Publicado em 08/09/2015 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Já tenho idade suficiente para me enquadrar como bem rodado nesta curta existência humana, embora, nem de brincadeira, aceite ser classificado nessas modernices discriminatórias de terceira idade ou “melhor idade”. Muito menos ser um fura-fila, estando bem de saúde, aceitando senhas preferenciais ou de atendimento prioritário, outra invencionice eleitoreira de certos políticos, que virou privilégio para muitos, que estão em plena atividade laborativa e que se valem desse expediente legal para atropelar a outros que se submetem às filas, também estando com pressa e com os minutos contados.
Quando concluí o curso de graduação na UFMG, em 1971, era tido como componente de uma minoria de brasileiros que galgava um curso superior, ainda mais em escola pública, desde a matrícula no 1º ano primário. Não me lembro bem do percentual divulgado, naquela época, dos que concluíam um curso superior, mas, a minha escalada ainda tinha outra faceta porque eu vinha de uma classe média-baixa, eis que meu pai era ferroviário e minha mãe, embora normalista, vivia para as lides do lar e da família, uma dedicação integral ao marido e aos cinco filhos.Daquela época – dos governos militares – para cá, houve um incentivo governamental e quase prioritário para o ensino superior de caráter particular, com os pobres cursando faculdades sob enormes sacrifícios. Quem não se lembra ou se submeteu a um exemplo disso aqui na região – a UNIFENAS – hoje atenuado e diluído pela volta e a disseminação das universidades e institutos federais?
Descendo os degraus da escolaridade, constata-se que o ensino público fundamental ficou por conta dos municípios, o médio para os estados e o ensino técnico ficou estagnado, praticamente proibido como público e liberado como privado, a partir da era de Fernando Henrique Cardoso.
Uma inversão da elitização da educação superior, ironicamente, veio a se dar com a ascensão de um presidente oriundo da classe trabalhadora, estigmatizado como um analfabeto – Lula – dinamizou e difundiu o ensino técnico e tecnológico por todo o País, voltou a abrir faculdades e universidades públicas, financiou bolsas de estudos para os carentes no ensino superior particular e até na Europa e América do Norte, através do Ciência sem Fronteiras. Enfim, um incontestável tempo de abertura de oportunidades na educação há de ser reconhecido por todos nós.
Como foi dito no início, antigamente a gente somente poderia ser matriculado numa escola primária quando completasse seis anos. Antes disso, só educação particular no domicílio ou internado num orfanato caso não tivesse pai ou mãe. Sem educação escolar precoce, sem televisão para poluir nossa mente infantil, sem o telefone celular e outros recursos tecnológicos para nos viciar e nos roubar o tempo, nossa infância parece ter sido mais prolongada do que está sendo a dos pequenos de hoje em dia. Mesmo em cidades maiores, a natureza estava mais entrelaçada à nossa vida porque vivíamos muito mais momentos fora do que dentro de casa, pois não havia a violência generalizada de hoje, fomentada pela praga incontrolável das drogas. Parece-me que o tão invocado livre arbítrio “estava mais disponível”, sem as mazelas que tolhem a nossa liberdade.
Hoje, as mais tenras crianças estão escravizadas por escolinhas maternais, creches, aulas de balé, música, ensino pré-infantil em detrimento de uma educação familiar. Como imputar certas atividades domésticas como trabalho escravo infantil, ou simples tapinhas no traseiro de crianças birrentas como violência doméstica? Enquanto isso, essa parafernália de atividades educacionais, lúdicas e artísticas tão precoces, descritas no início deste parágrafo, hipocritamente receitadas e aceitas, tornaram-se verdadeira escravidão do conhecimento e violência ao direito de ser criança. De forma dissimulada, como em inúmeros outros setores, talvez estejam sendo novas e estratégicas possibilidades capitalistas na oferta de empregos para uma multidão carente de postos de trabalho, em todo o mundo.
Deveríamos, sim, colocar jovens e marmanjos metidos a pais em escolas de “ensino da família”. Neste tipo de ensino seriam dadas noções básicas de um real núcleo familiar, hoje em processo de deterioração. Seria enfatizado o princípio fundamental da igualdade de direitos entre homem e mulher, da tolerância e do respeito conjugal recíproco. Em capítulos seguintes viria o cuidado, a atenção e o carinho para com as crianças e como prepará-las para a realidade da vida, estabelecendo-lhes limites, ensinando-as valores morais e éticos e o necessário uso da autoridade paterna e materna. Nenhuma restrição ao uso, sem abuso, de palmadinhas na bunda com o intuito de incutir disciplina na convivência humana, principalmente respeito aos mais velhos e a todos que venham participar do seu processo educacional. Nada de testes psicológicos nas coitadinhas das crianças exceto aqueles consagrados na medicina para a detecção de doenças orgânicas.
Além da infusão de ideias de uma paternidade responsável, também se estabeleceria limites numéricos para a geração de filhos, em homens e mulheres, mais ou menos igual ao que foi feito na China. A transgressão dos limites estipulados para a procriação, talvez dois filhos “per capita”, não por casamentos formais ou informais, redundaria em castração compulsória. Fertilização “in vitro” seria procedimento raro, exclusivamente para casais estéreis. Com essas medidas reducionistas da população, certamente que nos tornaríamos uma população envelhecida, com carência de um contingente mais jovem, pronto para o trabalho e para contribuir com a previdência social, que sustenta os mais velhos.
Mas, há hoje uma crise migratória mundial. Pessoas fugindo das guerras localizadas e da fome em seus países de origem. Aqui no Brasil, mesmo sem esse cenário dantesco de pressão migratória, como temos tido notícia das portas de entrada européias – Lampeduza, ilhas gregas, Macedônia, Hungria e o lado francês do Eurotúnel – mesmo assim o País tem recebido haitianos, africanos, bolivianos e outros. Por que não convivermos com um programa de controle de natalidade e, ao mesmo tempo, recebendo e dando guarida para tais fugitivos das guerras e da fome? Eles nos trariam de volta a força de trabalho, fortaleceriam os cofres previdenciários, viveriam em paz e com dignidade e nós esbanjaríamos hospitalidade e solidariedade.
*marco.regis@hotmail.com – Marco Regis é médico, foi Prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e Deputado Estadual-MG (1995/98; 1999/2003)