Sobre o Cap. Antônio Soares Coelho, muitas informações podem ser encontradas em (3), por ser considerado um dos primeiros habitantes e fundador de Ventania, atual Alpinópolis. Sobre o pai do cap. Antônio, Cipriano Soares Coelho veja (5).
Muzambinho se originou 19 de março de 1852?
A resposta é um sonoro NÃO!
Essa informação aparece em textos escritos por Esther Rondinelli, Eloadir Vieira, Rubens Bonelli Abrão, Fernando Antônio Magalhães, Ivon Waldete Vieira, Marcos Roberto Cândido e José Roberto Del Valle, porém, Muzambinho já existia antes disso.
Talvez essa data, como sugere (7) foi de quando Pedro de Alcântara Magalhães e outros sugeriram a criação de um arraial.
Isoldi em (1) aponta dezenas de pessoas cujo inventário e atestado de óbito indicam terem nascido em Muzambinho a partir de 1820.
Encontramos a informação de dois filhos de Pedro de Alcântara Magalhães (o 7º e o 8º filhos) batizados em 19 de março de 1832, na Paróquia de Cabo Verde. Arquivo disponibilizado online no site dos Mórmons. Em ambos registros consta que os pais da criança, Pedro de Alcântara Magalhães e Francisca de Oliveira Machado, eram habitantes do BAIRRO MUZAMBINHO. Os padrinhos Francisco Bueno de Azevedo, Joana Nepomuceno, João Moreira Magalhães (irmão de Pedro, meu ancestral), Albina Rosa Machado, moravam em Muzambinho.
O nome Muzambo ou Mozambo aparece em vários documentos, como citam (1), (2) e (4) na nomeação do Cap. Frutuoso Machado Filho para a Nova Companhia do Muzambo em 1814 e em (11) a localidade Muzambo a 1 légua de Cabo Verde (6 km). Além do Rio Muzambo Grande que passa por Alterosa e Alfenas em (10) e (11).
Há documento paroquial de 1794, apontado por (4), que cita Domingos Vieira e Silva como morador do Bairro Muzambinho. Acontece que este, que é um dos pioneiros da região de Alfenas, considerado inclusive fundador daquela cidade, morou por um tempo no “Vale do Muzambo”, que era aproximadamente no bairro Harmonia, no município de Alfenas. Era comum na época termos dois lugares com o mesmo nome. Para confirmar isso veja (10)
Supomos que a vila originada no alto da colina onde hoje é a Av. Dr. Américo Luz já era habitada em 1832, sem ter aqui uma capela curada.
Trajeto de Pedro de Alcântara
Pedro de Alcântara Magalhães pode ter nascido em Jacuí ou em Ventania entre 1798 e 1800 (pois seu túmulo pode estar indicando a data de nascimento errada, como fez com a data de morte). Ainda não encontramos seu batismo. Em 1799, Antônio Soares Coelho abandonou Ventania, como nos conta (3), desistindo de lá erigir uma capela. Francisco Tavares Moreira de Carvalho, filho de Antônio Soares Coelho e tio de Pedro de Alcântara se tornou vigário colado de Jacuí no início do séc. XIX.
Em 1817 já estava em São Bartolomeu há algum tempo, pois, se deu o batismo do primeiro filho da sua mãe com seu padrasto nesse ano. Em 1821 ele batizou sua 2ª filha em Pouso Alegre. Em 1829 o batismo de sua filha indica que ele morava em Santana do Sapucaí (atual Silvianópolis). Em 1831 ele já consta do censo como habitante de Cabo Verde. Em 1832 há indicação de que ele morava no BAIRRO MUZAMBINHO. Em 1857 já há documentos que indicam que ele morava no arraial de São José da Bôa-Vista (atual Muzambinho), que se tornou capela curada em 1860 e paróquia em 1866.
Em 8 de outubro de 1877 foi feito seu inventário, e consta que ele havia falecido de defluxo asmático aos 78 anos. Porém, seu túmulo indica que ele faleceu em 18 de fevereiro de 1878 (o que é impossível).
Fundadores - Roberto Capri (8), em 1917 nos conta: “Anteriormente á sua fundação, Muzambinho e seus arredores eram de propriedade das famílias Alcântara Magalhães, Machado, Araújo, Bueno, Mathias e Correia.”
O Almanach Sul Mineiro (9), de Bernardo Saturnino da Veiga, de 1874 fala que “José Moreira Braga e João Vieira Homem, já falecidos, foram os doadores do terreno que constitui o patrimônio da freguesia de S. José da Bôa-Vista, e tomarão interesse pela criação desta localidade, Pedro de Alcântara Magalhães, Antônio Joaquim Pereira de Magalhães, José Garcia da Ressureição e José Joaquim Machado.”
Uma edição de “O Muzambinho” de 3 de outubro de 1940, a mais difundida e preservada pela cidade (eu já vi 5 exemplares), cita que os fundadores foram Pedro de Alcântara Magalhães, José Joaquim Machado e José Garcia da Ressureição.
Pedro de Alcântara Magalhães havia sido enterrado na Igreja Matriz, e seu corpo foi transferido para um monumento no novo cemitério, no Alto do Anjo, conforme a Lei 87 de 25 de setembro de 1897: Lei 87, de 25 de setembro de 1897 – Refere-se a remoção para o cemitério público, dos restos mortaes das pessoas inhumadas no logar onde foi situada a primitiva Matriz desta cidade, e a construção de um jazigo especial para recolhimento das cinzas do finado Pedro de Alcântara Magalhães. Essa Lei cita que ele é “lídimo” o fundador de Muzambinho.
No novo jazigo citado na Lei 87, também foi enterrado José Joaquim Machado, fato que pode ser conferido no cemitério e eu tenho fotos.
Antônio Joaquim Pereira de Magalhães é considerado fundador de Machado e é pai de Joaquim Leonel Pereira de Magalhães, o Major Leonel, um dos patriarcas de Cabo Verde. Apesar de ser Magalhães, não há qualquer parentesco desse com Pedro de Alcântara. O pai de Pedro de Alcântara era português e o ancestral de Antônio Joaquim estrangeiro mais próximo era das ilhas dos Açores.
O problema é entender o que é fundador. Fundador pode ser um nome referente àquele que eleva a condição da localidade para julgado ou curato ou aquele que erige uma capela na localidade a batiza com um nome. No caso, pode ter sido Pedro de Alcântara Magalhães que batizou de São José da Boa Vista.
A Enciclopédia dos Municípios, de 1959 (12), atribui o nome da localidade à escolha dos doadores do patrimônio.
Doação do Patrimônio
Família Vieira Homem
Doar o Patrimônio significa transferir para a Igreja Católica uma propriedade para construção de uma capela.
Esse conceito é muito confuso. Já vimos acima, que em (9) são citados como doadores do Patrimônio João Vieira Homem e José Moreira Braga. Essa informação é de 1874, portanto, bastante credível.
Ela se repete em 1917 no folheto de Capri (8).
Já em (13) e (7) de 1940 e em (12) de 1959 aparecem outros nomes: José Moreira Braga, João Vieira Homem, Maria Benedita Vieira e Maria Engrácia Destarte, repetidos ad eternum por vários outros autores. Maria Engrácia Destarte aparece como Maria Ingrácia Destarte por alguns autores.
Ocorre que a esposa de João Vieira Homem tinha como nome de solteira Maria Benedita Engrácia, o que nos leva a dedução de que esta era a tal Engrácia Destartes. Maria Benedita Engrácia nasceu em Santa Cruz dos Goiáses, filha de Domingos Gonçalves Pereira e Mariana Freire da Conceição, informações preservadas pois (1) teve acesso ao seu inventário, deixado no arquivo pessoal de André Vieira Homem.
João Vieira Homem já era falecido em 11 de julho de 1854, dois anos depois da suposta doação do Patrimônio em 1852.
Em seu inventário havia 37 escravos, o que mostra que era um homem rico, tendo em vista que o preço de um escravo era próximo do preço de um imóvel residencial. Além disso possuía uma fazenda em São Francisco, a Faz. São Domingos com 1860 alqueires em Cabo Verde, a Fazenda Cabeceiras da Mutuca no território atual de Elói Mendes, um sítio chamado Vierins, terreno urbano em Cabo Verde, e animais, objetos, lavouras, etc.
É bem provável que Vieira Homem era tio de Matias Vieira, fundador das fazendas Lagoa e Vista Alegre, sendo Matias pai dos políticos Jorge Vieira e Henrique Vieira, importantes protagonistas das histórias de Monte Belo e Areado. Essa probabilidade se encontra pelo parentesco de João Januário de Magalhães, neto de Vieira Homem, com Matias Vieira, sendo inclusive que João Januário residia na Fazenda Vista Alegre.
O que é mais interessante é que os descendentes de João Vieira Homem se casaram com membros das famílias Magalhães, Machado e Coelho, tornando quase impossível separar tais famílias na contemporaneidade.
Inclusive Amaro Gonçalves Chaves, que é primo de Antônio Soares Coelho e João Soares Coelho e sobrinho de Cipriano Soares Coelho. Os quatro são considerados os fundadores de Ventania (3). Amaro Gonçalves tinha uma fazenda no Cancã. O primogênito de Amaro Gonçalves, João Gonçalves de Brito, casou-se com uma filha de Vieira Homem (1), Maria Luísa do Carmo, e no registro paroquial do casamento indica que eles moravam na Fazenda Muzambinho.
Amaro Gonçalves faleceu em Mutuca (atual Elói Mendes) em 1849. Seu filho João Gonçalves de Brito faleceu em Cabo Verde. Ambos eram habitantes de Ventania (Alpinópolis) e Cancã. Eram primos de Antônio Soares Coelho, de Ventania, onde 4 filhas casaram com habitantes de Cabo Verde; sendo que um neto de Antônio Coelho fundou Muzambinho em terras doadas por Vieira Homem, que era habitante de Elói Mendes!!! Parece-me que há muitas coincidências que precisam ser investigadas.
João Vieira Homem considerado principal doador do patrimônio de Muzambinho por (1) faleceu em Cabo Verde. Porém, morou a maior parte da sua vida em Espirito Santo da Mutuca, na Faz. Cabeceiras da Mutuca, onde nasceram 8 dos seus 10 filhos. Há oito filhos seus batizados em Espírito Santo da Mutuca (atual Elói Mendes) (1).
Registros em (13) indicam João Vieira Homem como um dos beneméritos de Elói Mendes.
O Monsenhor José do Patrocínio Lefort registrou que João Vieira Homem comprou a Faz. Cabeceiras da Mutuca em 1809 de José da Costa Godinho, a partir de um documento demandado pelo Cap. João Inácio Marques Padilha em 1841.
Os documentos citados em (1) indicam que em 1824, João Vieira Homem ainda estava em Elói Mendes. Poucos anos depois seus filhos ou netos já se casavam, batizavam os filhos ou faleciam em Cabo Verde. Em 1854, João Vieira Homem já havia falecido, em Cabo Verde.
José Moreira Braga é provavelmente cunhado de João Vieira Homem, mas não temos informações. Moacyr Soares Bretas grafou como “José Vieira Braga”, mas provavelmente essa equivocado, veja (8) e (9). Esse é um tema a ser pesquisado.
Os Paoliello
Muzambinho ainda era um arraial e recebeu quatro italianos, o capelão curado, Próspero Paoliello, e quatro sobrinhos (1). Os primeiros batismos ocorreram em 1861.
Houve questionamento sobre o pioneirismo dos Paoliello em Muzambinho, até por motivos de rixa política com o atual prefeito que tem esse sobrenome. Dizem: “os italianos chegaram após 1890, na diáspora italiana, para trabalhar no café, após o fim da escravidão”.
Os Paoliello, diferente de todos os outros italianos de Muzambinho eram fidalgos, descendente de famílias nobres da Itália, da região de Viggiano, na Basilicata, e chegaram em Muzambinho mais de 30 anos antes das primeiras famílias italianas aqui aportarem.
Os sobrinhos do padre eram José Maria Paoliello, Próspero Paoliello Sobrinho e Francisco Domiano Paoliello, este último filho natural de Próspero Paoliello Sobrinho.
A prole de José Maria Paoliello é toda Machado Magalhães. José Maria Paoliello foi casado com Balbina Cândida da Luz, filha do fundador de Muzambinho José Joaquim Machado, sobrinho de Pedro de Alcântara Magalhães.
A prole de Francisco Domiano Paoliello é toda Machado Magalhães (pelo seu primeiro casamento) ou Vieira Homem (pelo segundo casamento).
A prole de Próspero Paoliello Sobrinho é toda Coimbra, pois ele foi casado com Camila Maria Lellis Coimbra, natural de Batatais, filha do prof. Camilo Maria Lellis Coimbra.
Os Coimbra
Todos os Coimbra de Muzambinho ou são pertencentes à família Magalhães ou à família Paoliello.
O professor régio Camilo Maria Lellis Coimbra veio da região de Franca para Cabo Verde.
Camilo casosu-se com Maria Joaquina Rosa Sacramento e teve 6 filhos. O mais velho, o Comendandor Antônio Carlos de Azevedo Coimbra teve três casamentos, todos eles com descendentes da família Magalhães. Portanto, seus filhos todos são Magalhães. Seu 2º filho, Vigilato Cândido não teve filhos e foi casado com uma Magalhães. Francisco, seu terceiro filho, morreu solteiro na Guerra do Paraguai. Sua única filha mulher casou-se com Próspero Paolielo Sobrinho. Seu quinto filho, Cesário Coimbra, casou-se com uma integrante da família Magalhães. Sua filha caçula, Emirena, casou-se com um membro da família Machado Magalhães.
Portanto, todos os coimbras de Muzambinho são Magalhães ou Paoliello.
Famílias Pioneiras
Para entender Muzambinho é preciso compreender bem o artigo de Isoldi, pois, cita um aglomerado de famílias que dão origem para os primeiros habitantes de Muzambinho.
1) Família Machado e Família Magalhães. Todos os integrantes das famílias Bueno e Matias em Muzambinho são também integrantes da Família Magalhães.
2) Família Paoliello. Lembrando que a Família Coimbra é invariavelmente Magalhães ou Paoliello.
3) Família Coelho (de Ventania).
4) Família Vieira Homem.
Descendentes dos Pioneiros
Selecionamos alguns nomes, citando entre pessoas que ocuparam cargos públicos em Muzambinho e no Brasil e alguns escritores e poetas. Há vários outros nomes. Veja no meu livro “História de Muzambinho”, artigo #112. (imagem acima)