Publicado em 20/11/2018 - geral - Da Redação
Atualmente, mais de 80% das escolas
estaduais mineiras desenvolvem projetos relacionados à História da África e
cultura afro-brasileira. Dia Nacional da Consciência Negra é
celebrado na terça-feira (20/11)
Nos
últimos quatro anos, a criação de políticas públicas para inclusão da temática
da igualdade racial nas escolas estaduais ajudou a mudar a realidade de muitos
jovens que sofrem com o racismo diariamente.
“Em
2015, apenas 20% das escolas da rede estadual de Minas Gerais tinham projetos
relacionados à História da África e cultura afro-brasileira. Hoje, esse
percentual ultrapassa 80%”, sinaliza a superintendente de Modalidades e Temáticas
Especiais de Ensino da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Iara Pires Viana.
No
Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, a educação
estadual tem motivos para comemorar os avanços conquistados desde 2015.
“Os
trabalhos em sala de aula têm contribuído para aumentar a autoestima dos
estudantes que, muitas vezes, viviam situações de racismo e discriminação
racial e não conseguiam se posicionar frente a esses tipos de situação”, afirma
Andréia Martins da Cunha, coordenadora da Educação das Relações Étnico-raciais
da SEE.
Conscientização
Aluno
da Escola Estadual José Luiz de Carvalho, localizada em Ribeirão das Neves, na
Região Metropolitana de Belo Horizonte, Arthur Gonçalves Peres, de 19 anos, é
um dos 1.128 estudantes que participam dos Núcleos de Pesquisas e Estudos
Africanos e Afro-brasileiros e da Diáspora (Ubuntu/Nupeaas).
“Os
núcleos foram criados para levar a experiência de pesquisa e extensão aos
estudantes da rede estadual de ensino e, ao mesmo tempo, estabelecer, por meio
da produção de novos conhecimentos, outros espaços e tempos pedagógicos
favoráveis à promoção da equidade racial e ao desenvolvimento escolar dos
jovens do ensino médio”, explica Andréia Cunha.
Na
escola de Arthur, o trabalho é conduzido pelo professor de História, Ronildo
Geraldo da Silva. O foco da pesquisa são os saberes tradicionais populares,
especificamente o das benzedeiras do Quilombo Urbano Nossa Senhora do Rosário.
“O
objetivo foi desconstruir o preconceito que existe no Brasil em relação à
religiosidade africana. Nossa construção social desmereceu o que veio da
África, como se fosse algo ruim, inferior. Com a pesquisa, os estudantes se
conscientizaram de que se trata, apenas, de uma religiosidade diferente e que
merece respeito”, destaca Silva.
“A
pesquisa me ajudou a entender que a religiosidade deles é uma tradição
cultural, passada de geração para geração, mas muitas pessoas acham que é algo
ruim. É preciso debater o racismo na escola. Antes de fazer essa pesquisa, eu
não percebia isso”, diz o estudante Arthur Peres.
O
Ubuntu/Nupeaas integra o projeto Iniciação Científica no Ensino Médio e faz
parte do Programa Afroconsciência, desenvolvido pela SEE.
“As
ações de fomento do programa têm ajudado a ampliar a consciência de todos os
estudantes quanto à necessidade de se combater o racismo, não só dentro da
escola, mas em todas as instâncias sociais”, enfatiza Andréia Cunha.
Resultados
das pesquisas
No
último mês de outubro, professores-orientadores e estudantes-pesquisadores dos
núcleos apresentaram os resultados de suas pesquisas no X Congresso Brasileiro
de Pesquisadores/as Negros/as (Copene), realizado na Universidade Federal de
Uberlândia (UFU).
O
evento reuniu professores, pesquisadores e estudantes das mais diversas
instituições acadêmicas de todas as regiões do Brasil, ativistas dos movimentos
sociais e convidados estrangeiros.
A
próxima etapa será a exposição dos trabalhos no hall do Prédio Minas, na Cidade
Administrativa, desta segunda-feira (19/11) até a próxima sexta-feira (23/11).
A exposição “Itinerários Nupeaas: a construção de uma escola antirracista”
compõe a programação do Mês da Consciência Negra e tem como objetivo dar
visibilidade ao projeto.
“O
foco da exposição é destacar o protagonismo dos nossos jovens e também o
trabalho inovador realizado pelos professores do ensino médio de nossa rede.
Também estão previstas apresentações em feiras de ciências e nas atividades da
Semana de Educação para a Vida em diversas escolas do estado”, frisa Andreia
Cunha.
Expansão
O
planejamento da Secretaria de Estado de Educação para 2019 prevê a ampliação do
número de núcleos de pesquisa por meio do lançamento de um novo edital, além do
fortalecimento dos 94 núcleos já implantados. Para isso, o órgão estadual
aposta em novas parcerias e na consolidação das que já existem.
Atualmente,
os parceiros do projeto são a Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais
(Fapemig), responsável pela seleção dos professores das IES que atuam como
tutores dos núcleos, e a Ação Educativa, ONG responsável pelo monitoramento
qualitativo do projeto e autora dos Indicadores de Qualidade na Educação –
Relações Raciais na Escola (Indiques), metodologia utilizada pelos núcleos para
a coleta e análise de dados relativos ao racismo e discriminação racial no
contexto escolar.
“Recentemente
conseguimos um novo parceiro, a Saga. Trata-se de uma empresa do setor privado
especializada no ensino de desenvolvimento de jogos digitais e em cursos de
computação gráfica. A empresa vai promover oficinas para os todos os estudantes
que participam dos núcleos. A parceria representa uma oportunidade valiosa de
associar os trabalhos de pesquisa produzidos pelos núcleos à linguagem
tecnológica do universo digital”, assinala Andréia Cunha.
Caminhada
Para
marcar o Dia Nacional da Consciência Negra, a Secretaria de Estado de Educação
também promove, nesta terça-feira (20/11), a IV Caminhada da Promoção da Igualdade
Racial. O evento será realizado simultaneamente em todo o estado. Em Belo
Horizonte, o ato acontece na Cidade Administrativa, a partir das 8h.
A expectativa da Secretaria de Estado de Educação é a de que, assim como nos anos anteriores, o ato mobilize não só estudantes e funcionários mas também as comunidades e instituições de ensino municipais localizadas no entorno das escolas estaduais.