Publicado em 17/10/2016 - paulo-botelho - Da Redação
Morena, alta e magra, descendia de espanhóis. Erudita, falava e escrevia em francês com desenvoltura. Não gostava de cozinhar, mas era capaz de fazer um frango com quiabo como ninguém. Leitora voraz dos clássicos, entre eles Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote, gostava de reproduzir o que lia para toda a família, sempre na hora do jantar. Assim era minha avó paterna, Maria de Luna Botelho. Através dela, ainda menino, fiquei com a idéia de que Dom Quixote era um fidalgo corajoso e sonhador, que saia pelo mundo afora a consertar tudo o que estivesse errado: proteger os órfãos, defender os perseguidos, impedir maus-tratos contra os humildes e indefesos, estabelecer a justiça e, sobretudo, preservar a vida na Terra. “ Não são gigantes, mas apenas moinhos de vento com suas pás”, explicava ela parafraseando Sancho Pança, o fiel escudeiro de Dom Quixote. A partir dessas lembranças recorrentes, fico pensando numa Ecologia Integral, em seus aspectos pessoal, social e ambiental de que ensina o teólogo Leonardo Boff: “O aspecto pessoal, ou a paz consigo mesmo, tem como meta a saúde física, emocional, mental e espiritual do ser humano como estratégia para o desenvolvimento da paz. O aspecto social, ou a paz com os outros, busca a integração do ser humano com o exercício da cidadania e dos direitos humanos; a cultura da não-violência e a ética da diversidade. O aspecto ambiental, ou a paz com a natureza, vislumbra a integração do ser humano com a natureza, facilitando o processo de conscientização e sensibilização, no sentido de reduç& atilde;o do consumo e do desperdício”. Nós, os ambientalistas, temos um pouco desse Dom Quixote. Somos aqueles que insistem em fazer brotar, do chão árido, uma flor!
Quando me entristeço com a vida, seus percalços, dificuldades e surpresas desagradáveis, tenho o hábito de procurar olhar a Terra de fora dela; assim como os astronautas. De lá, de suas naves espaciais ou da Lua, como testemunharam vários deles, a Terra aparece um resplandecente planeta azul e branco que cabe na palma da mão. Daquela perspectiva, a Terra e todos os seres emergem como uma única identidade. Ela emerge como terceiro planeta de um sol que é apenas um entre 100 bilhões de outros do universo. Universo que, possivelmente, é apenas um entre outros milhões paralelos e diversos do nosso. E tudo segue com tal organiz ação que permite a nossa existência. Caso contrário, não estaríamos mais por aqui.
Astrônomos americanos anunciaram, faz pouco tempo, a descoberta de um planeta semelhante a Júpiter na órbita de uma estrela muito semelhante ao Sol e a apenas 90 anos-luz da Terra. Um vizinho, do ponto de vista cósmico. É mais um indício de que sistemas planetários, como o nosso, são uma constante no Universo. E não há razão para não ser. Conclui-se, portanto, que pode ser que se encontre, também, um planeta parecido com a Terra. E se existem “outras Terras”, provavelmente deve haver outras vidas. – Das pás dos moinhos à paz na Terra!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor. WWW.paulobotelho.com.br