Publicado em 16/10/2020 - cidade - Da Redação
Muzambinho não foge à tradição da produção de café e derivados de leite
que tornou-se sinônimo da fartura do Sul de Minas em sua divisa com São Paulo,
mas que há décadas se posiciona regionalmente como um polo educacional e com
uma atividade industrial significativa para seus 21 mil habitantes, contando,
inclusive, com um campus do Instituto Federal do Sul de Minas. Trata-se de uma
cidade pequena rodeada por montanhas muito focada em suas propriedades, que
conta com um grande fluxo de pessoas e atividades econômicas, e se articula
entre as possibilidades que a região oferece sempre preocupada em manter sua
integridade. Como pretende-se aqui deixar claro, pode-se dizer
que sua classe empresarial compreendeu o tamanho da crise e optou por orientar
os agentes econômicos sobre como repensar seus negócios de uma forma ampla,
assumindo a hipótese de que nada será como antes.
Iniciada como centro de produção agrícola de pequenos produtores que se
fixaram como alternativa às instabilidades do ciclo do ouro, por volta do ano
de 1760, desde sua origem Muzambinho é marcada por iniciativas ao mesmo tempo
inovadoras mas priorizando algum tipo de estabilidade, um desenvolvimento
programado que começa de uma organização interna voltada para as soluções
possíveis olhando para um futuro sólido. Hoje cerca de 12% de sua economia gira
em torno do agronegócio, o que não impede a manutenção de suas tradições nas
atividades rurais. Com uma atividade manufatureira ganhando força a partir dos anos
1970, segundo dados de 2017, 15% de seu PIB é industrial, um dos maiores
percentuais entre os municípios tratados nesta série de diagnósticos
preliminares dos municípios mais ligados à Poços de Caldas. Seu setor de
comércio e serviços ultrapassa 50% do PIB, e junto 22,5% representados pelo
setor público mostra hoje uma predominância de atividades urbanas em sua
economia, o que explica o profissionalismo da Associação Comercial e
Empresarial de Muzambinho.
Dado o fato de haver muito mais circulação do que o comum para uma
cidade deste porte, era de se esperar um problema sério durante a pandemia. Já
entre os dias 17 e 20 de março havia uma orientação informal da associação
comercial sobre os cuidados, com alguns comerciantes inclusive reduzindo
horário de funcionamento por conta própria, antes de qualquer decreto municipal
ou estadual. Por outro lado, houve comerciante que entrou com mandado de
segurança contra a prefeitura no início de abril, quando os decretos
estabelecendo fechamento das atividades não essenciais já estavam em vigor.
Mesmo com uma flexibilização antecipada já na metade de abril, houve uma forte
campanha de conscientização até julho, a partir de quando passou-se a pensar
sobre novos modelos para retomada das atividades econômicas, pois a
flexibilização não levou à uma retomada do consumo. Pode-se dizer que a
estratégia de combate à pandemia foi bem sucedida na cidade, pois tiveram
apenas dois óbitos e pouco mais de 60 casos até agora, dados bem melhores que a
maioria dos municípios deste porte e com a capacidade de atração de Muzambinho.
Pode-se dizer que este difícil papel de fazer o meio campo entre as
proibições exigidas pela pandemia e as necessidades dos agentes econômicos além
de compreender por quais meios o fluxo no comércio poderia ser retomado foi o
enorme desafio com o qual se deparou a Associação Comercial e Empresarial. A
forma com que ela buscou promover uma transformação no comportamento das
pessoas para evitar a transmissão da Covid 19 focou em levar os comerciantes a
repensar a forma de exercer suas atividades, aderindo à campanha “Pede pelo
Zap” e promovendo uma consistente série de “lives” sobre como reinventar os
negócios dentro de novos padrões, quem contaram com consultores requisitados
pela Federaminas e FIEMG e mesmo representantes do BDMG. A promoção “7º Feirão da Associação Comercial e comércio de
Muzambinho”, este ano feita exclusivamente por meios digitais entre os dias 23
e 27 de julho, exemplificou muito bem que mesmo mantendo as orientações
sanitárias para as atividades em lojas físicas a opção estratégica foi
direcionar a dinâmica da economia local para os aplicativos na internet,
mantendo o distanciamento. Foi defendido o direto do comerciante de abrir, mas
mesmo assim estimulou-se formas de consumo que mantivessem o distanciamento.
Além de responsável, tirou o foco do conflito, preservando a instituição, os
associados e a sociedade onde funciona.
Diante do problema focou-se no que iria dar mais resultado. A crise
econômica já era comentada pelos comerciantes em particular no início do ano, e
a pandemia apenas agravou. A estratégia de admitir as dificuldades de vender
hoje e priorizar uma atitude didádica sobre como gerir e organizar internamente
os negócios ao invés de direcionar as ações para busca de mercados que estão em
dificuldade preparou os empresários para um futuro. Esta postura permitirá à
cidade se projetar de modo equilibrado, e esta foi a forma da Associação
Comercial cumprir seu papel de também contribuir para o desenvolvimento local
de modo mais amplo, afinal, uma cidade fortalecida que sonhamos consolida
mercados que queremos. Como diz a frase usada pela ACE em comemoração no dia
12/10, "Pense como um adulto, viva
como um jovem, aconselhe como um ancião e nunca deixe de sonhar como uma
criança!"
Introdução
ao projeto publicada em 15/9/2020
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/09/projeto-rede-de-desenvolvimento-regiao_15.html
Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento
Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do
Urban Living Lab-SP, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com