Publicado em 29/12/2018 - geral - Da Redação
Iniciativa
do Governo do Estado define o lugar para sistematizar conhecimento e arte,
resgate de costumes e troca de saberes da barranca do Rio São Francisco
Uma das mais tradicionais
e imponentes construções do sertão mineiro, com mais de um século de história,
tornou-se oficialmente Museu das Culturas do Rio São Francisco. No local
funciona também o Centro Educacional de Buritizeiro, da Fundação Caio Martins
(Fucam), instituição que completou 70 anos de existência em 2018. A
oficialização do museu é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da
Portaria 010/2018 da Fucam, publicada em 21 de novembro de 2018.
Em 1° de setembro o
casarão já havia sido tombado como Patrimônio Histórico Estadual de Minas
Gerais, conforme deliberação do Conselho Estadual de Patrimônio Cultural.
Situado na margem esquerda do “Velho Chico”, em Buritizeiro (território Norte),
o prédio, que chama a atenção pela grandeza, está distante 365 km da capital
Belo Horizonte.
A estrutura de 105 anos
foi projetada pelo arquiteto italiano Miguel Micussi e erguida pela Marinha do
Brasil para abrigar a Escola de Aprendizes Marinheiros de Minas Gerais, curso
oferecido durante dez anos.
Em seguida foi Escola de
Agricultura, Hospital Regional Carlos Chagas, referência no combate às
epidemias presentes no sertão daquela época e, posteriormente, unidade da
Fucam, que ainda trabalha com cursos complementares para jovens em seis
municípios mineiros.
Segundo o presidente da
Fucam, Gildázio Alves dos Santos, existe um movimento da comunidade, formado
por servidores da Fucam, ex-servidores e ex-alunos do entorno, que se mobilizou
pelo museu. “Isso nos inspirou a criar um espaço de fruição conhecimento, troca
de saberes, resgate de valores e de costumes. Um lugar para sistematizar o que
é produzido ali na barranca do São Francisco”, explica.
Gildázio Santos ressalta
que existe uma riqueza cultural da região que precisa ser sistematizada no
espaço definido, valorizando o que se faz ali, referindo-se às artes, produção
de alimentos, culinária, literatura e outras formas de expressão do povo
barranqueiro.
Servidora da Fucam há 15
anos, com formação em magistério superior e serviço social, Maria Alice Correa,
que coordena o Comitê de Implantação do Museu das Culturas, fala do espaço com
entusiasmo. “A nossa ideia e o nosso propósito aqui é de trabalhar a cultura
regional, a dimensão histórica e patrimonial”.
Maria Alice conhece bem o
lugar e sabe dos desafios que existem relacionados à estrutura física de um
prédio centenário que sofre das ações implacáveis do tempo. Mesmo assim ela se
diz otimista quando se refere à restauração, começando pelo telhado. “É um
sonho não apenas da Fucam, mas de Buritizeiro e região, pois é um prédio
histórico muito bonito, que precisa ser restaurado para continuar produzindo
riqueza cultural”, afirma.
A coordenadora do Comitê
de Implantação do Museu detalha que atualmente o espaço está recebendo
exposições da arte que é produzida na região. Ao mesmo tempo, os servidores da
Fucam estão recebendo capacitação do Sistema Mineiro de Museus, ligado à
Secretaria de Estado de Cultura, para que a implantação ocorra dentro das
normas estabelecidas para esse tipo de equipamento cultural.
O acervo do Museu das
Culturas visa contemplar Buritizeiro, Pirapora e todos os municípios da
extensão do Rio São Francisco, inclusive de outros estados. “Nossa equipe vai
receber o acervo que pode ser composto por vestimentas, peças artísticas,
instrumentos musicais, ferramentas rudimentares que fazem parte da história do
povo barranqueiro, bem como arquivos físicos e digitais”, conclui.
Como representante da
comunidade de Buritizeiro, o ex-aluno da Fucam, hoje aposentado, Olímpio
Rodrigues da Silva diz que o prédio tem um significado especial, pois a cidade
nasceu em torno dele.
“É uma história de
muita relevância que foi escrita a partir da iniciativa de um coronel para
acolher crianças carentes. Eu fui uma dessas crianças e graças ao tempo em que
lá estive, pude estudar, trabalhar e ser um homem de bem. A relação com aquele
lugar é semelhante a de um filho com a mãe”, revela animado com a ideia de um
museu concebido com a sua participação.
História viva da Fucam
O presidente Gildázio
explica que a opção da Fucam fechada em si mesma não ajudava a fortalecê-la,
razão pela qual houve construção de uma abertura para os anseios das comunidades
locais nos territórios onde as unidades estão inseridas. “A nossa história está
muito ligada ao São Francisco e ao que se produz no entorno do rio. A criação
do Museu das Culturas não será apenas para guardar objetos antigos, mas
torná-lo um espaço vivo que dissemina conhecimento, dialoga com a literatura de
Guimarães Rosa e se abre para a história das comunidades ribeirinhas, os
geraizeiros e os vazanteiros”, argumenta Gildázio.
Restauração do prédio
Com a parceria do
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), a Fucam já tem
pré-projeto das necessidades de restauração do prédio de Buritizeiro,
destacando as mais imediatas como o telhado, as instalações elétricas e
hidráulicas. Houve mobilização da comunidade da região e conseguiu-se a
inserção de uma emenda popular de R$2 milhões no orçamento de 2019, destinados
ao começo da restauração do Museu das Culturas.
“O telhado é o mais
urgente. No segundo andar o piso é de madeira e não podemos colocar pessoas
para nenhuma atividade, pois todas correriam risco. Assim estamos obedecendo às
recomendações do Corpo de Bombeiros para que consigamos esperar os recursos”,
disse Gildázio.
Estrutura da Fucam em
Buritizeiro
O número total de servidores
entre efetivos, designados e terceirizados chega a 30 para realização de todas
as atividades oferecidas. O presidente relata que existe um polo de educação
integral em funcionamento com atendimento a mais de 300 estudantes de escolas
estaduais.
O trabalho é realizado em
parceria com a Secretaria de Estado de Educação (SEE) que designa 18 servidores
para atender os alunos em atividades complementares no Centro Educacional. São
oferecidos reforço escolar, iniciação musical, cursos de agroecologia e hortas.
Outra parceria também se
dá entre a Fucam e a Prefeitura de Buritizeiro beneficiando 100 alunos com
atividades complementares depois das aulas regulares. Para isso, três
servidores municipais são deslocados para o Centro Educacional de Buritizeiro.
O presidente Gildázio ratifica que a Fucam é uma instituição aberta também às famílias dos alunos com curso diversos, numa parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). São oferecidos cursos de culinária, panificação, práticas ambientais e higienização. A expectativa, segundo ele, com o Museu das Culturas é abrir ainda mais a Fucam.