Publicado em 28/04/2021 - geral - Da Redação
Sem ágio e com proposta única, pelo valor mínimo de outorga,
míseros R$ 32,7 milhões. Assim foi o leilão da FIOL, Ferrovia de Integração
Oeste-Leste, que cobre 537 quilômetros, de Caetité a Ilhéus na Bahia. Mesmo com
esse desempenho pífio, o resultado foi comemorado pelo governo federal, em mais
um capítulo da farsa dos leilões.
Em vez de exaltar uma nova concessão cedida a preço de
banana, deveríamos lamentar o rumo que a malha ferroviária e outros modais de
transporte estão tomando sob a atual gestão em Brasília. A FIOL é apenas mais
um exemplo da série desastrosa de erros que estão cometendo com os leilões de
infraestrutura.
Descontando a controvérsia ambiental (que deveria sim, ser
examinada com mais cuidado antes de bater o martelo com a concessão), a ideia
da ferrovia – ligar o oeste da Bahia ao porto de Ilhéus – é boa. As
administrações passadas até chegaram a se empenhar na construção do trecho,
concluindo 80% das obras.
Mas, da forma como foi definida no recente leilão, a
ferrovia só servirá para transportar commodities, quando deveria estar a
serviço da integração de toda a rica região do interior baiano com outras áreas
do estado e com o restante do país. Na verdade, o leilão só interessava a uma
empresa, muito mais pelo acesso estratégico ao porto de Ilhéus do que pelo
transporte de minério de ferro sobre os trilhos.
Levar o certame adiante nessas condições é mais um exemplo
do que não deveríamos fazer com nossas ferrovias. Em países desenvolvidos, elas
são um símbolo da integração nacional. Mas, aqui, preferimos a postura de país
colonizado.
Transporte sobre trilhos não pode se resumir às cargas de
commodities. É precisa ter um projeto nacional que conceba não apenas a
exploração de todo o potencial ferroviário para o transporte de passageiros e
outras matérias-primas, mas também a ligação das ferrovias com os demais
modais. Brasília nunca se dedicou a fazer essa lição de casa, por inércia,
comodismo, incompetência ou, pior, por estarmos vivendo um jogo de cartas
marcadas.
Somos o país da fantasia, em que promessas de investimentos
estéreis são comemoradas e vendidas para a mídia como grandes feitos,
encobrindo o vazio em que estamos mergulhados pela falta de políticas públicas
nacionais de desenvolvimento. Vamos pagar – já estamos pagando, na verdade, com
os atuais leilões – um preço muito caro por essa omissão.
Vender ativos importantes como a FIOL a preço de banana, sem
nenhuma contrapartida, a não ser o benefício privado, é um desserviço. Um crime
perpetrado contra a nação.
Por José Manoel Ferreira
Gonçalves é engenheiro e presidente da Ferrofrente (Frente Nacional pela volta
das Ferrovias).