Acendendo fósforo

Publicado em 29/02/2016 - paulo-botelho - Da Redação

Acendendo fósforo

Que os meus caros leitores não tenham dúvida: acender fósforo não é para fumar cigarro!

William Faulkner, escritor americano, dizia que acender um fósforo no meio da noite em um descampado não permite enxergar nada com clareza, apenas ver com nitidez toda a escuridão em volta. Tem razão Faulkner. A escrita faz o mesmo, mais que qualquer outra coisa; não clareia, mas como o fósforo permite enxergar o tamanho da escuridão.

O escritor é um observador da sociedade e da natureza humana; e a literatura ajuda-o a obter energia para poder produzir algum conhecimento.  "Palavra puxa palavra; uma ideia traz outra", ensinava Machado de Assis, nosso melhor escritor. É assim que se compõe um texto. Acho, também, que é desse jeito que a natureza compõe as suas espécies.

A busca pela palavra certa não é nada fácil. Escrever é mais que associar palavras e ideias; é buscar uma sintaxe que faça chegar ao leitor um entendimento objetivo e simples. Não gosto de frases volumosas, cheias de adjetivos, advérbios e descrições que ficam ronronando nos ouvidos do leitor. Estou mais para o lado de Georges Simenon, o genial criador do detetive Maigret; ele espremia seus escritos como se usasse um alicate. A lição que assimilei dele é a da economia. É preciso dizer o que se quer com economia; de preferência com economia poética.

Quando escrevo, procuro evitar preocupação. A preocupação destrói a capacidade de escrever e a saúde precária – ou a falta dela – atrapalha na medida em que desperta desânimo. Prefiro escrever sempre na parte da manhã ou da noite; no período da tarde fico completamente burro.

As palavras são apenas vagas sombras do que se quer dizer. No entanto, vou continuar acendendo fósforo para poder ver com clareza ou sem sombras o tamanho da escuridão ao meu redor.

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor. www.paulobotelho.com.br