“A unanimidade é burra”

Publicado em 21/07/2009 - marco-regis-de-almeida-lima - Marco Regis de Almeida Lima

Diz o bordão popular que “política, religião e futebol não se discute”.Em cima dele há outro que afirma: “a voz do povo é voz de Deus”.Mas ainda há outro que relativiza este segundo quando diz: “Cada um puxa a sardinha para seu prato”. Adágios, bordões ou provérbios são expressões de poucas palavras que traduzem a alma popular.Se procurássemos mais entende-los do que ignorá-los veríamos a vida como ela é,  não como gostaríamos que ela fosse. Temos no esporte, especificamente o futebol, um exemplo quentíssimo, saído do forno, Eis que os meios de comunicação do Brasil se concentravam em Belo Horizonte, nesta quarta-feira para a cobertura da final da Copa Libertadores da América, onde uma equipe nossa, o Cruzeiro, enfrentaria o Estudiantes, representando um país com o qual brasileiros de todos os quadrantes mantêm a maior rivalidade.Nas chamadas e nos comentários das emissoras de rádio e televisão, antes do jogo, havia um forte apelo nacionalista.Galvão Bueno, respeitado ícone esportivo da nossas maior rede televisiva, era repetitivo: “Belo Horizonte hoje é azul, é Cruzeiro ,é o  Brasil”. Na verdade, um apelo da boca pra fora, porque a própria emissora não estava valorizando uma decisiva  partida internacional entre argentinos e brasileiros, pois os telespectadores de São Paulo estavam recebendo as imagens de Flamengo x Palmeiras e os do Rio de Janeiro de Internacional x Fluminense.Ao final da, até certo ponto inesperada,   derrota cruzeirense e quarta conquista continental da equipe de La Plata, a capital mineira virou um cenário de barulho de buzinas e foguetes comemorando a vitória do Estudiantes.Quem fez isso? Certamente que não foi a pequena torcida estrangeira que acompanhou seu time nessa épica jornada; nem os derrotados que azularam o Mineirão. Mas, foram os próprios brasileiros do Atlético Mineiro, maiores rivais do clube celeste que não poderiam perder maior oportunidade de desdenhar o rival, saindo de suas tocas para a inusitada comemoração.
Na política não é diferente.  A facção vitoriosa assume o poder com o deslumbramento de quem ganha e pensa que tem fórmulas mágicas para resolver todos os problemas de um município, de um estado ou de um país.  Dependendo das condições econômicas e culturais de cada um deles, tais problemas irão ser maiores do que as soluções, mais cedo ou mais tarde. Até porque o ser humano é egocêntrico e insaciável. Está voltado para seu umbigo e muito pouco  para a coletividade. Se ele vislumbra tirar proveito do poder e não é dotado de sólido senso moral ;  se é alienado político ou mesmo, presumivelmente, engajado, sempre tem escondida uma pretensão que o leva a ter preferências e a puxar a sardinha para seu prato.   Não vai adiantar que os Galvões Bueno tentem convencê-los a adotar um posicionamento porque percebe falta de sinceridade nisso, persistindo a divisão.
Na religião, essa analise é mais delicada, pois envolve crenças pessoais e institucionais sobre as quais um  simples artigo como este não tem o direito de interferir.  Entretanto, não se pode ignorar que em nome dela muitas ações nefandas, com interesses ocultos, tem produzido perseguições, torturas e mortes, desde que o dês que o mundo é mundo. Mas, aqui é melhor obedecer o ditado popular do inicio deste texto. Para não causarmos melindres, vamos ser razoáveis, pois  “em boca de siri não entra mosquito”.
A vida é mesmo uma eterna polêmica, prevalecendo a multiplicidade de pensamentos e comportamentos.Nem  pensar no pensamento único dos déspotas!.Por isso, já filosofava Nelson Rodrigues, em época não muito distante, que “ a unanimidade é burra”.
Diante de tanta divergência, de tanto achismo, a maioria das pessoas fica mais confortável em cima do muro.Ou guarda consigo o que pensa.Na hora de opinar ou de decidir fica sempre dividido, seduzido pela frase da malandragem brasileira: “ gosto das loiras mas prefiro as morenas”.Na minha opinião, há falta de personalidade, de educação, de cultura, de moral e de ética, pois tudo é visto com muita superficialidade e interesse próprio.

* Marco Regis de Almeida Lima é  médico e exerceu os cargos de prefeito de Muzambinho (1989/92 e 2005/08) e deputado estadual – MG (1995/98 e 1999/2002)