CONEXÃO GLOBAL - A ironia do liberalismo

Publicado em 12/06/2009 e atualizado em 26/06/2009 - marco-regis-de-almeida-lima -

Sempre defendi a presença do Estado em diversos setores da economia. Muito longe de ser eu um graduado no assunto em Harvard ou pelo menos no Centro Universitário de Guaxupé.
Pondo-me a matutar, penso que esses meus pensamentos estão comigo desde a minha adolescência, quando essa fase de rebeldia nos inclina para os lados mais rejeitados. Era esse o cenário mundial da época a que me refiro, paradoxalmente quente pela Guerra Fria, quando se confrontavam oponentes como os Estados Unidos e a já extinta União Soviética. Torcer pelas utopias do socialismo mexia com a cabeça de jovens sonhadores. Mas causava olhares tortos e fulminantes,  principalmente por estas bandas ocidentais, inda mais na conservadora Minas Gerais. Felizmente fui criado por um pai ferroviário, irmão de outros ferroviários, todos autodidatas, com pequena passagem pelos bancos escolares e, por isso mesmo, menos doutrinados pelas diretrizes conservadoras das nossas escolas de então. Minha mãe, professora primária, era mais cautelosa e vivia a nos alertar para os perigos da nossa simpatia vermelhaça. Realmente, mera simpatia, pois até os dias de hoje jamais li “ O Capital “ nem o “Manifesto do Partido Comunista” e, muito menos entoei a “Internacional Socialista” por exaltar o ateísmo – o que nunca professei, apesar de que, muitas vezes,assim  me tenham rotulado por eu não pertencer a nenhuma religião, embora seja um cristão crente na Trindade Divina. Uma outra curiosidade na formação de minha personalidade é que desde a idade de onze anos sempre li política nacional e internacional no direitista “Estadão “, de São Paulo, sem nunca haver assimilado a sua ideologia.
Mas, eu volto ao tema da participação do Estado na economia com a mesma coerência com que enfrentava os arautos do liberalismo, que tentavam nos fazer mudar de opinião até tempos recentes, sobretudo depois da dissolução da União Soviética e no livro de Francis Fukuyama “O Fim da História”.
Nunca é demais lembrar a política econômica nacionalista e estatizante, que alavancou a industrialização brasileira, implementada pelo inesquecível ditador e, depois, eleito Presidente da República, Getúlio Vargas, conterrâneo do nosso atual Juiz de Direito, Dr. Flávio Schimidt, gaúchos de São Borja. A Era Vargas – que tentaram apagar nos oito anos do mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso – legou ao País a Cia.Siderúrgica Nacional, a Fábrica Nacional de Motores (FNM), a Cia. Vale do Rio Doce (hoje a Vale), o Conselho Nacional do Café, o SESI e o SENAI,  o Conselho Nacional do Petróleo (1938) e a PETROBRÁS (l954), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). Outro grande estadista, Juscelino Kubitschek, como governador criou a CEMIG; como presidente de FURNAS. Nos governos militares, em 1973, ainda no chamado período do Milagre Econômico, o presidente Garrastazu Médici constituiu, junto com o ditador paraguaio Alfredo Stroessner, a portentosa ITAIPU BINACIONAL. Ainda, temos de nos lembrar de dois gigantes estatais do nosso sistema financeiro que são o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
Vejam que ilustramos tão somente a presença do Estado brasileiro na economia sem nos referirmos a outros paises onde isto já e implícito como na China, em Cuba, na Coréia do Norte ou Vietnam. Na América Latina sobrevivem muitas empresas estatais como a importante  petrolífera venezuelana, a PEDEVESA. Entretanto, uma decisão avassaladora do neoliberalismo, denominada Consenso de Washington, em 1989, conluiado com o Fundo Monetário Internacional – FMI – impôs a política do Estado Mínimo, ou seja, aquele que deveria cuidar sobretudo da educação, saúde, segurança e ‘ otras cositas mas ‘. Rezando nessa cartilha, governantes tornaram-se verdadeiros vendilhões de suas pátrias, dilapidando patrimônios públicos a exemplo do México, Argentina (leia-se Menen) e Chile. O Brasil estava embarcando nessa, vendendo estatais importantes, mas, felizmente, chegou o presidente Lula e acabou com a festança dos endinheirados americanos, europeus e japoneses.
Na seqüência, em 2008, veio o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, com repercussão no seu sistema financeiro e montadoras de automóveis. Houve retração no credito, inadimplência, desemprego e concordatas. Enfim, uma ameaça geral de quebradeira. A crise americana espalhou-se como uma pandemia por todos os paises.
Como saída de emergência, todo o sistema capitalista injetou trilhões e trilhões de dólares nas empresas moribundas ou como forma de investimentos estatais diretos para reaquecer a economia. O governo americano passa a tutelar as empresas de hipoteca Fannie Mae e Freddie Mac; o Citigroup recebe ajuda de US$45 bilhões; a seguradora AIG, US$170 bilhoes, passando o Estado a ter nela maioria acionaria de 80%, fica, ainda, com 8% da Chrysler e 60% da lendária GM/Chevrolet. Já fazem muitas chacotas, chamando, por exemplo, a GM de Governor’s Motors, ou o país de Estados Socialistas Unidos da América do Norte.
Para quem pregava o Estado longe das atividades empresariais essa é a grande ironia destes tempos. Veio o troco de “O Fim da Historia”, com o fim do neoliberalismo.
Ainda a propósito, quando acontece em Muzambinho a 7ª.AGROTUR , gostaria de reafirmar que quando assumi a chefia do executivo muzambinhense pela segunda vez, de 2005/2008, não só mantivemos como ampliamos essa notável criação do primeiro mandato do atual prefeito por julgarmos que também aí estava o papel de apoio e fomento do governo municipal à Feira. Inovamos no espaço utilizado em parceria com o educandário estadual, bem como na realização da Rodada de Negócios, atraindo compradores não só para os pequenos negócios nos dias do evento, mas para o ano todo, a exemplo da TOK STOCK. Mais do que isso, descortinamos horizontes para os nossos artesãos e tecelagens participarem de outras feiras Brasil afora, como ocorreu nos dois últimos anos e ocorrerá de 30/6 a 05/7/2009 na grandiosa e estupenda MEGA ARTESANAL, no Centro de Exposições Imigrantes, na Grande São Paulo. Em quase todas as participações fora do municipio o nosso governo procurou dar o máximo de apoio logístico e financeiro para o crescimento dos artesãos e tecelagens. Tudo isso com a plena consciência do Estado na economia, sem o egoísmo e a falsidade de dirigentes liberais, que viram ruir o Consenso de Washington.

* Marco Regis de Almeida Lima é médico e exerceu os cargos de prefeito de Muzambinho (1989/92 e 2005/08) e deputado estadual – MG (1995/98 e 1999/2002)