos tantos que nem conseguimos mais estacioná-los, pois, não há vagas, não há sombra, não há árvores.
E assim, de árvore em árvore, assistimos a destruição do caminho verde (uma galeria de grandes árvores que margeava a estrada de terra entre a Barra Funda e o Cemitério), o corte – sem mais e sem menos – de todas as árvores que enfeitavam a calçada da Praça de Esportes, a retirada das Palmeiras Imperiais da entrada da cidade para a construção da rotatória (Claro, nossos carros! Nossos carros! Eles, sim, são importantes.), a retirada de metade das árvores do primeiro quarteirão da Avenida (o que segue ao Cruzeiro de Pedra) na sua última revitalização (como é que alguém revitaliza cortando árvores?!) e vimos ser reduzidos a cinco os fícus que um dia deram à nossa Américo Luz o título de mais bela avenida do Sul de Minas (e, claro, proporcionavam ao ambiente uma temperatura média 4°C menor). Alguns fícus foram sentenciados à pena de morte por cometerem o crime de atrapalhar a montagem da tenda do Carnaval – e quando a gente conta isso em qualquer lugar o povo acha que é piada. Fora a isso, sepultamos todas as árvores que as fatalidades nos tiraram sem nada plantar no lugar. Ao contrário, a cada árvore que cai, parece que o sentimento é de grande alívio.
E assim, de corte em corte, vamos dando nossa pequena contribuição muzambinhense para o colapso ambiental do planeta: sem folha, sem sombra, sem água, sem vida.
Em tempo: as Palmeiras Imperiais da entrada da cidade foram replantadas no Parque Municipal e hoje estão lá, completamente mortas.

Evandro Moreira, - Muzambinho (Graduado em Geografia)