Publicado em 19/10/2018 - geral - Da Redação
Adélio Bispo seria
‘velho amigo’ de membro do maior grupo criminoso do Brasil
Uma das
principais suspeitas dos investigadores, comandados pelo delegado Rodrigo
Morais, recai sobre Klayton Ramos de Souza. Membro do PCC, o “Veim”, como é
chamado pela facção, é amigo de Adélio. Os dois se conheceram em Montes Claros,
onde ambos nasceram e cresceram. Até este ano, ainda mantinham contato por meio
de redes sociais. “Veim” tem passagens por homicídio e já cumpriu pena no
Presídio Regional de Montes Claros.
Em Minas,
três unidades prisionais abrigam membros do PCC: a Nelson Hungria, em Contagem,
o Presídio Professor Jacy de Assis, em Uberlândia, e o de Montes Claros.
Atualmente, Souza vive em Campinas (SP), cidade apontada como um dos centros de
comando da facção.
A
investigação foi iniciada no começo deste mês. Antes, um outro inquérito foi
aberto no dia do atentado. Nele, a PF chegou à conclusão de que Adélio agiu
sozinho no momento do atentado, em Juiz de Fora – dezenas de imagens e
denúncias enviadas por internautas foram analisadas, inclusive com a
participação da inteligência do Exército no caso. Depois disso, uma nova
apuração foi aberta pela equipe para verificar se há, de fato, uma organização
atuando junto do criminoso.
No dia do
atentado, uma cena chamou a atenção dos investigadores. Quando Adélio chegou na
delegacia após ser preso em flagrante pela facada, o advogado Pedro Augusto de
Lima Felipe e Possa já se encontrava na unidade. Inicialmente, o criminoso
recusou ser atendido pelo jurista. Possa chegou a tentar convencer Adélio de
que havia sido enviado pela mãe do autor da facada, mas Adélio riu: a parente
faleceu em 2012. Depois, segundo testemunhas, os dois se reuniram em separado
e, então, Possa passou a atuar como defensor no caso.
A atuação
dos quatro defensores de Adélio também intriga. “É uma banca de advogados muito
cara e que tem feito uma defesa exemplar de Adélio. Até psiquiatra eles estão
bancando”, conta um interlocutor ligado à apuração. Na semana retrasada, os
quatro foram intimados pela investigação, mas nenhum compareceu.
Além de
Possa, participam da defesa Zanone Manuel de Oliveira Júnior, Marcelo Manoel da
Costa e Fernando Costa Oliveira Magalhães. O histórico de clientes de
Magalhães, aliás, é curioso e é citado na investigação. Ele defendeu, nos
últimos anos, pelo menos três membros do PCC que foram condenados em Minas:
Anderson Francisco Ferreira Pereira, André Luiz Pereira, conhecido como
“Dezinho”, e José Geraldo Soares dos Santos Júnior, o “Vá”.
O principal
defensor de Adélio é Zanone Manuel de Oliveira Júnior, conhecido por atuar em
casos de repercussão. Ele defendeu, por exemplo, Marcos Aparecido dos Santos, o
Bola, amigo do goleiro Bruno e condenado por matar Eliza Samudio. Segundo dados
da Receita Federal, o advogado é dono de duas empresas que estão na mira da
investigação: um hotel e uma locadora de veículos em Contagem. Não há indícios
de crimes nos estabelecimentos, mas esse tipo de comércio, segundo
especialistas, aparece com frequência em casos de lavagem de dinheiro.
Defensores
negam elo com o grupo
O advogado
Fernando Magalhães disse que as suspeitas são absurdas. “Os três clientes
citados nem sequer sabem da existência um do outro. Nenhum deles conhece o
Adélio, além de negarem ser integrantes de qualquer facção”, declarou.
Magalhães
negou ser advogado do PCC e afirmou que “eventualmente” pega “clientes ditos de
facção”.
Já Zanone
Júnior negou irregularidades em suas empresas. “Vão revirar minha vida de
cabeça pra baixo, porque estou advogando pra ele (Adélio)”.
Zanone
afirmou também que o não comparecimento dos advogados na PF foi por ordem da
OAB. “A intimação era para saber quem estava pagando a gente. A OAB não deixou
a gente ir, porque é um código de ética, a OAB ameaçou abrir um processo
ético-disciplinar caso a gente revelasse alguma coisa”, explicou. A reportagem
não conseguiu contato com Pedro Possa.
Versões
sobre o pagamento dos 4 advogados divergem
No dia
seguinte à prisão de Adélio, o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior viajou
até Juiz de Fora em um avião particular para participar da audiência de
custódia. A justificativa por estarem atuando no caso mudou com o tempo:
inicialmente, a equipe falava em ajuda paga por um grupo religioso de Montes
Claros. Depois, afirmaram que se tratava de uma ajuda filantrópica patrocinada
por um homem. Agora, o argumento é que utilizam o processo como “estratégia de
marketing”.
“A conduta
dos representados em não revelar o nome do contratante que se dispôs, de forma
inequivocamente suspeita, a custear a defesa de um criminoso de reconhecida
periculosidade, e que cometeu um delito de ampla repercussão social, pode
ocultar a real intenção de resguardar quem, eventualmente, pode ser o mentor intelectual,
mandante do crime ou cúmplice de um complô para assassinar um desafeto
político, e que agora busca evitar que o autor material do crime apareça”, diz
trecho de uma representação feita pelo deputado Onyx Lorenzoni (PP-RS) contra
os advogados e que consta no inquérito.
Nos últimos
meses, Bolsonaro ampliou suas falas contra o crime organizado. Ele sempre foi
crítico dos direitos humanos. A equipe da PF registrou gravações, a maioria
anteriores ao atentado, de familiares de presos da facção que fazem críticas a
Bolsonaro.