A COMEDIDA COMEMORAÇÃO DOS 121 ANOS DE BH

Publicado em 14/12/2018 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação

A COMEDIDA COMEMORAÇÃO DOS 121 ANOS DE BH

Faz dois anos que escrevi para este semanário “As cidades e seus aniversários”. A motivação foi o aniversário de Muzambinho, celebrado anualmente no dia 30 de novembro. Porém o tema era abrangente, válido para todos os municípios que gostam de festanças. Utilizei-me de meu comportamento pessoal e familiar como modelo: “Assim comemoramos aniversários na minha casa: com reflexão, sem alarido, e com amor”. Em seguida, um contraponto: “Aniversários de cidades também devem ser comemorados com nostalgia, reverência e amor”.

                 Volto hoje ao mesmo assunto motivado pelo que presenciei neste 12 de dezembro de 2018, aqui na nossa Capital, dia em que ela completou 121 anos sem que ao menos fosse um feriado municipal.

                 Embora haja relatos de que Belo Horizonte tenha sido a primeira cidade planejada do Brasil, há controvérsias neste sentido, pois, tanto pode ter sido a segunda, a terceira e até a quarta, numa discussão que envolve cidades como Petrópolis, Teresina e Aracaju. Certo é que foi fundada pelo bandeirante João Ortiz com a denominação de Arraial do Curral del Rey. Sua transformação na planejada Cidade de Minas foi determinada pelo Presidente do Estado em 1891, Augusto de Lima, que nomeou uma comissão de construção da nova capital sob a chefia do engenheiro Aarão Reis. A inauguração aconteceu em 1897, quando o governador, ainda chamado de Presidente estadual, era Chrispim Jacques Bias Fortes, família de Barbacena que ainda daria outro governador mineiro, José Francisco Bias Fortes, na década de 1950. O nome Belo Horizonte, somente viria a ser oficializado em 1901. Quanto aos motivos da implantação da nova sede do governo mineiro foram: as más condições topográficas para a expansão urbana de Ouro Preto e, dizem os historiadores, o anseio republicano de apagar o prestígio ouro-pretano, que fora uma cidade de importância e tradição no Império.

                    Porém, retomemos, a efeméride deste 12 de dezembro. Eu tive a oportunidade de vive-la desde o alvorecer, circulando de automóvel pelas suas ruas e avenidas. Foi um intenso dia de trabalho como deveria ser com as pessoas e com as cidades quando a data aprazada transcorre num dia útil. Nem vereadores esmoreceram, pelo contrário, reuniram-se e até elegeram a nova Mesa Diretora para o biênio 2019/20. Na Assembleia Legislativa, a mesma coisa: deputados trabalhando não somente na reunião ordinária da tarde, mas, em reunião extraordinária pela manhã, tentando esgotar a pauta desta legislatura que se finda. Estive em um hospital, bem como em visita a um amigo na Procuradoria de Justiça de Minas Gerais, local também sem cara de feriado. Enfim uma cidade aniversariante e tudo funcionando freneticamente.

                           Cabe, então, a pergunta: a Capital viu passar mais um ano da sua existência sem que ninguém disso se lembrasse?

                            Não! Eu me locomovi bastante pela cidade, como pude demonstrar pelos relatos das minhas andanças. O detalhe é que sempre com o rádio do veículo sintonizado nas rádios Itatiaia e Band News. Também vi os jornais televisivos locais. Em todos, a programação foi rica em detalhes da vida e da história da metrópole. Todos discutindo, entrevistando e mostrando imagens do que ela possui de melhor, seja no comércio, na indústria e na cultura. Principalmente, depoimentos de forasteiros, demonstrando o quanto eles se integraram à cidade, mormente estrangeiros, como um padre polonês, comerciantes do mercado central – uma jordaniana, um francês e brasileiros de todos os cantos. Tudo isso num dia útil, sem a necessidade do feriado. No fundo, reconhecimento, enaltecimento, uma ode à cidade. Nada de críticas, nada de frustrações ou desilusões.

                              Foi assim que me senti recompensado com o meu artigo anterior quando apregoei que podemos aniversariar comedidamente, sem o estouro de fogos de artifício, sem futilidades, sem bebedeiras nem comilanças. Sinceramente, eu já andava enfarado de tantas comemorações inúteis na nossa região, todos os anos as mesmas e tediosas encenações, palcos e cantores dispendiosos, regados com lágrimas de crocodilo de prefeitos, choramingando falta de dinheiro. Há necessidade de tanta festividade todos os anos? Não dá prá alternar, diversificar com outras atividades? Eis que BH me mostrou um lado alegre, humano e otimista, tocando a vida como se deve, trabalhando e poupando.

* Marco Regis


*O autor é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003)  -  marco.regis@hotmail.com