Meu orgulho pela colonização e língua portuguesas

Publicado em 28/08/2020 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação

Meu orgulho pela colonização e língua portuguesas

Já ouvi com certa frequência o descontentamento de pessoas quanto à descoberta e colonização do Brasil pelos portugueses. Tampouco percebi simpatia pela fixação de colonizadores franceses. Certo é que estes aqui fizeram duas incursões, sendo protestantes fugitivos de conflitos religiosos com os católicos no território gaulês, mas, com interesses no mercado de pau-brasil. Numa primeira invasão criam a chamada França Antártica (1555), na baía do Rio de Janeiro, ocupando o que hoje corresponde à ilha de Villegaignon, a ilha do Governador e até a região do Flamengo, sob o comando de Nicolas Durand de Villegaignon, até serem expulsos pelo terceiro Governador-Geral do Brasil, Mem de Sá. Numa segunda tentativa melhor sucedida, em expedição que tem à frente Daniel Le Touche (1594), fundam a atual capital maranhense, Saint Louis, mais tarde aportuguesada para São Luís. Aliás, o reconhecimento pelo fundador, Le Touche, se materializa em estátua dele defronte à Prefeitura da Capital maranhense. Segundo trabalho bem didático da historiadora Juliana Bezerra, a ser visto em “todamateria.com.br/franca-equinocial”, essa expedição francesa era composta por 500 homens, interiorizando-se, aos poucos, até o Pará, Amapá e o Rio Tocantins, num período de três anos, até sua expulsão por soldados portugueses e espanhóis, aliados a indígenas. Entretanto, essa insistência gaulesa acabou por prosperar mais adiante com a fundação da cidade de Caiena, e a delimitação territorial da Guiana Francesa, sendo ela sua Capital.

Por outro lado, há numerosos simpatizantes pela ideia de que uma colonização holandesa nos teria sido benéfica. Os argumentos advêm das invasões dos Países Baixos à Bahia e, sobretudo a Pernambuco. Ambas no século XVII. Depois de um ataque fracassado contra Salvador (1604), repete-se outro melhor organizado (1624), com a conquista dessa cidade. Durou menos de um ano esse domínio, pois, Portugal enviou um reforço de mais de dez mil homens e obteve a saída deles. No entanto, eles voltaram a atacar poucos anos depois (1630), com uma poderosa expedição formada por mais de 60 navios e de 7.000 homens. Os nerlandeses conquistaram Pernambuco e estenderam seu domínio pela Paraíba e Rio Grande do Norte. Razões bélicas e econômicas foram as causas desses confrontos. Principalmente pela posse da produção de açúcar, onde os holandeses vinham sendo parceiros dos portugueses, tanto em investimentos como na instalação de usinas açucareiras. Acontece que havendo morrido D.Henrique, Rei de Portugal, sem deixar herdeiros, o trono lusitano coube ao Rei Felipe II, da Espanha, que passou a reinar sobre ambos os territórios, na chamada União das Coroas Ibéricas.  Havia anos que Espanha e Holanda guerreavam entre si. Com D. Felipe II no trono, assim interpretaram os holandeses: “amigo do meu inimigo, meu inimigo é”. Essas são explicações para as invasões holandesas no Brasil, que só em Pernambuco durou 24 anos, parte deles em conflitos heroicos pela restauração do domínio português.

Durante alguns momentos de convívio com o notável nacionalista e político mineiro, Aureliano Chaves, ex-Governador de Minas Gerais e ex-Vice-Presidente da República, ambos na Ditadura Militar (1964/85), pude dele ouvir, mais de uma vez, que “o Brasil antes de se tornar um País tornou-se uma Nação”. Isto, justamente pela irmandade construída naquela época colonial entre portugueses naturais e seus filhos (João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros e Antonio Dias Cardoso), junto com negros (Henrique Dias e africanos por ele recrutados nos engenhos e quilombos) e indígenas liderados por Filipe Camarão, o Índio Poty, mais mulatos e caboclos, numa união que combateu e repeliu os invasores holandeses. Sugiro a leitura de página digital do Exército Brasileiro para o grande detalhamento do que foi a Insurreição Pernambucana: www.eb.mil.br/guerra-holandesa/quarto-periodo/insurreição-pernambucana. Ou, tentar na pesquisa Google: a guerra da restauração contra holandeses, onde surgirão vários títulos, inclusive o acima.

Enquanto escrevia e pesquisava sobre este artigo, acabei me deparando com matéria de Fábio Marton, publicada em 20 de maio de 2020: super.abril.com.br/historia/e-se-o-brasil-inteiro-tivesse-sido-colonia-da-holanda? Entendi que pinçar alguns de seus pontos de vista seria melhor do que uma opinião de minha parte sobre a possibilidade que tivéssemos tido uma duradoura colonização holandesa. Sem entender o porquê fui logo lendo esta afirmativa: “A primeira coisa quase certa sobre uma colonização holandesa é que ela não daria à luz a um país desenvolvido”. Então o autor vai logo explicando: “há uma diferença entre colônia de exploração e colônia de povoamento. Na primeira, os colonizadores não criam raízes e tentam tirar o máximo proveito possível. Na segunda, eles chegam para ficar, criando uma extensão de sua terra natal”. Então o jornalista faz comparações sobre colônias que prosperaram ou não, em razão da afirmativa anterior, que não me convencem. Diz que o Reino Unido fundou os U.S.A. e a Austrália; por outro lado, a Jamaica e Belize; a França fundou Québec, parte do “britânico Canadá”, também o paupérrimo Haiti. Nesse raciocínio pouco convincente ele conclui que não foi diferente com a Holanda, ou Reino dos Países Baixos, “fundadora de Aruba e Suriname” e “sua experiência vista como positiva no Nordeste brasileiro [...] justamente porque o administrador holandês, Johann Mauritius van Nassau-Siegen decidiu tratar essa possessão tropical como uma colônia de povoamento, e não como uma colônia de exploração”. Seus métodos e gastos desagradaram à Cia.das Índias Ocidentais, acabando por ser demitido da empresa nerlandesa, que “voltou a tratar a possessão como uma colônia de exploração”. O jornalista Marton também faz comparações de determinadas regiões brasileiras com a África do Sul, colonizada pelos Países Baixos, inclusive, explicando que a vitória do Reino Unido sobre a Holanda fez com que suas elites em terras sul-africanas se compusessem com as britânicas, criando o condenável regime de segregação racial, o “apartheid”, palavra do idioma africâner derivada do holandês antigo.

Isto posto, só tenho que me regozijar por ter sido Portugal descobridor, colonizador e até o proclamador da Independência do Brasil. A Língua Portuguesa, cantada por Olavo Bilac como “A última flor do Lácio, inculta e bela”, foi a derradeira a se derivar do Latim, na região italiana do Lácio, proximidades de Roma, sendo irmã das línguas neolatinas como o italiano, francês, espanhol, galego, catalão, romeno, franco-provençal, normando e aragonês. Nesta mesma língua, no longo poema épico Os Lusíadas, Luiz Vaz de Camões enalteceu os feitos reais da viagem de Vasco da Gama (1497) descobridor da rota para as Índias. Embora similar ao estilo do grego Homero, que fantasiou suas obras com seres mitológicos e guerreiros lendários, tanto na Ilíada como na Odisséia, Os Lusíadas têm narrativa verdadeira, reforçando o pioneirismo e a supremacia lusa nas Grandes Viagens Marítimas.

Nos últimos anos tenho me indignado com a avalanche de anglicismos que têm recaído sobre nossa Língua Pátria. Elas são provenientes da tecnologia, do comércio, do consumismo, enfim da globalização, onde o inglês flui hoje como elo universal de comunicação. Nas liquidações de produtos comerciais tentam impor o “off” ou “sale”; na telefonia móvel e nas redes sociais: “site”, “post”, “facebook”, “Wi-Fi”, “backup”; jogos são roubados descaradamente por “games”; moda é “fashion”; classificação é “ranking”; jovem é “teen’; e uma infinidade mais. Ao menos as pessoas poderiam colocar esses estrangeirismos “entre aspas”, como acabo de fazer. Entretanto, tenho refletido melhor, percebendo que entre os séculos XVII a XVIII, as palavras francesas também se abateram sobre o Português e nossa língua se manteve altaneira, aportuguesando tais galicismos. Percebamos as adaptações: boate por “boîte”; buquê por “bouquet”; gafe por “gaffe”; toalete por “toilette”; chofer por “chauffeur”; caminhonete por “camionete”; chique por “chic”; balé por “ballet” e outra infinidade. Nem por isso fomos dominados pelo Francês e, muito menos seremos engolidos pelo Inglês. Os países que falam o Português são chamados de lusófonos, sabendo-se das variações existentes entre eles. Esse acontecimento é natural haja vista a variedade de sotaques e expressões existentes em nosso País. Além do Brasil e Portugal, onde suas populações são contabilizadas como falantes desta língua, também são países lusófonos, mas nem toda a população falando o português: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Cabe a nós o zelo por esse patrimônio linguístico que tem cerca de 280 milhões de falantes nativos em todo o planeta e mais de dois mil anos de uso. Continuemos a cultivar os versos de Antonio Ferreira, do século XVI, contidos na Moderna Gramática Portuguesa, do Prof. Evanildo Bechara, Editoras: Nova Fronteira e Lucerna, 38ª edição, Rio/2015:  Floresça, fale, cante, ouça-se e viva / A portuguesa língua, e já onde for, / Senhora vá de si, soberba e altiva!


Marco Regis de Almeida Lima é médico, foi prefeito 

de Muzambinho (1989/92; e 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003)