Publicado em 18/04/2019 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Nunca fui motivado por essa
asneira de avaliação dos 100 dias de qualquer governo. Seja isso no âmbito da
União, dos Estados ou dos Municípios. Impossível que esse período seja
suficiente para quaisquer realizações, apenas um norte para que uma nova
administração diga a que veio.
No caso do governo Bolsonaro a
bússola não desgruda do viés ideológico. As viagens do Presidente e as suas
declarações durante as mesmas não escondem essa faceta. Foi o que extraímos das
idas a Davos, à América, a Israel, ao Chile e à reunião do Grupo de Lima. Ou de
seus emissários no Dia D da frustrada derrubada do regime venezuelano, ou seja,
dia da bombástica “ação de ajuda humanitária dos Estados Unidos e da Colômbia” –
ao que antes escrevi como senha para a invasão da Venezuela pois se esperava,
naquele dia, uma debandada em massa de graduados oficiais das forças armadas
bolivarianas, mas apenas desertaram poucas dezenas de subordinados soldados,
que nada representavam num contingente de cerca de meio milhão, onde se incluem
a guarda e a milícia nacionais, além de exército, aeronáutica e marinha.
Nada de surpreendente em
Bolsonaro no tocante ao viés extremado de direita. Afinal de contas, durante os
quase trinta anos de seus mandatos parlamentares, ele defendeu ditadores,
torturadores e bandidos milicianos, neste caso mostrado no programa ‘Conversa
com Bial’, levado ao ar na madrugada desta 4ª feira, 17, pela TV Globo.
Controverso, sim, pois tanto combateu o viés ideológico esquerdista para,
agora, procurar se impor o oposto ao
invés de se cuidar da pacificação e da unificação da nossa Pátria.
Passada a euforia da vitória
eleitoral e o governo de posse das rédeas do poder, a gente esperava mais
ênfase na cobrança de ordem e disciplina da população. Ainda mais que o
superministério da Justiça e Segurança Pública ficou nas mãos do temível, ou
terrível, justiceiro antipetista da República de Curitiba, o Juiz Sérgio Moro. O
apoio viria de um Congresso Nacional nunca dantes fortificado por tantos
delegados e militares de todas graduações e diferentes instituições. Porém, as
investidas nunca passaram dos esquerdistas. Os assaltos e explosões de agências
bancárias continuam; pobres e pretos inocentes continuam a ser mortos pela
polícia, até pelo Exército que não tem
função de caçar bandidos; mulheres continuam sendo assassinadas por machos
predadores; o meio ambiente brasileiro passou à orfandade, quem dá ordens é o
agronegócio do Mato Grosso de cima e de baixo, ou os grileiros da Amazônia; os
presídios continuam a encher, nunca faltando vagas para a escola do crime. Prá
piorar as redes sociais subvertem a ordem, seguindo os exemplos dos tuítes da
família presidencial.
Esse caldo de cultura é
favorável à proliferação dos patógenos da democracia. Nele crescem ainda mais
os elementos avessos ao diálogo e à convivência harmônica, que, inclusive, não
enxergaram que as urnas não foram uma unanimidade (57,8 milhões de votos contra
47 milhões, no 2º turno).
Não vejo razão para alguns se
sentirem mais brasileiros do que outros. Nem para acharem que símbolos
nacionais são de sua exclusiva propriedade. Muito menos entenderem que haja
supremacia de uma religião.
Não dá para aceitar que cultivemos o vício
do golpismo preconizado por setores que se deslumbraram com o êxito do golpe
parlamentar-judicial contra a presidente Dilma Rousseff. Parcela dos golpistas
ensaia novas investidas. O rolo compressor quer passar sobre vereadores,
prefeitos, senadores, deputados estaduais e federais. Acha pouco? Estão indo
muito além: intentam promover “impeachment” no Judiciário, principalmente na
nossa mais elevada Corte de Justiça – o STF, Supremo Tribunal Federal – que se
prestou a endossar a derrubada de Dilma, curvando-se à “voz das ruas”, comandada
pelas elites empresariais, econômicas, setores políticos e militares, que
cooptaram massas ignaras para a consumação do seu propósito.
Inadmissível a subversão da ordem
constitucional. Inaceitável que um general reformado do Distrito Federal venha
incitar a insubordinação e o ódio nas redes sociais falando em “tribunal de
exceção” para julgamento de ministros do STF. Nem que um policial civil de
Goiás faça uma postagem equivocada e mentirosa de que “o nosso STF é
bolivariano, todos alinhados com os narcotraficantes e os corruptos do
país...”. Pois foi esse mesmo tribunal bolivariano que ajudou a dar fim no mandato
outorgado nas urnas a Dilma Rousseff e tem ajudado a manter encarcerado o
ex-Presidente Lula, condenado sim por uma espécie de tribunal de exceção de
Curitiba e de Porto Alegre.
A despeito de toda a celeuma
que tem gerado o Inquérito das “Fake News”, aberto pelo presidente do STF, Dias
Toffoli, e conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, que, nesta semana
cumpriu oito mandados de busca e apreensão e determinou o bloqueio das contas
de redes sociais desses dois cidadãos e de outros seis, além de retirar do ar
conteúdos absurdos do “site” O Antagonista e sua revista Crusoé, veículos
useiros e vezeiros em se julgarem “donos da verdade”, além de golpistas que
foram, a decisão de ambos os ministros é corajosa e merece aplausos. A despeito
que a Procuradoria Geral da República e a Ordem dos Advogados do Brasil se
coloquem em contrário é bola prá frente (que moral tem a OAB, se também convalidou
o golpe?). O STF não deve investigar e julgar, esta é a questão em jogo. Mas
quem tem mais autoridade do que o STF para colocar ordem na Casa? Ainda mais que não vislumbramos providências do
Executivo, através de Sérgio Moro, muito menos do Legislativo. Alguém tem de
deter pessoas insanas, levianas e descompromissadas com a democracia. Basta de
se falar pelo nariz na internet sem qualquer punição. Nesta 3ª feira, 16, oito
irresponsáveis tiveram o constrangimento de buscas nas suas casas e bloqueio nas
redes sociais. Já foi um começo para ordem na casa.
*Marco Regis de Almeida Lima é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003) - marco.regis@hotmail.com