Publicado em 09/04/2020 - geral - Da Redação
A Páscoa está chegando e chega bem a propósito,
pois o mundo esta precisando de renovação, de renascimento, de libertação, tudo
o que ela significa. O mundo está por demais conturbado, está doente, está em
quarentena. O mundo parou. Chance para nós, seres humanos, nos revisitarmos e
nos reconstruirmos.
O ser humano está perdendo
a sua essência, o seu rumo, a sua humanidade, e a violência e o ódio estão
tentando calar a voz da paz, da harmonia, da tolerância. Então precisamos,
todos, refletir sobre o sentido da Páscoa e procurar o caminho do renascimento
deste nosso mundo, o caminho da união e do perdão, da capacidade que ainda
temos de sermos generosos, da conscientização de que precisamos mudar.
Precisamos mudar, porque até na desgraça maior, uma pandemia que assola os
quatro cantos do mundo, as pessoas estão brigando por diferenças políticas.
Apesar de tudo isso, Páscoa me traz a lembrança boa, mais uma vez
do meu avô Lúcio.
Digo que a Páscoa faz com
que ele se faça mais presente na lembrança, porque ele morava em Corupá, quando
eu era criança, mas quando eu tinha uns 6 ou 7 anos ele mudou-se para
Joinville. Ele era ferroviário, assim como quase todos na família, e a imagem
dele chegando a nossa casa com uma cesta de vime pendurada no braço direito não
me sai da memoria. Nossa casa ficava distante da estação ferroviária, em
Corupá, mais ou menos uns dois quilômetros. Mas lá vinha ele, a pé, com a cesta
cheia de guloseimas para nós, os netos. Ele trazia aquelas balas grandes e
coloridas, do tamanho de um ovo de galinha, que hoje já não existem mais,
trazia babaçu maduro, um coco amarelo do tamanho de um ovo de galinha, também,
com uma ou duas amêndoas dentro, do tamanho de uma castanha do Pará, talvez,
coisa que já não vejo há décadas por aqui, infelizmente. Trazia tucum maduro –
uma fruta parecida com butiá, mas preta - a gente come a casca e o coquinho que
tem dentro. Trazia goiabas, trazia maria-mole, trazia aquelas balas coloridas
que eram cortadas em fatias grossas, que tinham um desenho no interior, nem sei
se elas ainda existem.
Era uma festa a chegada do
meu avô a nossa casa em Corupá. Acho que ele ficava colecionando todas essas
frutas e doces para encher a cesta e, num seu dia de folga, tocar para Corupá
para entregar tudo aquilo pra gente. Coisas simples, mas que eram oferecidas
com carinho e tinham um valor incomensurável. Tinham um gosto de Páscoa, pois
ele provava e renovava o seu carinho pelos netos.
Hoje os avôs não dão,
absolutamente, esse tipo de presente. Hoje os avôs dão brinquedos eletrônicos,
como jogos, smartfones, tablets, consoles, etc. Mas aqueles tempos do meu avô
eram felizes e dá uma saudade muito grande.
Não
lembro mais do rosto do meu avô, só lembro que ele era careca, tinha apenas uma
coroa ao redor da cabeça. Acho que lembro disso porque também estou ficando
careca e talvez fique igual a ele. E, engraçado, apesar de não lembrar do rosto
dele, eu ainda o vejo chegando com a cesta no braço, cheia de oferendas. Como
se fosse a Páscoa chegando. Saudade.