Publicado em 16/11/2014 e atualizado em 16/11/2014 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
* MARCO REGIS
Em 22 de março de 2010, este semanário publicou artigo de nossa autoria sob o título: “O Prefeito Mazzilli e o Legado das Pedras Preciosas”, que os leitores que se interessarem poderão rever, clicando o meu nome que aparece do lado direito dentre ‘Colunistas’, buscando, em seguida, o referido título (www.afolharegional.com). Trata-se de texto em que condeno jogar asfalto nas ruas de paralelepípedos de Muzambinho, onde me solidarizo com o que escreveu neste mesmo jornal, no dia 9 do mesmo mês e ano, o gabaritado professor universitário, administrador e publicitário, Helder de Melo Morais. Faço este retrospecto, com o intuito de demonstrar posicionamento coerente, diante das notícias publicadas do último mês de outubro para cá, por esta mesma “Folha”, acerca da substituição de paralelepípedos e bloquetes por asfalto na nossa vizinha Juruaia, cujo contraponto passo a fazer.
Minha intenção primordial é a discussão em nível ambiental e de mobilidade; jamais de imiscuir-me nas questões políticas juruaienses mesmo que eu ostente o honroso galardão de cidadão honorário desse Município.
Não devemos imputar somente a Juruaia o sacrilégio desta ação substitutiva, porque outra infinidade de comunidades brasileiras o fez e o faz. Observem que estamos tratando da substituição de pavimentação, ou seja, daquilo que está pronto, e não indo ao extremo de preconizar ruas de terra para melhor sintonia com a Natureza.
Na década de 1990, repercutiu muito na imprensa nacional, escrita e televisiva, a atitude repulsiva de se asfaltar o calçamento da histórica São João Del Rei (MG), tomada por um prefeito aparentemente progressista, na verdade um populista de pouca escolaridade e com nenhum compromisso com o que representa aquela cidade para a História mineira e brasileira. Também, em 7-10-2011, o jornal “Bom Dia”, diário do Médio Piracicaba, editado em João Monlevade (MG), criticava a mesma prática na cidade. Muita gente mais protesta contra o asfalto nos calçamentos, até pelo que já foi feito em nome do tal de progresso. É só dar uma navegadinha pela internet.Vejamos no S!P - Chega de Demolir (www.chega-de-demolir.blogspot.com.br/2010/10/os-paralelepípedos-sumiram/html): “Recentemente, apreciei o livro de Aurélio Becherini e observei que o nosso Centro (de São Paulo) era todo pavimentado de paralelepípedos. Era? Não! O centro continua pavimentado de pedras, porém, todas as ruas de pedras foram escondidas em camadas e mais camadas de asfalto...Não só enterraram uma parte da nossa história, como quilômetros e mais quilômetros de trilhos que serviram para as antigas linhas de bondes...”. Enquanto eu matutava em que fim as cidades dão às pedras extirpadas, pois seria uma incoerência recolocá-las em outro lugar, pois se não servem para pavimentar aqui não podem servir para acolá, encontrei fulminante resposta: na cidade gaúcha de Vacaria, em agosto de 2013, o vereador Osni José Domingues (PP) teve indicação aprovada no sentido de que “o Executivo reutilize em outro lugar os paralelepípedos das ruas que receberão asfalto”. No blog “Cão Uivador”, Rodrigo Cardia, graduado em História pela UFRS, escreve o tema, em 29-1-2014, “Pelo ‘desasfaltamento’ de Porto Alegre”, inspirado nos paralelepípedos que afloram com o desgaste do asfalto.
Nessa troca desnecessária, a meu ver, do calçamento pelo asfalto em Juruaia, o que aumentou a minha indignação foi o patrocínio do governo tucano de Minas Gerais, que alocou recursos de R$398 mil, conforme consta do noticiário, que poderiam ter sido destinados para áreas de maior necessidade no mesmo Município. Em contraposição a isso, transcrevo de um Manual de Apresentação de Propostas de 2008, que guardei do meu segundo mandato de prefeito de Muzambinho, editado pelo Ministério das Cidades/ Programa Pró-Municípios, que no item 10.2.2, diz: “Devem ser viabilizadas, sempre que possível, soluções alternativas à utilização de asfalto, tais como bloquetes ou pedras, que, além de favorecer maior segurança no trânsito e escoamento de águas pluviais, apresentam menores custos de execução e manutenção”.
“É ruim para os carros, andar em ruas de paralelepípedos”, dirá algum motorista irritado. A pergunta e a resposta estão na página do blogueiro Uivador: “Ruim não, é bom! Pois o calçamento ajuda a inibir as altas velocidades, ajuda no escoamento das águas das chuvas e diminui o calor”. Mas, vou acrescer muitos outros motivos que os entendidos, e não eu um simples escrevente, dão contra o asfalto: (1) pela Física, material negro absorve radiação, por conseguinte, gera calor; (2) a vida útil do asfalto é menor do que pavimentos de bloquete em 1/1000, um milionésimo (em certas épocas, nem sempre a Prefeitura vai ter dinheiro ou o Governo do lado para recapear os buracos do desgaste natural, também os buracos provocados pelas redes de água e esgotos); (3) menor custo de colocação e manutenção; (4) o asfalto impermeabiliza o solo e, ao invés da água da chuva ter por onde se infiltrar, como nos calçamentos de pedras ou bloquetes, ela corre com mais força, arrastando toda a sujeira da rua, poluindo os rios; (5) nas junções das pedras ou bloquetes cresce uma vegetação útil, que facilita a infiltração da água da chuva no solo (recarregando o lençol freático), que realiza fotossíntese (tirando gás carbônico do meio ambiente) e que retém partículas coloidais poluentes aos cursos d’água; (6) o material de desgaste do piso asfáltico é carreado para os córregos e rios pela enxurrada, causando poluição e assoreamento; (7) a parte inorgânica desse material, formada de pedrisco, brita e areia, provoca desgaste no interior das tubulações por onde corre, geralmente tubos de concreto; (8) o asfalto aumenta a velocidade de tráfego de bicicletas, motos, automóveis e outros veículos e, por conseguinte, aumenta o número de acidentes (então, quem aprecia o bonito visual do asfalto logo verá a grosseria dos quebra-molas).
A grande vantagem que vemos no asfaltamento de uma rua, em comparação com o calçamento com pedras ou bloquetes, é a rapidez como se asfalta. Entretanto, a durabilidade – quase que a eternidade -, além da crucial questão ambiental dos nossos tempos, pesa favoravelmente às rochas naturais ou aos artefatos de cimento. Em setores onde o conhecimento tem maior influência do que a política, a opção fica quase sempre com o ambiental e com o durável. Observem que o ‘campus’ Muzambinho, do Instituto Federal Sul de Minas Gerais, acaba de executar a duplicação de seu acesso ao trevo da BR-491, pavimentando cerca de seis mil metros quadrados da pista com bloquetes. Segundo o arquiteto da área responsável pela obra, Dr.Gregório Barroso de Oliveira, esta opção partiu tanto da Direção como da Área Técnica, visando manter um padrão anterior e o que ele mais ressaltou: a facilidade de manutenção.
Por que será que cidades famosas, de países mais antigos e mais ricos do que o Brasil, conservam ruas de pedras ou bloquetes ? Eu não sou a melhor pessoa para citá-las, porque nunca estive por lá, nunca tive pretensão de viajar “pro estrangeiro”, nunca tirei passaporte e nem ao menos o Paraguai dos sacoleiros conheço. Mas, sempre fui apaixonado por Geografia e História. Viajei, sim, pelos livros didáticos, pelos livros em geral, pelos jornais, revistas, inclusive pelo “Almanaque Abril”, hoje pela internet. Mas sei que Paris, Praga, Quebéc e outras têm muitas ruas que nunca foram mutiladas na troca pelo asfalto nem os seus paralelepípedos maculados de piche. Aqui, no nosso cantinho regional, temos Guaxupé e Muzambinho que, a despeito de não serem Capital de nada, resistem em trocar suas antigas ruas de paralelepípedos por asfalto, embora nelas sempre haja aqueles que acham que a sua vida, o seu momento ou o seu umbigo sejam mais importantes do que a cidade com a sua história.
*O autor é médico, tendo sido Prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e Deputado Estadual/MG (1995/98; 1999/2003)