Há cerca de um mês, em matéria publicada neste semanário, o atual prefeito de Muzambinho fez uma comparação que poderia apresentar três possibilidades: uma delas, ser uma piada de um humorista de terceira categoria; outra, que fosse um delírio à moda de Tarso, personagem da recém-acabada novela de TV Caminho das Indias; finalmente, o que poderia ser mais grave, porque desonesta, a aplicação da frase de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, que dizia que uma mentira contada mil vezes acaba passando por verdade.
Pior, pois acabo ficando com esta última hipótese, utilizando-me de uma inteligente percepção de um servidor municipal, de mediana escolaridade, que avaliava que a primeira gestão do Dr. Sérgio Arlindo Cerávolo Paoliello não passara de uma “administração de marketing”. Houve, claro, algumas conquistas, como tem acontecido com as demais que têm administrado Muzambinho nos últimos 30 anos, mas ela foi uma administração muito mais de propaganda. A frase do ex e atual prefeito, estampada nas páginas deste semanário, dizia que “ em oito meses a atual administração fez mais do que a anterior em quatro anos”.
Esta coluna não é o espaço apropriado para prestações de contas, mas fico comprometido a editar, transcorrido um período de carência, no qual me propus ficar calado, como elemento da oposição, uma ou mais edições de um jornal em que eu tenha oportunidade de falar certas verdades, de minha total responsabilidade, não traindo o editor de “A Folha Regional”, que convidou-me para escrever uma coluna semanal, certamente para assuntos mais nobres e não para futriquinhas paroquiais. Além do mais, preciso apresentar documentos, como os das transmissões de cargo dele para mim (2004/2005) e meu pra ele (2008/2009), a fim de que se veja quem é quem. Desse modo, com as assinaturas dele e minha, da tesouraria e da contabilidade, poderei comprovar que recebi uma prefeitura com dívidas, não redonda como afirmavam, e, de fato, passei-a com as contas em dia, com um saldo de R$ 1.622.000,oo. O resto é blá-blá-blá da mentira, rezada na cartilha da chefia pelo “cordão dos puxa-sacos”.
Entretanto, para que os leitores não pensem que também esteja eu no nhe-nhe-nhem, vou oferecer, por enquanto, apenas um argumento como desafio para que, futuramente, possam comparar não os tais 8 meses contra 4 anos, mas os 4 anos contra 4 anos, pois não dá para se comparar quantidades desiguais. Refiro-me à construção de 186 casas na cidade, um investimento palpável de R$ 3,2 milhões, realizado pela COHAB-MG, que fez nascer um novo bairro e não apenas a esperança da primeira administração do Dr. Sérgio, que ficou com o terreno na mão durante todo o seu mandato e nem o transformou em área urbana, adquirido que fora em zona rural pelo seu antecessor, o prefeito Nilson Bortoloti. Este empreendimento, consolidado na segunda metade da minha gestão, foi cumprido dentro das exigências do governo mineiro, não a toque de caixa como já insinuaram aqui pelo jornal, pois a pavimentação das ruas ficaria “a posteriori”, sem datas ou compromissos para a sua realização nem por parte do governo municipal de hoje. Afinal de contas, temos que nos lembrar que pouquíssimas cidades brasileiras nasceram prontas. Vejam que aqui em Muzambinho o calçamento da Av. Dr.Américo Luz, somente foi feito em 1956, pelo prefeito Domingos Mazzilli, quando a cidade já completava 76 anos de vida. Também, o calçamento do tradicional bairro Brejo Alegre, executado na minha primeira administração, na década de l990, quando a cidade já tinha mais de 100 anos. Importante é de se realçar que o Jardim dos Imigrantes / COHAB não somente significou teto para l86 famílias - que é o mais importante -, também significou geração de emprego e renda no município, através de postos de trabalho criados durante um ano, pois empregou pedreiros, serventes, pintores, eletricistas, encanadores, vidraceiros, vigilantes e, até, um engenheiro local, além da contratação de serviços de empresas locais.
Enfim, essas escaramuças são próprias da política. Seriam até saudáveis não fossem influenciadas por escamoteações e manipulações de dados que tentam valorizar uns e menosprezar outros. Particularmente, sempre busquei demonstrar sinceridade, governando com a História. Isto não quer dizer que muitas vezes, como diz o ditado, “como a coruja gabei o próprio toco”, pois, também sou humano e tenho minhas pontas de vaidade. No Brasil, até virou repetição do humor, certa frase dita pelo presidente Lula de que “nunca antes na história deste País” fizeram isto ou aquilo. Algumas vezes ele tem razão, outras vezes são meros arroubos comparativos, embora eu seja um defensor do seu governo. No plano mundial, acompanhamos os oito anos do governo Bush, que se julgava um enviado divino e guardião de valores cristãos, cometendo todos os tipos de atrocidades humanas em nome disso, como no massacre iraquiano e no tratamento dos presos políticos afegãos na adaptada prisão da base militar de Guantanamo.
Todos nós precisamos buscar o discernimento e a responsabilidade no trato destas questões. Muitas vezes a cegueira está nos próprios líderes que abusam do poder já nas comemorações por lá chegarem, criando feridas que não se cicatrizarão e que irão manter a pútridas chagas da rivalidade política.
As recentes ditaduras no Cone Sul, principalmente no Chile e na Argentina foram sanguinárias e monstruosas, deixando sequelas. Remotamente, na Idade Média, a Inquisição, certo tipo de intolerância religiosa ligada ao Estado, alcançou vários reinos ou países, torturando, perseguindo e matando aos milhares. No Papado de João Paulo II ele veio pedir desculpas ao mundo por este período de trevas. As ditaduras havidas no Brasil, aparentemente mais suaves que em outras partes do mundo, geraram torturas, mortos e desaparecidos, que até hoje conservam sofrimentos em milhares de pessoas, quer vítimas da Ditadura Vargas ou da Ditadura Militar.
Em nosso País, tivemos avanços consideráveis na convivência entre facções políticas, pois, em passado não muito distante, a solução se dava com pancadarias, tiros ou facadas. Lembremos que em Muzambinho, até o final dos anos 60, do século passado, digladiavam os tucanos da UDN e os pica-paus do PSD, cada um deles tendo o seu próprio clube social para a realização de eventos que eram, respectivamente, o Clube Recreativo e o Automóvel Clube. Nessa mesma época, já houvera o assassinato do Prof. Saint Clair no ginásio estadual. Em Monte Belo, em l2 de outubro de l962, nove dias depois das eleições municipais, por conta de insensatez política, um inocente de l4 anos, Paulo Henrique de Almeida, morreu com um tiro na cabeça. Em Juruaia, em 1988, alguns foram baleados no distrito da Mata do Sino por conta de uma inoportuna carreata comemorativa, dias depois de proclamado o resultado das urnas. Nesse mesmo ano, eu me elegera prefeito de Muzambinho pela primeira vez, quebrando uma tradição política centenária, e procurei conter meus correligionários quase que os proibindo de espoucar rojões e outros fogos de artifício para não causar melindres nos vencidos. Mais do que isso, procuramos exaltar nossas realizações, sem tripudiar sobre a anterior como, de maneira infeliz, o fez agora o Prefeito de Muzambinho na sua delirante comparação.
Há pessoas que pregam a união aqui na nossa cidade, porém elas próprias são mensageiras das mesmas mesquinharias que, hipocritamente, fingem combater. Por razões inerentes à pessoa humana e à disputa de poder, dificilmente se chegará a essa união. Aliás, pelas mesmas razões há oposição. Não devemos alimentar falsas idéias de união política. Mas, cabe a cada um de nós o empenho para tornarmos cada etapa de tudo isso mais humana e mais civilizada, mesmo que as trombetas possam estar anunciando as proximidades do Apocalípse.