A Flor do Tempo

Publicado em 06/04/2015 - paulo-botelho - Da Redação

A Flor do Tempo

Baixo, magro, olhos vivos e rastreadores, Benedito Henrique de Oliveira viveu só em sua chácara na cidade de Pinhalzinho – SP por mais de 30 anos. Metalúrgico aposentado, gostava de ler e de se informar. Sua chácara era frequentada por parentes e amigos que lá iam, em fins-de-semana, para assar churrasco e beber cerveja. E lá ficava ele, de longe, circunspecto, a observar as pessoas. Éramos amigos. Gostávamos de conversar. Ele me chamava de professor, mas na realidade o aluno era eu mesmo. Mas foi em um certo domingo, um pouco antes de sua morte, que benedito me mostrou, com os olhos cheios de lágrimas, uma Sempreviva que fora plantada pelo pai dele em 1975, bem ao lado de um canteiro de couve. A Sempreviva é uma flor muito resistente que pode durar até meio século. Seu nome já indica longevidade; por isso mesmo é surpreendente  ter contato com ela.

No romance Sempreviva do escritor Antonio Calado, o personagem Quinho, um exilado político, volta ao Brasil, clandestinamente, no tempo da ditadura militar, para descobrir detalhes do assassinato de duas ativistas políticas. Atormentado pela lembrança da mulher amada, também presa e morta pelos militares,  Quinho tenta, ao mesmo tempo, refazer sua vida pessoal qual uma Sempreviva que se refaz.

As pessoas têm sido limitadoras da reconstrução da cidadania, bem-estar, harmonia e paz; exceto aquelas poucas que se refazem e irradiam vida como a Sempreviva, a flor do tempo.

Por: Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor, Escritor e Consultor de Empresas; Associado-Docente da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. www.paulobotelho.com.br