Conexão Global - Edição 934

Publicado em 07/05/2009 e atualizado em 26/06/2009 - marco-regis-de-almeida-lima - Marco Regis de Almeida Lima

A crise do capitalismo e o fim da História

 

A palavra crise deve ser entendida como uma manifestação aguda e repentina de uma moléstia, de uma atividade, de um entusiasmo ou afeto. Assim sendo, poderíamos falar de uma crise dolorosa, crise de apendicite, crise de riso, crise de arrependimento ou crise militar e outras. Entretanto, aqui, sem nos metermos a especialista do assunto, queremos fazer uma abordagem da atual crise econômica ou crise financeira que estourou nos Estados Unidos-EEUU, no ano passado, abalando o resto do mundo.
Ninguém nunca duvidou da prosperidade da nação norteamericana. Até porque o dólar acabou sendo uma moeda superior. Mesmo diante da tradição da libra esterlina inglesa ou do recente e valorizado euro da comunidade européia. Mas o que custávamos a entender era onde tinha tanto dólar para tanto consumismo americano. Como a sua economia permanecia forte diante de um fantástico desequilíbrio entre aquilo que vendiam e que importavam. Esse excessivo consumismo favorecia a economia mundial como a exportação de petróleo árabe e venezuelano; carros e eletrodomésticos japoneses; roupas ou bugigangas chinesas; alimentos, sapatos ou minério brasileiros; e de tanta gente mais. Entre nós, fortaleceu tanto a economia de uma cidade mineira, pelo aporte de dólares dos emigrantes, que Governador Valadares quase foi rebatizada como Valadólares.
Como dissemos antes, sem nos metermos a especialista, achávamos que o estouro da bolha imobiliária nos EEUU, quebradeira de bancos, a diminuição da produção e o desemprego era muito mais que uma crise financeira. Procuramos ler muito sobre o assunto e fomos encontrar respaldo para as nossas inquietações e intuições numa revista especializada em filosofia, onde um pensador brasileiro, radicado em Paris, Michael Löwy, nos dá a resposta através da visão da dialética da totalidade de Karl Marx, assunto este que, segundo ele, foi muito discutido no Fórum Social Mundial de 2009, em Belém do Pará. Ele afirma: “... se olharmos a crise financeira do ponto de vista burguês e sua imprensa ela fica muito restrita. A coisa é muito mais geral. Estamos vendo uma crise financeira, do conjunto da economia, do emprego e, portanto social, que se acompanha de uma crise ecológica. Se você enxerga a crise do ponto de vista da totalidade você se dá conta que o que está em crise não é um banco ou uma fábrica de automóveis, que não é por culpa da desonestidade de seus diretores, das elevadas gratificações, mas sim uma crise do modelo capitalista moderno, de um modelo de civilização.”
Nesta crise, foram expostas as vísceras do capitalismo. Balançou a liberdade do mercado preconizada pelo seu principal teórico, o escocês Adam Smith (1723-1790). Foi para o lixo toda a avassaladora propaganda dos últimos anos do chamado neoliberalismo que pregou a política do Estado Mínimo – aquele que deveria cuidar só da educação, da saúde e da segurança pública e que, através do monitoramento do FMI-Fundo Monetário Internacional – obrigou a maioria dos países pobres a venderem importantes estatais como o presidente Fernando Henrique Cardoso, Vendilhão da Pátria, e seus asseclas do PSDB naquele famigerado período de governo, fez com a eficiente, lucrativa e competitiva Cia. Vale do Rio Doce, entregue na bacia das almas ao mercado.
Tamanho foi o aporte de dinheiro dos governos capitalistas para salvar empresas particulares, que houve até piada sobre a mudança do nome USA - Estados Unidos da América, em inglês, para USSA - Estados Socialistas Unidos da América. Os principais beneficiados pelos quase dois trilhões de dólares dos governos europeus, americano, japonês e outros foram os bancos – espinha dorsal do sistema capitalista – e as montadoras de veículos automotores que, de maneira direta ou indireta, sustentam milhões de empregos no nosso mundo.
Lembremos que o povo americano viu parte de seu dinheiro, ou seja, dos mais de 100 milhões de dólares dados somente para a seguradora AIG serem rateados entre seus diretores, a título de gratificação, em plena crise, onde o mais humilde dos diretores embolsou mais ou menos um milhão de dólares.
Dessa nova crise globalizada capitalista sai a vingança daqueles, como eu, que ficaram revoltados com o livro do pensador nipoamericano Francis Fukuyama que, logo após a queda do Muro de Berlim, em 1989, dava o precipitado veredito da supremacia capitalista e o fim do comunismo, no livro O Fim da História. Nem meu pai, o saudoso  Antonio Silveira Lima, ferroviário e com escolaridade fundamental, um autodidata que viveu o auge da Guerra Fria, foi capaz de cometer esse pecado de Fukuyama. Na minha adolescência, cansei de ouvir os ensinamentos de meu pai de que nosso mundo ficaria melhor no dia que se utilizasse de um misto do bom do capitalismo e do comunismo. Daí, a História sinaliza isso para o gigante amarelo – a China – que saiu do comunismo implantado por Mao Tsé Tung para o socialismo de mercado de Deng Xiaoping, um tipo de papo doméstico que tantas vezes ouvi.