Publicado em 26/02/2015 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
As redes sociais estão povoadas de ignorantes políticos e de ativistas mal intencionados que continuam a ruflar as bandeiras do golpismo, ou seja, da derrubada da presidente brasileira. À frente deles, tremulando essas mesmas bandeiras, caminham os privilegiados detentores dos espaços informativos que são os jornais impressos e digitais, rádios de audiência nacional e, principalmente, as influentes redes televisivas. Todos pintam cenários dantescos para o Brasil, utilizando-se de todos os meios ao seu alcance como dados e indicadores econômicos, estatísticas, futurologia e outros mais. Motivo de comemoração mais recente tem sido uma pesquisa do Datafolha, na qual se constata que a popularidade da presidente Dilma Rousseff despencou. Esquecem esses analistas, apresentadores de programas televisivos e oposicionistas políticos que, antes da última Copa do Mundo de Futebol, resultados assemelhados foram revertidos, frustrando, nas urnas, aqueles que apostavam na mudança de comando da política brasileira com base numa suposta e irreversível insatisfação popular.
Como exemplo de ignorância política, cito uma foto que vi na rede, que estampa as imagens da Presidente junto com o vice Michel Temer, ilustrada por uma frase mal educada que diz: “que m..., pensei que em caso de impeachment entraria o Aécio Neves”. Isto está a demonstrar que pessoas opinam sem o menor conhecimento dos fatos. Se não conhecem a Constituição Federal, no que diz respeito à linha sucessória no caso de vacância presidencial, ao menos deveriam se lembrar de um fato histórico não muito distante, de 29 de setembro de 1992, quando foi declarado impedido o Presidente Collor de Melo, assumido a presidência o seu vice, Itamar Franco.
Afinal de contas, essas pessoas querem mesmo um regime democrático ou a usurpação do poder? Deploram estar sob governos que não lhes agradam, por um ciclo de vinte anos ou mais, através do resultado legítimo das eleições. Na realidade são pretensos democratas, ou mal perdedores do jogo das urnas. Mas, são esses mesmos dissimulados jogadores que, na ânsia de se perpetuarem no poder, à época do primeiro governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, criaram essa malfadada reeleição, que nunca tivera lugar no Brasil desde a Proclamação da República, nem mesmo durante a chamada Ditadura Militar, que trocava de generais-presidentes a cada quatro anos. Confesso que entendo como um suplício político ter de aturar tantos anos na oposição, ainda mais como militante político. Porém, pessoalmente, suportei castigo pior que foi conviver por tanto tempo sem direito à voz na aludida ditadura, mas nunca esmorecendo e lutando pelo retorno da democracia, num primeiro momento votando, depois militando, no único partido político de oposição consentida daquela época, o MDB – Movimento Democrático Brasileiro – e nunca me envolvendo na luta armada, não só por achá-la temerária e inócua, também diante da desproporção entre as forças litigantes, mas por acreditar mesmo que a trilha correta passava pela trincheira política, caminho este que nos trouxe de volta à democracia.
Como todo brasileiro de bem, estou indignado com a roubalheira na Petrobrás. Como apoiador do governo Dilma, estou incomodado com a corrupção que se instalou nessa estatal, quiçá em outras, e ora sendo desnudada. Tardiamente detonada, pois há indícios da sua existência desde 1997. Mas, confio na Polícia Federal, no Ministério Público, na Justiça Federal e na própria Suprema Corte, que conduzem a investigação e mantêm na prisão os ricaços e pessoas influentes, desde novembro do ano passado, fato que já ocorreu também no chamado mensalão, além do bloqueio de bens e meios de devolução de grande parte da dilapidação. Disse que estou indignado e incomodado porque não posso colocar a minha mão no fogo por ninguém, exceto para mim mesmo. Mas, ao confiar nas instituições citadas, ainda quero confiar em quem participei da eleição, no voto, sem que eu seja petista por filiação.
Aos que dão pedradas a esmo, argumento que também aguardem com serenidade o andamento das investigações e dos processos; que analisem a situação dos já condenados do mensalão, que cumprem penas em regime fechado, no semi-aberto ou em prisão domiciliar, uma derrota e um vexame para a sua riqueza ou a sua influência, enfim um paradeiro na impunidade que antes campeava para gente deste naipe aqui no Brasil.
Entretanto, aos que dão pedradas por simples passionalismo político, aos que querem estar acima da polícia e da justiça, aos querem impor servilismo econômico e político mais do que nós eleitores de Dilma já a vimos conceder, enfim aos que pregam uma queda imediata e simplista da Presidente, alerto para que não arranhem a paz reinante em nosso País, porque nem todos estão dispostos a ser meros espectadores de um golpe.
*marco.regis@hotmail.com – O autor é médico;
foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08)
e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003)