Publicado em 08/06/2018 e atualizado em 08/06/2018 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Com a força de uma onda gigante e
avassaladora aconteceu a terceira greve dos caminhoneiros brasileiros. A
primeira, em fevereiro de 2015, estremeceu os pilares do comecinho do 2º
mandato de Dilma Roussef, que tomara posse pouco mais de um mês antes, na
presidência do País. A segunda, sem muita coordenação e com muitos oportunistas
infiltrados, deu-se em novembro daquele mesmo ano, “também não se constituiu
num fiasco, porquanto repercutiu entre nós e produziu danos econômicos”,
conforme trecho extraído de meu artigo, neste mesmo jornal, no dia 13 de
novembro de 2015.
Em síntese, podemos concluir que os
três movimentos demonstraram características comuns, quais sejam: (1) a equivocada
opção e dependência brasileira pelo modal rodoviário, em detrimento do
ferroviário e do aquaviário; (2) o poder de mobilização dos caminhoneiros
através das novas tecnologias e o foco das suas reivindicações em torno senão do
barateamento do óleo diesel pelo menos da parcimônia dos seus reajustes, das
cobranças abusivas dos pedágios e o estabelecimento de uma tabela mínima de
fretes; (3) o desvirtuamento dos três movimentos grevistas pela presença
violenta de infiltrados políticos da direita cujos objetivos ultrapassavam os
justos limites dos caminhoneiros, incitando a uma ruptura democrática através
das escancaradas pregações de “intervenção militar já”; (4) o duplo papel das
grandes empresas transportadoras na greve, ajudando com a paralisação das suas
frotas e seus motoristas, até com suprimento de alimentação, mas com fins diversificados
tanto da obtenção de vantagens nas reivindicações a respeito de pedágio e preço
do diesel, mas outros, notórios golpistas e simpatizantes do “impeachment” de
Dilma e da deposição de Michel Temer; (5) por fim, a ausência das bandeiras
vermelhas que simbolizam não somente a maioria das entidades sindicais, mas, a
própria esquerda, justamente porque nas duas primeiras oportunidades se
contrapunham ao golpismo contra o governo petista e, nesta última, apesar da
simpatia pelos caminhoneiros autônomos temiam a incômoda presença desses
eternos golpistas.
Também, na repercussão da greve, parece
que uma constatação tornou-se quase que unânime: o definhamento do governo de
Michel Temer que sonhava na realização de 20 anos em 2, numa tentativa barata
de imitação do notável mineiro – e irredutível democrata que sempre deu provas
disso – Juscelino Kubitscheck de Oliveira, que idealizou e cumpriu 50 anos em
5, cuja marca maior foi construir Brasília no ermo do planalto central
brasileiro, dentro do seu mandato presidencial. Pois, exemplo disso eu vi,
assistindo o ‘Painel Globo News’, na madrugada do último sábado para domingo,
apresentado pela inteligente Natuza Néri, na presença de três cientistas políticos,
todos unânimes em afirmarem e repetirem que “o governo Michel Temer acabou,
morreu”. Se na Globo falaram isso, o que dizer dos “inferiores”.
Então, questiono: se esse governo
corrupto felizmente morreu, que moral ou autoridade tem de falar em vender o
patrimônio público brasileiro, mormente setores estratégicos como a Eletrobrás
e seu conjunto de hidrelétricas ou mesmo a Petrobrás? Vejam que nem Fernando
Henrique Cardoso, com todo o seu prestígio conseguiu esse intento. Depois da
greve, a substituição na Petrobrás do ressuscitado neoliberal, Pedro Parente,
por um seguidor da mesma cartilha, Ivan Monteiro, foi trocar seis por meia
dúzia.
Aliás, com toda a corrupção havida,
mas desbaratada, na nossa estatal petrolífera, ela continua a ser um trunfo
para o Brasil, devendo sim baratear a nossa gasolina, o nosso diesel, o nosso
gás de cozinha e mandar à “PQP” os seus investidores, ou melhor, os seus
especuladores. Vejo como abominável uma parcela da sociedade brasileira se referir
à Petrobrás como subordinada ao “deus mercado” e não vê-la a serviço do nosso
povo, praticando preços por nós estabelecidos e não aqueles que querem seus
investidores/especuladores. Além disso, seria de bom alvitre que o nosso
álcool/etanol ganhasse os postos de revenda indo diretamente das usinas para os
mesmos. Também, não há lógica que, num momento de crise como este, em que o
acordo com os caminhoneiros faz com que o diesel possa ser reduzido em 46
centavos para o consumidor, venha o Tesouro Nacional a se comprometer a
reembolsar em torno de 10 bilhões de reais à Petrobrás para satisfazer a essa
rapinagem internacional à custa da diminuição de dinheiro para a Saúde,
Educação, Assistência Social e, quem sabe até os quase R$5,00 que vão ser
surrupiados mensalmente do salário dos mínimo, quer dizer, dos mais pobres, mês
a mês, no ano que vem.
A greve poderia ter sido evitada
por esse governo moribundo e incompetente se não tivesse subestimado e ignorado
os anúncios grevistas um mês antes e o último do dia 21 de maio. Faltou
sensibilidade e diálogo. O que se poderia esperar de um governo que coloca como
Ministro-Chefe da Casa Civil, e porta-voz mais próximo do Presidente, o
deputado federal Carlos Marun, um capanga do ex-presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, preso no xilindró de Curitiba há quase dois anos?
Contaminada por golpistas
reacionários, mesmo assim a greve foi vitoriosa. Serviu, ainda, para demonstrar
que não apenas socialistas, comunistas e “vermelhos” fazem greve e prejudicam
as pessoas. Aliás, os egoístas, que vivem isolados em seus castelos recheados
de conforto, se sentem sempre prejudicados, nunca entendendo os que lutam e se
sacrificam pela coletividade. A classe dos caminhoneiros se uniu e mostrou que
é capaz. Ficou claro que greve não é causa ruim de comunista, que é um direito
garantido pela nossa Constituição, a Lei Magna. Mas, que faltou o charme e a
chama das bandeiras vermelhas, isso faltou.
*Marco Regis - O autor é médico, foi prefeito de Muzambinho
(1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003) - marco.regis@hotmail.com