Publicado em 22/08/2019 - geral - Da Redação
Escola para jovens infratores já teve
quatro alunos que ingressaram no ensino superior
Os
dois jovens estão no Centro Socioeducativo há mais de um ano e, desde então,
retomaram estudos que foram abandonados lá fora. Conseguiram uma boa nota no
Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL) e,
agora, autorização judicial para ir à faculdade todos os dias em busca de um
novo futuro.
O
jovem Renan Rodrigues*, 18 anos, diz que sempre sonhou cursar Agronomia, mas
que a história da sua vida o fazia desacreditar nesta possibilidade. Segundo
ele, o apoio da equipe pedagógica da unidade foi fundamental para que ele
pudesse retomar o gosto pelos estudos. “Quase não acreditei quando me contaram
que eu tinha sido aprovado. Eu estava com a vida de cabeça pra baixo e estou me
apegando a essa oportunidade para realmente ter um futuro diferente”, afirma.
Para o jovem, a satisfação que este resultado traz para a sua família é um
“combustível” para superar qualquer dificuldade que possa surgir. “Eu, que já
fiz minha mãe chorar de desgosto, agora a vejo sorrindo e sentindo orgulho de
mim novamente”.
Já
Felipe Soares*, 19 anos, cresceu no campo e também diz que ser um agrônomo e
trabalhar na lavoura sempre foi algo desejado. “Quando eu entrei aqui foquei
nos estudos para tentar tirar de um acontecimento ruim algo de bom. Sei que o
caminho é longo e que não será tão fácil, mas vou me dedicar e não desanimar”.
Resultados
Os
trabalhos desenvolvidos pelo Centro Socioeducativo de Unaí na área de Educação
têm dado frutos. Além dos dois jovens, que ingressam na UFVJM, a unidade teve
outros dois aprovados em curso superior, no primeiro semestre deste ano. Pedro
Ramos*, 18 anos, foi aprovado em Pedagogia, na Unimontes, em Paracatu, e Rafael
Rezende*, 19 anos, ingressou no curso de Engenharia Elétrica, no Instituto
Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), também em Paracatu.
De
acordo com o diretor-geral do Centro Socioeducativo de Unaí, José Adeiro da
Fonseca, o rompimento da trajetória infracional e a oportunidade de ingresso de
quatro jovens em um curso superior foi possível graças ao empenho deles, aos
conselhos e ensinamentos da equipe pedagógica e professores da unidade e,
principalmente, à presença da família durante o cumprimento da medida. “É
gratificante saber que a medida socioeducativa contribuiu para o acesso dos
adolescentes ao ensino superior. Hoje eles conseguem acreditar em alternativas
para uma vida alheia à criminalidade e para construção de um novo estilo de
vida”.
A
pedagoga do Centro Socioeducativo de Unaí, Humara Couto, ressalta a satisfação
com a conquista dos jovens e o incentivo que esse resultado dá a outros
adolescentes. “A gente conversa com eles, incentiva, tira dúvidas e vê que está
dando certo. Esse tipo de resultado acaba influenciando os outros adolescentes
que estão concluindo o ensino médio este ano e que já estão se dedicando mais
porque viram que sim, é possível modificar a trajetória da vida”.
Cumprimento
de medidas e estudos
Em
Minas Gerais, 100% dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas nas
unidades administradas pela Secretaria
de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) estudam, de acordo
com diretrizes pedagógicas pensadas exclusivamente para jovens privados de
liberdade.
Mais
que continuidade de estudos, as escolas formais montadas dentro das unidades
socioeducativas têm significado um retorno destes jovens aos bancos da escola.
Cerca de 20% dos adolescentes que entram no sistema socioeducativo após a
prática de um ato infracional apresentam média de quatro anos de distorção
entre a idade e a série em que se encontram matriculados. Além disso, quando
estes adolescentes chegam para o cumprimento das medidas, geralmente não
possuem vínculo com a escola, pois já abandonaram os estudos.
Assim
como os jovens que se matricularam no Enem PPL e conseguiram uma vaga em
universidades, todos os anos, cerca de 200 jovens são preparados para esta
avaliação em Minas Gerais.
* O nome é fictício para preservar a identidade dos adolescentes, segundo determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
SEGOV