AS DROGAS E A FRASE “YANKEES GO HOME”

Publicado em 30/04/2010 - marco-regis-de-almeida-lima - Marco Regis de Almeida Lima

A expressão inglesa,  que encima este texto, é um velho jargão dos tempos da Guerra Fria, utilizado universalmente por aqueles que possuíam ojeriza à habitual intromissão dos Estados Unidos da América nas fronteiras alheias. Significava uma exortação à saída  dos americanos onde metiam os bedelhos sem serem chamados. Literalmente: “fora ianques”.  Todos nós embarcamos na nave da esperança simbolizada pela assunção de Barack Obama ao supremo poder da nação norteamericana. Por mais que enxergássemos as peias que o atavam às grandes corporações, que lhe doaram bilhões de dólares para a sua bem-sucedida campanha política presidencial, depositávamos – e ainda depositamos – confiança num homem como ele, que sintetiza todas as origens de um verdadeiro cidadão terrestre. Afinal de contas, ele é o presidente da América; nascido no arquipélago do Hawai, na Oceania; filho de pai de descendência africana e mãe européia; e que viveu na Indonésia com o padrasto asiático.No entanto, seríamos ingênuos se crêssemos que Obama faria um governo de radicais transformações na política externa do seu país. Preponderantes são as amarras que o elegeram e a própria cultura do seu povo. Por isso, não há que se falar em decepção.

Dentro dessa linha de raciocínio, também não temos que estranhar que o Brasil venha tendo alguns embates com os Estados Unidos, porque o governo Lula não veio para submissão a eles. Isto ficou claro na evolução da crise de Honduras, na questão dos subsídios aos produtores de algodão norteamericanos e nas nossas relações com o Irã. Agora, surge mais um ponto de divergência que, nesta semana, deve ter sido tratado às portas fechadas durante conferência internacional antidrogas, que aconteceu no Rio. Todos sabemos que os Estados Unidos representam o maior mercado consumidor de drogas no mundo, embora enfatize uma ação prioritariamente repressiva no seu combate. Por outro lado, o Japão tem mantido o consumo de drogas em patamares aceitáveis por meio de um obstinado trabalho preventivo, ou seja educativo. Ouvimos isso do notável professor Elias Murad, um estudioso das drogas e que exerceu mandatos como deputado federal por Minas Gerais, quando tivemos o privilégio de ser um dos deputados da CPI , mineira do narcotráfico. Em virtude dos usuários de drogas estadunidenses serem abastecidos por produtores sulamericanos, como Bolívia, Peru e Colômbia, existe um conceito corrente naquele país de que quem se encontra no hemisfério norte é a vítima no contexto das drogas. Assim sendo, existe por lá uma opinião majoritária pela militarização da questão. Neste sentido já implantam bases militares na Colômbia, pretendendo estende-las para  países como o Paraguai e outros. Daí, o caldo tem entornado porque a vizinhança colombiana julga que tais bases militares seriam, na verdade, pretexto para intervenção armada em desafetos como a Venezuela e, principalmente, com objetivos imperialistas de dominação da Amazônia. O Brasil, que também faz coro com tais sentimentos, argumenta ainda mais: nós também somos vítimas de drogas sintéticas fabricadas no hemisfério norte, como na Europa e no Canadá, haja vista as grandes apreensões de comprimidos de ecstasy feitas pela polícia brasileira. Somente em 2008 foram mais de 160.000 comprimidos apreendidos. Pelo pouco que pudemos assimilar durante a nossa referida passagem pela CPI mineira do narcotráfico, o ponto crucial seria mesmo educativo. O  delegado de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, Osvaldo Varella, na ocasião, também nos ensinou que: “ A prevenção é sumamente importante porque se diz que  o traficante é o peixe, e o viciado a água, e, se secarmos a água matamos o peixe”, em alusão à imperiosa necessidade de redução dos usuários. Depois, outro ponto estratégico seria a descapitalizacão dos chefões do tráfico, pois eles precisam do dinheiro para a compra do produto, de armas e da logística da distribuição. Por isso, existe toda uma mobilização de autoridades policiais, políticas, do ministério público e do judiciário no sentido do aprimoramento de leis que combatam a lavagem de dinheiro, mecanismo  pelo qual o tráfico de drogas, que é um dos vários braços do crime organizado, engorda as suas contas bancárias. Outra importante figura, que nos demonstrou a enorme importância do papel preventivo, foi o Dr. Getúlio Bezerra dos Santos, também delegado de repressão a entorpecentes da Polícia Federal, que na época também nos sinalizou com a seguinte assertiva: “...o controle das drogas não é um processo só de repressão , há todo um aspecto de prevenção, de fiscalização e, principalmente, de educação”. Mediante a visão das nossas autoridades, temos de ficar ariscos diante dessa lorota de implantação de bases militares dos Estados Unidos, a pretexto do combate ao narcotráfico. O governo Lula está com a razão, sendo melhor observar a procissão, que anda devagar porque no andor está o santo, que é de barro. Mas, deveríamos, neste caso, ser mais enfáticos, desfraldando nossas velhas faixas mofadas com a palavra de ordem “yankees go home”.