JÁ ESTAMOS NA ÁFRICA

Publicado em 28/05/2010 - marco-regis-de-almeida-lima - Marco Regis de Almeida Lima

Após a ressaca dos jogos da rodada do Brasileirão desta quarta feira, resolvi virar a noite como um noctâmbulo. Ora acordado, ora dormindo, no sofá, diante de uma TV funcionando horas a fio, insisti numa tola vigília para constatar o desembarque da seleção brasileira de futebol, em voo fretado da nacionalíssima TAM, que decolara ao entardecer da  nossa Capital Federal, depois de um beija-mão com o presidente Lula, rumo à África do Sul. Tudo isso num clima de ansiedade pela Copa do Mundo de Futebol, a 19a. presença  brasileira – o único país presente em todas elas. Já a minha torcida vai completar a l5a. edição, pois comecei esse acompanhamento ainda bem criança, quando da Copa de 1954,  na Suíça, época em que as transmissões eram exclusivamente pelo rádio. Na ocasião da copa em terras helvéticas, nós nos concentrávamos na avenida principal em terra batida, na bucólica Monte Belo, defronte ao bar do bom português, Manoel Antonio Rito, onde fica hoje a agência do Banco do Brasil, escutando as narrações dos jogos por um conjunto de alto-falantes. Foi aí a minha primeira frustração com o escrete nacional, pois não passamos da fase de oitavas de final, obtendo uma vitória por 5x0 sobre o fragílimo México, cujo goleiro Carbajal tornou-se recordista em participação em campeonatos mundiais; a seguir empatamos com a forte Iugoslávia; finalmente, uma até honrosa derrota por 2x4 diante de uma verdadeira máquina de fazer gols – a Hungria do artilheiro Kocsis, do fenomenal Ferenc Puskas e Cia. Mas, viria a me decepcionar ainda mais pois o fabuloso esquadrão húngaro viria a perder de virada,  por 2x3, a finalíssima contra a Alemanha, depois de haverem marcado, costumeiramente, dois tentos nos 15 primeiros minutos de jogo, inclusive em prélio anterior com o Brasil, possibilitando, assim, a primeira conquista de um mundial pelos germânicos.
O futebol-arte viria a sofrer novos e dolorosos reveses para o futebol-força. Em 1974, a deslumbrante laranja-mecânica, a Holanda, capitulou na final frente à mesma Alemanha. Em 1982, o futebol-magia do Brasil, praticado por Zico, Sócrates, Cerezo, Oscar, Falcão e outros, fracassou diante da Itália, de Paolo Rossi.
Parafraseando o filme dos anos rebeldes, estrelado por James Dean, “assim caminha o futebol da humanidade”, chegando à 19a.disputa, a cada quatro anos, desde 1930, com exceção dos anos de 1942 e 46, em decorrência da II Grande Guerra Mundial.
Para a minha tranqüilidade, na madrugada aqui no Brasil, já manhã na terra do tenaz Nelson Mandela, aterrissa o avião da TAM com a delegação de futebol do Brasil, sendo Daniel Alves o primeiro a dar a cara. Dissipam-se os meus maus pensamentos e temores de um fatídico vôo aéreo. Olha que eu tenho razão em cultivar essa paranóia, pois na década de 1940 um acidente desta natureza matou todo o célebre time italiano do Torino, enquanto o mesmo veio a acontecer na década de 1960 com o ainda famoso clube inglês, Manchester United. Pior do que isso, temos sido atacados de medo por tantos desastres com aviões, ultimamente. Principalmente pelos contínuos comentários de um ou outro sobrevivente dentre mais de uma centena de mortos, na queda desses trombolhos que cortam os céus em velocidade superior a 500 Km / h. Lembram-se do vôo da Yemenia Air, que ia para as Ilhas Comores, morrendo l53 passageiros e salvando-se a jovem Bahia, em 30 de junho do ano passado ? E os mais recentes: da Air Índia, em Mangalore, com 160 mortos e 8 sobreviventes ?  E o da Líbia, da Al Afriqiya, onde morreram 104 pessoas, salvando-se um holandesinho de 9 anos, Ruben van Assouw?
Na verdade, eu queria amanhecer nesta quinta feira com a certeza de que os nossos futebolistas “globe-trotters” estariam sãos e salvos em terras africanas, pois, com eles na arena o espetáculo está garantido. Pra frente Dunga ! Avante Brasil !