Há
coisa de um mês, no espaço público de um banco estatal aqui em Muzambinho,
conversava eu com um amigo residente em uma comunidade rural, quando alegrei-me
por também encontrar um velho amigo aqui da cidade, mas morador da Capital
paulista de várias décadas. Em dado momento daquele papo ocasional e fugaz, certamente
que documentado pelas câmeras de vigilância da agência bancária, e sem áudio
que constatasse o nosso diálogo, o meu amigo sitiante, interpela o outro, um
administrador de empresas, da seguinte forma: “O que o Senhor acha do governo
do Temer?”. Desassombrada e desafiadoramente respondeu o paulistano por adoção
e, provavelmente, por profissão de fé feita em um dos templos do Deus Mercado,
da Avenida Paulista: “Diante da queda da inflação, dos juros e da diminuição do
desemprego, posso lhe garantir que, com pouco mais de um ano, Temer é o melhor
governo que já teve o Brasil”. Sem dúvida, que a assertiva merecia um reparo,
mas, feito por mim, soou como um trovão anunciando tempestade e encerrando o
clima ameno: “Vejam que o IBOPE é certeiro, enfim acabamos de encontrar um dos
5% que acham este governo bom ou ótimo. No meio em que ele vive, certamente que
não tem desempregados, não deve conviver com gente que vive com o suor do
trabalho e que tem de suar para arrumar bicos prá sobreviver”.
Claro
que temos de respeitar opiniões diversas das nossas. Entretanto, temos também o
direito de refutá-las. Mais do que direito, temos de ter coragem para
contradizê-las. No zelo por amizades, pela concórdia, não podemos baixar a
cabeça ou sinalizarmos consentimento com posições insustentáveis. No diálogo em
questão, nos embasamos nos minguados 5% ou 6% que aprovam o atual governo,
através de diversos institutos de pesquisa e por meses a fio. Não poderia ser
diferente, pois os próprios meios de comunicação que deram guarida ao “golpe
constitucional”, difundem denúncias de investigações feitas pela Polícia
Federal, transformadas em acusações formuladas pelo Ministério Público Federal
junto ao Supremo Tribunal Federal, classificando este governo de “organização
criminosa”. Ou queremos mais evidências do que as gravações apresentadas de
gente correndo com mala de dinheiro, de apartamento com malas e caixas de
dinheiro? Não ouso apontar o dedo para o Presidente, mas uma quadrilha agia por
perto e, em parte, foi desbaratada.
A
controvérsia fica por conta da “pior crise já vivida pelo Brasil”. O ódio
fomentado contra o PT – Partido dos Trabalhadores – culpa esse partido por
todas as mazelas dessa crise. Mas, boa parte dos críticos faz vistas grossas
aos partidos aliados que fizeram parte desses governos e que, posteriormente,
conspirariam para a sua derrubada. Dilma deixou de tomar medidas contra a
crise, é verdade, porém ninguém deveria se esquecer de que o segundo mandato
dela não existiu. Aliás, desde que ela foi proclamada vitoriosa na sua
reeleição, a oposição e os tais “aliados” começaram a lhe puxar o tapete sob os
seus pés. A começar pelas denúncias de fraude eleitoral, Depois, através de
sucessivas estocadas, até chegarem ao desejado e longo processo do
“impeachment”. Conseguiram o objetivo deles, pois o país desgovernado via cada
vez mais sua economia afundar, ou como pregavam aberta e descaradamente: “vamos
deixar esse governo sangrar”. Ou seja, chegaram ao objetivo da deposição do
governo pela deterioração da economia, do desemprego e trazendo para o lado
golpista as camadas mais pobres da população – o apoio popular.
Nunca
defendi o golpe de estado, “constitucional ou não”. Por outro lado, se o
governo saído das urnas foi usurpado por outro, dentro de um figurino de
constitucionalidade, defendo que vá até ao final do seu mandato, pois nunca
defendi eleições extemporâneas, que representariam um novo golpe de estado. Não
podemos aceitar, no entanto, que um governo ilegítimo, sem respaldo popular,
pratique atos lesivos à Pátria ou ao povo, através de privatizações de setores
estratégicos ou de reformas que penalizem os trabalhadores assalariados
públicos ou do setor privado, protegendo as grandes fortunas e, principalmente,
os banqueiros – que também foi o grande pecado de Lula. Quanto às falcatruas
apuradas e pendentes, esperamos que os altos escalões da Justiça não venham a
pipocar como às vezes têm pipocado, ao final da contagem regressiva que já rege
este governo impostor.
*Marco Regis é médico, foi prefeito de
Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003) –
marco.regis@hotmail.com