Vá lá que a economia internacionalizada tenha dado oportunidades para que o nosso país comece a esbanjar o seu poderio emergente pelo mundo com empresas tipo Petrobras, Ambev e Vale. Cada uma, ao seu modo, soube crescer usando o que temos de mais abundante: os nossos recursos naturais.
Quando muitos perdiam a fé na Petrobras, que parece haver sofrido sabotagens, durante o malfadado governo Fernando Henrique Cardoso, com vazamentos de petróleo no mar, terceirizações mal intencionadas e quebra do seu monopólio estatal, eis que ela, agora, dá a volta por cima, produzindo um filhote gigantesco que está para ser batizado de Petro-União, ou Petro-Brasil, oriundo do Pré-Sal.
A Vale poderia ter permanecido como outra pujante estatal, um trunfo do governo brasileiro, pois vinha dando certo desde o seu inicio. Nascida na Era Vargas, como fruto de negociação de guerra, foi vendida a preço de bananas, pelo citado e malfadado governante, embora nas aparências continue a ser nossa e seja uma mega empresa.
Por outro lado, ainda mantivemos o controle estatal de um portentoso sistema hidrelétrico que, sem trocadilhos, quase foi posto água abaixo, numa jogada anti estratégica para o Brasil, na verdade uma estratégia do neoliberalismo a qual soubemos resistir.
Certo é que em cima de recordes e mais recordes da nossa produção agrícola, na melhoria do nosso extrativismo, na solidez das grandes siderúrgicas, nos altos e baixos das indústrias têxteis e calçadistas, na Embraer, na Helibrás, no reaquecimento do setor naval, na autosuficiência petrolífera e crescimento da petroquímica, na indústria alimentícia, de bebidas, sucroalcooleira e até nos avanços da biotecnologia, vamos, enfim, rompendo a barreira do subdesenvolvimento e nos tornando, de fato, emergentes.
Paralelamente a tudo isso, temos um presidente que, segundo o noticiário internacional desta semana, foi colocado no topo dos políticos mais populares do planeta, alem de já ter sido chamado de “O Cara” pelo colega que governa a maior potencia mundial. No entanto, nada dá o direito ao Brasil de intrometer-se na política interna de quaisquer países, como temos observado no conflito de Honduras. Deposto em golpe patrocinado pelas elites hondurenhas, inclusive pela Corte Suprema de Justiça, o “Cowboy” Manuel Zelaya foi eleito pelo voto popular e deveria cumprir o seu mandato até o final. Se ele almejava um novo mandato presidencial, que tem sido moda latino-americana desde o vendaval neoliberal que por aqui passou, no final do século passado, abrindo as portas desse execrável instituto da reeleição para Carlos Menen, na Argentina, Fernando Henrique, depois Lula, no Brasil, e outros, ele teria que ser contido por meios democráticos e não apeado à força do poder. Mas, este é um assunto que deveria ser resolvido pelos hondurenhos.
No momento, causa-nos constrangimento a presença do bando de Zelaya, abarrotando as dependências da embaixada brasileira em Tegucigalpa, fazendo dela um “bunker” sob proteção diplomática. Das duas uma, ou ele e seus aliados pedem asilo político ao Brasil e para cá vêm gozar de proteção, conforme as leis internacionais, ou expulsemos a todos eles desse território diplomático, deixando-os à mercê dos desatinos dos golpistas chefiados por Roberto Micheletti. Até aceitável é que o Presidente Lula tenha exigido a volta de Zelaya ao cargo, na abertura da 64ª Reunião Anual das Nações Unidas, nesta quarta-feira. O que não pode é a Embaixada do Brasil em Honduras servir de fortaleza à resistência democrática daqueles que sofreram o golpe.
A nossa modesta opinião segue uma linha de coerência que nos fez, tantas vezes, condenar a intromissão dos Estados Unidos em inúmeros países, como aconteceu na Iugoslávia, no Iraque e recentemente no assunto das eleições no Irã, sempre obtendo apoio do condomínio global que lhe dá sustentação. Não seria a posição de Zelaya, afinada com Lula, Hugo Chavez, Evo Morales e outros – com os quais simpatizamos – que nos faria fugir dessa coerência. Para nós, acima de tudo, está a autodeterminação dos povos e, neste caso, percebemos um arrepio imperialista do Brasil, através do governo Lula. Daí, a nossa critica, pois “o pau que bate em Chico é o mesmo que bate em Francisco”