Publicado em 26/07/2019 - geral - Da Redação
Chegamos ao final dos primeiros seis meses de 2019 - e
também do semestre inaugural do governo Bolsonaro e do novo Congresso Nacional
- com evidentes resultados a comemorar. Nestes pouco mais de 180 dias,
percebe-se, claramente, a instalação no país de uma política e de uma agenda de
desenvolvimento. O saldo é positivo e se explicita por meio da concretização de
sonhos com os quais a sociedade brasileira convive há décadas. A reforma da
previdência, sem dúvida, é a mais importante das conquistas e, de fato, pode
mudar o país e ser um importante passo para conduzi-lo de volta aos trilhos do
crescimento firme e sustentável.
É preciso seguir adiante, com a participação de toda a
sociedade brasileira, unida em um Pacto Social capaz de nos levar por esse
caminho. É esta a única forma de construirmos consensos e eliminar radicalismos
que somente obstruem o diálogo e destroem a possibilidade de avançarmos. A
indústria mineira e a FIEMG não se furtarão a lutar por isso. Estamos, sempre,
a favor do Brasil.
Há avanços relevantes que precisam acontecer e pelos
quais a FIEMG e a indústria trabalham há muito tempo. Refiro-me ao
"e-Social" e "Bloco K", ambos criados nos tempos da velha
política e de um Estado excessivamente intervencionista, sob o falacioso
argumento de que é preciso aumentar cada vez mais a fiscalização sobre empresas
e cidadãos. Na prática, o e-Social e o Bloco K elevam significativamente os
custos de produzir e de viver no Brasil, corroendo a competividade das empresas
brasileiras e avançando com voracidade sobre o bolso e o orçamento das famílias
que, hoje, trabalham os cinco primeiros meses do ano - 150 dias -
exclusivamente para pagar impostos. Felizmente, neste momento, as informações
são de que o e-Social e o Bloco K estão sendo revistos e terão sua abrangência
significativamente reduzida.
Avançamos, sim, neste primeiro semestre, mas devemos ter
clara consciência de que estes são apenas os passos iniciais na longa caminhada
que temos pela frente e cujo objetivo final é adequar o tamanho do Estado ao
desejo e necessidades da sociedade. De fato, temos hoje um Estado que cresceu
desmesuradamente, hipertrofiou-se e é maior que a própria sociedade. Sua
redução passa, necessária e obrigatoriamente, pela pauta das grandes reformas
estruturais, começando pela conclusão da votação da reforma da previdência em
segundo turno na Câmara e, em seguida, no Senado, onde ainda existe a
possibilidade de inclusão de Estados e Municípios, o que é de grande
importância para o país.
Esta é uma decisão que Minas Gerais aguarda com
expectativa e esperança, pois tem a pior situação fiscal entre todos os demais
estados. O próprio governador Romeu Zema já advertiu, incontáveis vezes, que o
déficit anual da previdência dos servidores públicos mineiros chegará a R$ 18
bilhões este ano e, como é crescente, atingirá R$ 78 bilhões ao final do seu
governo, em 2022, configurando uma situação insustentável. Essa é também a
situação de parte significativa dos 853 municípios do estado, principalmente
dos maiores.
Na sequência da reforma da previdência é preciso atacar a
reforma tributária, também em regime de urgência. Neste momento, algumas
propostas estão sendo debatidas. É preciso ampliar essa discussão, para que
encontremos a melhor opção para o Brasil. Mais uma vez, o diálogo e a
construção de um pacto social para seguirmos adiante se fazem necessários. A
indústria e a FIEMG farão sua parte, mobilizando a sociedade mineira.
Hoje, o Estado brasileiro fica com cerca de 40% de toda a
riqueza produzida no país pelas empresas e cidadãos (PIB). São 34% de carga
tributária e mais 6% correspondentes ao déficit anual. Na estrutura de gastos
do governo, em razão de dispositivos constitucionais e/ou legislação ordinária,
93,7% do orçamento federal atendem a gastos obrigatórios, que em nenhuma
hipótese podem ser realocados. Neste cenário, o que sobra para investimentos -
em infraestrutura, por exemplo - é pouco ou quase nada: 0,69% do PIB (dado de
2017).
Além da exorbitante carga de impostos, a complexidade do
Sistema Tributário Nacional precisa ser enfrentada com vigor e obstinação.
Hoje, para cumprir as exigências das legislações tributária e trabalhista,
nossas empresas gastam quase seis vezes mais tempo do que suas concorrentes
latino-americanas - 1.958 horas contra 332 horas. A comparação é ainda mais
grave quando feita com empresas de países da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), cuja média é de 161 horas - 12 vezes menos
que no Brasil. Outro exemplo é a absurda quantidade de normas tributárias
editadas no país: entre outubro de 1988 e setembro 2017 foram editadas mais de
377 mil normas tributárias, o equivalente a aproximadamente 32 normas por dia,
entre federais, estaduais e municipais.
Mudar este cenário não é tarefa fácil, mas assim como ocorreu durante todo o processo de votação da reforma da previdência, quando a sociedade brasileira se uniu para aprová-la - nas ruas e no Congresso Nacional -, é preciso coesão de esforços. Líderes políticos, partidos, deputados, senadores, governadores, ministros, o presidente da República e os 221 milhões de cidadãos precisam se unir em um grande pacto para realizar as transformações necessárias. Só assim conseguiremos construir um Estado que seja do tamanho que a sociedade deseja e quer. Afinal, o Estado existe para servi-la e não para servir-se dela.
Flávio Roscoe é presidente da
Federação das Indústrias de Minas Gerais (Sistema FIEMG)