O último adeus ao Rei do Pop

Publicado em 09/07/2009 - marco-regis-de-almeida-lima - Marco Regis de Almeida Lima

Muito se falou, se viu e se escreveu desde o dia da morte do popstar Michael Jackson até o seu funeral realizado nesta terça-feira. Ao contrário do que acontece com todos mortais humanos, dois dias, talvez outros mais, após a cerimônia fúnebre que deveria culminar no seu enterro ou na cremação, ninguém sabe do destino do seu corpo como que quisesse a família do ídolo dar-lhe momentos a mais da controvérsia que já fora a vida dele. O próprio Memorial, no Staples Center, foi surpreendente; um inusitado megashow acompanhado por cerca de onze mil pessoas sendo 8.750 fãs sorteados, dentre dois milhões em todo o mundo que se inscreveram pela internet, e o restante composto de familiares, amigos e convidados, que reverenciaram o ato com educado e respeitoso silêncio, ou com choro incontido, mas sem histeria. Pela televisão e pela internet, calcula-se que 2 bilhões de pessoas viram as exéquias.
A despedida foi compatível com quem vivia e gostava de momentos de esplendor. Foram instantes emocionantes que contradisseram a celebridade hollywoodiana, Elizabeth Taylor, do círculo de amigos próximos do Rei do Pop, que antes do funeral  disse que ele se transformaria num circo. Embora luto e superprodução artística tenham se misturado, não foi um espetáculo circense, contrariando Lyz Taylor. Na verdade, foi tudo pura emoção e profunda consideração, através de discretas orações, contundentes e espontâneos depoimentos, além de expressivas interpretações musicais.
Carregado pelos irmãos Jackson, o caixão mortuário revestido em ouro e valendo $25 mil, entrou no Staples Center ao som de um coral gospel, permanecendo lacrado o tempo todo. Amigo da família, o pastor Lucious Smith, da Igreja Batista de Pasadena, mais fez uma exaltação terrena do morto do que uma pregação espiritual.
A seguir foram lidas mensagens da cantora Diana Ross e do líder sul africano, Nelson Mandela. Em dueto,cantaram Mariah Carey e Trey Lorenz (I´ll be there). Também cantaram: Lionel Mitchel (Jesus in Love); Stevie Wonder (Never dreamed you´d leave in Summer); Jennifer Hudson (Will Be you There); além de Usher e do garoto Shaheen  Jafargoli. O irmão Jermaine Jackson cantou a música preferida de Michael, que foi escrita por Charlie Chaplin (Smile). Falaram: o reverendo Al Sharpton, amigo da família e que conhecia Michael desde a infância; o antigo jogador de basquetebol do Los Angeles Lakers, Magic Johnson,acompanhado de Kobe Bryant; a deputada republicana do Texas, Sheila Jackson Lee; o cantor Smokey Robinson, que leu as mensagens iniciais; o músico Barry Gordy; ainda, o irmão Marlon Jackson que disse: “Você foi julgado e ridicularizado, agora pode descansar”; a atriz Brooke Shields, que dividiu parte da infância com Michael Jackson e teria sido sua primeira namorada. Ela fez inúmeras citações de Saint Exupéry, em O Pequeno Príncipe, tipo “lealdade com uma flor” e “ouvir o coração” (ouvir o invisível), em comparações com o amigo morto e sob forte emoção e lágrimas. Finalmente, a filha dele, Páris Jackson, com a voz entrecortada pelo choro, manifestou-se assim: “Desde que eu nasci você tem sido o melhor pai que se pode imaginar. Eu só queria dizer que te amo muito”.
Todos os pronunciamentos tiveram o tom da emoção e serviram para desnudar o astro detrás da fama. Resgataram a sensibilidade aguçada de um homem excêntrico, que sofreu com o denuncismo exploratório e  passou pela humilhação de ser preso e algemado como um bandido, prepotência esta habitual da polícia americana. Resgataram ainda a imagem de um personagem famoso e rico, com as suas fraquezas e virtudes que, inclusive, contribui financeiramente na ajuda ás crianças pobres e ás instituições de pesquisa e tratamento da mortal Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - a AIDS - que surgiu no início da década de 1980.
Aparentemente, poderia ser desnecessária de nossa parte a abordagem deste assunto, porque os nossos leitores devem estar saturados pelo mesmo. Entretanto, nossa intenção é a de que fique registrado o tributo deste semanário a um dos mais completos artistas dos últimos tempos, decantado em todos os tipos de mídia, influentes ou modestas. Recordista de vendagem com o álbum Thriller, autor de revolução na indústria fonográfica, rico e famoso, Michael Jackson ganhou o título de Rei do Pop. Nada disso lhe subtraiu os sonhos de uma infância insegura e conturbada na qual tentou revive-los, sem dificuldades e frustrações, na portentosa propriedade que comprou e deu forma: Terra do Nunca – Neverland.
Jamais me esqueci de certas mortes que abalaram e comoveram o Brasil ou o mundo, desde a minha puberdade. Sem esforço e sem consultas a quaisquer arquivos lembraria de relance, aqui, as de Joseph Stalin, Getúlio Vargas, James Dean, Elvis Presley, John Kennedy, Juscelino Kubistcheck, Tancredo Neves e Leonel Brizola. Agora, Michael Jackson entra nesse rol e, pela minha idade madura, um ou outro ainda poderá aumentá-lo. Poucos mesmo.
Foi assim que acompanhei contritamente a transmissão televisiva desta terça-feira. Foram algumas horas de emoção e curiosidade. Vi, anotei detalhes e tirei algumas modestas conclusões, que se misturaram com as que eu ouvi. Mas, uma vai ser exclusividade minha e foi paralela ao acontecimento: três emissoras brasileiras de canal aberto cobriam o ato e eu procurava absorver um pouco de cada uma – Rede Globo, TV Record e Rede Record News. Somente esta ultima foi até o final da cerimônia fúnebre, um pouco mais além. As outras duas voltaram-se para as respectivas programações normais, sendo que a Globo para um desses filmes enlatados de fim de tarde. Assim sendo somente a Record News pode mostrar o ponto alto da emoção do evento, que foi a fala entremeada com choro da filha de Michael Jackson, Páris. Até me acostumei com esse fogo de palha da Globo, principalmente quando anuncia a cobertura de competições esportivas, tipo Olimpíadas ou Copa do Mundo de Futebol, ocasiões em que ela começa á todo o vapor e, devagarinho, vai restringindo o número de jogos ou de competições, muitas vezes, sintetizados em curtos “video tapes”. Outra observação perceptível foi que vez ou outra entrava na tela alguma legenda em inglês da CNN americana. Como as três emissoras exibiam, simultaneamente, as mesmas imagens, dava para se deduzir que os sinais proviam daquela TV americana, claro que com comentários e traduções locais.

* Marco Regis de Almeida Lima é médico e exerceu os cargos de prefeito de Muzambinho (1989/92 e 2005/08) e deputado estadual – MG (1995/98 e 1999/2002)