Causa e Efeito

O dia 5 de novembro do ano passado amanheceu abafado e quente; um daqueles dias que mais parece um dia administrativo em que dá a impressão de que nada de importante pode acontecer numa atmosfera tão preguiçosa. Ledo engano. Naquele dia ocorreu o pior acidente de mineração em local próximo de Mariana, Minas Gerais. A tragédia aconteceu após o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, controlada pela Vale do Rio Doce. Vou poupar o leitor em não repetir o que a mídia tem explorado; especialmente a Rede Globo para rentabilizar sua audiência.

Tenho acompanhado, com preocupação, o falatório sobre os efeitos da tragédia por parte de advogados e promotores que não têm formação para analisar e propor soluções técnicas para as causas desse enorme problema. Em um passado um tanto distante (1987) – por negligência de médicos – tivemos o Caso do Césio-137 de Goiânia: uma brutal contaminação em cadeia que produziu centenas de vítimas. Nenhuma solução foi alcançada do ponto de vista jurídico e médico.

A extração de um metal a partir de um minério (caso da Samarco) produz uma quantidade de resíduos pelo menos dez vezes maior que a quantidade do produto. Os resíduos acumulados nas vizinhanças formaram montanhas artificiais que, por sua vez, desabaram por dinâmica inercial; daí o tsunami da lama.

Se tivéssemos a cultura e a sensibilidade dos japoneses não estaríamos expostos a impactos ambientais sem controle. O desastre ocorrido na Central Nuclear de Fukushima em 2011, causado pelo derretimento de três reatores nucleares, ficou resolvido  por eles no final de 2012.

Enquanto continuarmos sob a trindade maléfica: pobreza, desigualdade e irregularidade vamos seguir a vida sem ânimo para nada; 38% da população economicamente ativa do Estado mais rico do Brasil já está comendo arroz com ovo em sua dieta cotidiana. Todavia, em montanha de tanto joio é possível encontrar algum trigo. – É só querer!

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor. Associado-Docente da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.www.paulobotelho.com.br