INCONFORMADOS AINDA QUEREM A CABEÇA DE DILMA

Publicado em 22/11/2014 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação

Se o escândalo da Petrobrás ainda serve de pretexto para o berreiro e as lamúrias de uns poucos, que ainda pregam o ‘impeachment’ da Presidente Dilma Rousseff, vou continuar esgrimindo com os desinformados e com os mal intencionados, porque tenho argumentação oposta. Afinal de contas, não vivemos num regime parlamentarista onde os gabinetes caem conforme as crises. Por duas vezes, em quarenta anos, foi oferecida ao nosso povo a opção dessa escolha, através de plebiscitos, vencendo em ambas o presidencialismo, mesmo que adjetivado e fortalecido como imperial. Parece mesmo que nosso povo gosta disso, que sofre de uma nostalgia, tendo uma preferência escondida pela monarquia, pois são tantos os empreendimentos de comércio e serviços no Brasil, que nos remetem a isso, tais como: Império dos Parafusos, Rei do Mate, Hotel Imperial, Rei da Bisteca, Rei Pelé e tanta coisa parecida.
Fico confuso se o jeitinho brasileiro de se levar vantagem é herança de presidiários portugueses, aqui deixados nas primeiras expedições pelos nossos colonizadores, como dizem. A despeito disso, orgulho-me da nossa colonização portuguesa, mais despojada, mais sentimental e mais cristã. Não me simpatizo em nada com a organização e a frieza anglossaxônica nem com a ferocidade destrutiva representada pelos espanhóis, que arrasaram as civilizações azteca e inca. Entretanto, não se deve afirmar que a corrupção é uma praga genuinamente brasileira, nem de origem portuguesa. Muito menos uma exclusividade dos governos petistas. Claro está que ela tem fragilizado nossas instituições e nos dá sinais de endemia. Para circunscrevê-la, nos últimos trinta e poucos anos, desde a Nova República, temos convivido com uma infinidade de escândalos que não se restringiram ao meio político. Para não caírem de todo no esquecimento, vamos recordar da Máfia da Loteria Esportiva, dos Anões do Orçamento, da Máfia do Apito, da Construção do Prédio do Tribunal de São Paulo (que acaba de colocar na cadeia o renomado empresário da construção civil em Brasília, depois senador, Luiz Estevão, além do Juiz Nicolau dos Santos), do Governo Collor, do SIVAM, da compra de votos de parlamentares para a instituição da reeleição, da roubalheira da “Privataria Tucana” (estes três últimos nos oito anos do Governo Fernando Henrique Cardoso), do Mensalinho mineiro, do Mensalão e, agora, da Petrobrás.
Mas, se dermos uma voltinha superficial pelo planeta, constataremos que a corrupção é um fenômeno universal que, aqui ou alhures, tem sido combatida das mais diversas maneiras, com ares de impunidade em alguns lugares, com condenações rigorosas em outros, até com a pena de morte. Muitos dos relatos que expomos, extraímos de www.muco.com.br.
Para os admiradores dos americanos, vamos lembrar que, nas décadas de 1920/30, que desaguariam na Recessão, os Estados Unidos estiveram confrontados pelo Crime Organizado, principalmente na região de Chicago, quando sobressaía a liderança do gângster Al Capone. Parecia uma vitória inapelável dos criminosos, que punham abaixo a Lei Seca, contrabandeando e vendendo bebidas alcoólicas proibidas, dominando casas de jogos, clubes noturnos e a prostituição, assassinando quem lhes tentasse barrar o caminho e tendo a colaboração de autoridades. Em época mais recente, em 2009, foi desfeita uma associação criminosa que praticava corrupção e lavagem de dinheiro, integrada por dezenas de rabinos e políticos. Em 2011, Rod Blogojevich, Governador de Illinois durante dois mandatos, foi condenado a 14 anos de reclusão por causa de 17 crimes de corrupção, sendo o 4º governador desse Estado a ser preso por razões parecidas. Ainda tivemos, na história dos Estados Unidos, o caso Watergate, que levou à cassação do Presidente Richard Nixon.
Mesmo sob a mão de ferro do regime comunista chinês, dentre tantos episódios de corrupção, que aconteceram há pouco tempo na China, citamos o escândalo de Xangai, em 2006, onde dirigentes locais desviavam recursos da Previdência Social. Também, entre 2000 e 2009, houve a abertura de 16.830 casos de investigação criminal por corrupção no setor imobiliário chinês.
De uma relação infindável de exemplos, não podemos deixar de olvidar a avassaladora onda de escândalos na Itália, muitas vezes em associação com a máfia, envolvendo propinas e subornos favorecendo partidos políticos. A partir de denúncias surgiu a Operação Mãos Limpas que investigou mais de 6 mil pessoas, sendo 872 empresários, 1978 administradores públicos, 437 parlamentares, além de juízes e policiais. O saldo foi de fugas, assassinatos, prisões e 12 suicídios. Hoje, a Itália convive com a corrupção em níveis bem mais baixos, sendo que o todo-poderoso empresário da mídia e ex-Primeiro-Ministro, Sílvio Berlusconi, dono do time Milan de futebol, acaba de sofrer condenação na justiça italiana.
Na populosa Índia, o Primeiro-Ministro Manmohan Singhi afirmou que “o País sofre de corrupção endêmica”, que enfraquece o seu crescimento econômico, onde o PIB poderia ser até 1% maior não fora isso.
Nada desse panorama mundial, porém, endossa a atual roubalheira na empresa estatal que sempre foi o orgulho de todos os brasileiros – a Petrobrás.  A Polícia Federal tem agido com desembaraço na Operação Lava Jato, que tem o acompanhamento do Juiz Federal de Curitiba, Sérgio Moro. Diante do volumoso inquérito em curso, prisões temporárias e preventivas já aconteceram. Empreiteiros bilionários, oriundos das oito maiorais que atuam em nosso País, estão em cana (Camargo Corrêa, Mendes Júnior, OAS, Queiroz Galvão, UTC, Engevix, Iesa e Galvão Engenharia). Diretores graduados da nossa estatal, também, muitos deles com carreira superior a 20 anos na petrolífera.
Em hora alguma, foram apontados os nomes da atual Presidente, Dilma Rousseff, ou do ex-Presidente, Lula, a não ser por ilação política dos mal intencionados, dos desinformados e dos deliberadamente canalhas. Confiram na revista “Veja”, que a dois dias da decisão do 2º turno presidencial, tentava tirar proveito eleitoral pró-Aécio Neves, no caso Petrobrás, dizendo que Dilma e Lula sabiam de tudo (sem nenhuma prova concreta). Observem como ela se revela cautelosa na sua última edição, a de nº 2.400 – ano 47 – do dia 19 de novembro corrente. Nos dois primeiros parágrafos da matéria “O Golpe no Clube do Bilhão”, onde os jornalistas Rodrigo Rangel e Hugo Marques exaltam a maturidade política brasileira e a firmeza de nossas instituições, diante de nenhum abalo provocado pelas prisões dos empreiteiros bilionários.
Um corolário, porém, poderá se tornar verdadeiro. Em governos estaduais onde houve troca da situação pela oposição, especialmente em Minas Gerais, se houver uma filtragem, um pente-fino, em muitas das secretarias do Estado, mormente naquelas que lidam com empreiteiras sobejamente conhecidas como financiadoras de políticos situacionistas, muita lama poderá estar grudada nas tubulações das obras ou nas camadas inferiores e desconhecidas dos asfaltos.

*marco.regis@hotmail.com – Médico;
Prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08);
Deputado Estadual-MG (1995/98; 1999/2003)