A interminável guerra no trânsito

Publicado em 09/11/2009 - marco-regis-de-almeida-lima - Marco Regis de Almeida Lima

Não se trata de chover no molhado nem repetitivo. Falar de acidentes no trânsito em nosso país e no mundo é tanto uma questão educativa como uma abordagem de saúde pública. Não somos nós que temos tais pretensões, mas, autoridades governamentais e, acima de tudo, a própria OMS – Organização Mundial de Saúde – e o seu Escritório Regional das Américas, a OPAS – Organização Panamericana da Saúde. Afinal de contas, anualmente, mais de um milhão de pessoas morrem por essa causa em todo o mundo, sobretudo nos países mais pobres e naqueles em desenvolvimento. Nesse mesmo período, outros 30 a 40 milhões de pessoas ficam feridas por essa razão, sendo considerável o número de mutilados. Segundo o Portal Último Segundo, da bbcbrasil.com, de 05/09/2009, pesquisadores australianos, ingleses e suíços, a serviço da OMS, dão conta que os acidentes de trânsito constituem a maior causa de mortes de crianças e jovens entre 10 e 24 anos. A revista médica The Lancet que trata deste assunto diz que nessa faixa etária morrem todos os anos 2.600.000 jovens, sendo deste total 10% de acidentes de trânsito, 6,3% de outros tipos de violência e 6% de suicídios. São números deveras assustadores. Levantamento da mesma OMS da conta de que as mortes no trânsito superam as das mais sangrentas guerras existentes e mais as dos conflitos regionais, em cada ano focado.
No Brasil, estatísticas oficiais subestimadas dão conta de uma média anual de 20.000 mortos, que a imprensa e outras entidades falam em 40.000 mortos e uns 500.000 a 800.000 feridos. Na verdade tais números oficiais dizem respeito aos mortos nos locais dos acidentes, sendo que é alto o número de socorridos que vai morrer a caminho dos hospitais, ou neles, até muitos dias depois de acidentados. Assim sendo, as estatísticas de um lado e de outro acabam sendo corretas. Até porque a FENASEG – Federação Nacional das Empresas de Seguro Privado indenizaria 40.000 mortes anuais em nosso País, com base no seguro obrigatório de veículos automotores.
Em todo o mundo, o erro humano é responsável por 90% dos acidentes registrados.  De todos os fatores determinantes para as causas humanas temos que apontar o excesso de velocidade; o uso do álcool ou de substâncias entorpecentes; e o desrespeito às leis de trânsito, onde sempre são destacados o excesso de velocidade combinado ou não com as ultrapassagens proibidas. Em nosso meio, conforme citado na fonte www.bauru.unesp.br, ainda temos a considerar a sensação de impunidade quanto à própria legislação de trânsito ou da justiça; o caráter pecuniário muito mais voraz na cobrança de multas do que um papel efetivamente educativo; o exercício fiscalizador corrupto que muitas vezes acontece; o baixo nível cultural e social; a posse do veículo como um instrumento de poder; a prevalência de uma sociedade individualista com menor visão comunitária; e, o que tem se tornado muito comum nesta sociedade capitalista dos tempos atuais – a baixa  valorização  da  vida.
De acordo com o IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, os custos anuais dos acidentes de trânsito, no Brasil, tem sido crescentes, chegando aos R$ 22 bilhões por ano, conforme divulgação de 27/05/2008, onde devemos considerar as despesas médico-hospitalares, os benefícios da previdência social, as perdas materiais, as perdas em produção, as despesas com seguros e os custos legais. Quase sempre é o governo quem banca os custos mais altos dos primeiros atendimentos, ficando grande parte dos planos de saúde devedora do ressarcimento desses gastos governamentais.
Frequentemente, “A Folha Regional” mostra para os seus leitores os acidentes que ocorrem em nossa região, muitas vezes atingindo parentes, amigos ou conhecidos nossos, numa tentativa de alertar-nos que os perigos e a morte estão mais próximos de nós nas estradas. Mas, muitos não atentam para isso porque já foram condicionados pela vida moderna para a banalização da violência e da morte, vendo tudo como meras estatísticas que lhes parecem tão distantes. Vejam que apesar do trabalho e do empenho das polícias rodoviárias federal e estaduais (PRF / PREs.),  os dados divulgados após os feriados prolongados parecem dissipar o perigo como agora, depois do Feriadão de Finados, onde lemos num diário de Belo Horizonte o seguinte texto: “os acidentes nas estradas federais e estaduais em Minas Gerais mataram menos nesse feriado prolongado de Finados do que no recesso de 12 de Outubro”. Sabem os valores desses números só dos mortos ? Feriadão de l2 de Outubro: 36; Feriadão de Finados: 21. Diferença considerável, mas envolvendo inúmeros outros fatores, além, é claro, de duas dezenas de mortes. Portanto, até a publicidade das estatísticas acima parece  tirar o temor dos eternos imprudentes, que irão continuar velozes e ultrapassando em faixas contínuas e até pelo acostamento. Uma típica Vitória de Pirro, como diria o nosso colega Vonzico.
Particularmente, somente enxergamos uma vitória a longo prazo, quando vencermos muitos dos fatores acima dissecados e quando nossas crianças estiverem bem formadas em uma disciplina de trânsito e quando for bem interpretada a assertiva que encontramos em nossa viagem pela internet: “A EDUCAÇÃO É O INSTRUMENTO CAPAZ DE FORMAR CIDADÃOS MAIS CONSCIENTES E PREPARADOS PARA ENFRENTAREM A VIDA E O TRÂNSITO”.

* Marco Regis de Almeida Lima é médico e exerceu os cargos de prefeito de Muzambinho (1989/92 e 2005/08) e deputado estadual – MG (1995/98 e 1999/2002)