A COPA DO MUNDO SEM POLÍTICA

Publicado em 25/06/2010 - marco-regis-de-almeida-lima - Marco Regis de Almeida Lima

Quem não é rancoroso tira de letra a máxima cristã de perdoar setenta vezes sete. Perante adversários políticos, colegas de profissão ou mesmo pacientes, já demonstrei minha capacidade para o perdão “ad aeternum”. Talvez, nem todos tenham percebido o meu despojado gesto de reaproximação ou de desculpa. Inequívocas provas disso aconteceram aqui em Muzambinho. Há algumas pessoas que ainda constam do meu purgatório particular, à espera dessa certidão negativa, pois em tudo na vida existe um momento burocrático. O comentário acima serve para justificar ou contradizer algumas afirmações que fiz em artigos anteriores, quando escrevi “ A Copa do Mundo e Ideologias Políticas”. Especialmente quando disse que nunca torceria pelos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e outros, por motivação política.
Mas, não sendo uma pessoa rancorosa e, além de tudo, apaixonado pelo esporte,  no atual campeonato mundial de futebol, tive que separar o joio do trigo, dissociando o esporte da política. Não é que, para aqueles que bem me conhecem, aconteceu algo de inconcebível, onde acabei torcendo, em certo momento, para seleção de futebol dos Estados Unidos (EEUU). Na verdade, isto é uma prova de que a gente precisa de sensatez nas atitudes tomadas e nunca de cegueira de idéias.
O inusitado fato deu-se no jogo entre EEUU x Argélia, nesta quarta feira. Nos momentos finais deste prélio, o resultado era um empate, que acabaria desclassificando ambas as equipes, pois, simultaneamente, a Inglaterra ganhava da Slovenia por 1x0, o que daria o primeiro lugar neste grupo ao “english team” e o segundo para os seus adversários. Como eu não nutria simpatia pelos eslovenos e, mais ainda, não vira merecimento deste país em classificar-se pelo regulamento, sem ao menos empatar com os ingleses, enquanto o convincente escrete norteamericano estaria ficando fora da fase seguinte da competição. É  o que se desenhava nos minutos finais de ambos os cotejos. Nem que a Argélia – que me era simpática - fazendo um gol, a situação não mudaria, pois ela perderia para a Slovenia no critério de desempate por gols marcados, já que se igualariam na classificação por pontos e no saldo de gols. Eis que, findo o jogo dos ingleses x eslovenos, entrando o de EEUU x Argélia no período de acréscimo de mais três minutos, com a Slovenia já comemorando a sua passagem para as oitavas de final, o aguerrido craque norteamericano, Donovan, aproveita o rebote do goleiro adversário e assinala o gol que levou os EEUU para o primeiro lugar deste grupo, ficando a Inglaterra em segundo.
Realmente um feito justo pois não somente contra a Argélia, mas, também, contra a Slovenia, os EEUU tiveram gols legítimos erroneamente anulados pela arbitragem. Mais do isso, demonstrou ser um conjunto taticamente bem posicionado e um elenco aguerrido, determinado, que buscou o melhor resultado em todos os seus jogos e até o apito final dos árbitros.
Vibrei com o gol americano, quem imaginaria isso. Radicalismos à parte, eu vi ali a prevalência da justiça no esporte, justiça esta que deveria ter maior aplicação no dia a dia da nossa vida, principalmente a justiça que falta nas ações dos Estados Unidos como potência hegemônica mundial.