Publicado em 01/06/2015 - paulo-botelho - Da Redação
Quem trabalha com abelhas sabe da existência de uma administração cósmica entre elas. Não é a rainha quem manda ou responde pela gestão da colméia; ela é apenas uma poedeira. Não faz outra coisa a não ser engolir geléia real para poder botar ovos. Ela não dá ordens a nenhuma abelha; sabe o que tem que fazer. Assim como a banana, sobre a qual já escrevi, há um planejamento misterioso e definitivo nas colméias; uma conscientização apiária que não precisa de nenhuma organização externa. O francês Gilles Fert, um dos mais renomados apicultores e criadores de abelhas do mundo diz que há uns 15 anos era comum perder de 5 a 10% das colméias. Hoje, segundo Fert, os apicultores sofrem perdas entre 35 a 50% das colônias. E ele pergunta: "E se esses insetos estiverem tentando nos avisar de alguma coisa?" Não é difícil, portanto, chegarmos à conclusão de que o mundo sem abelhas seria um mundo sem flores, sem frutas, sem hortaliças. Em seu livro "Novos Horizontes no Estudo da Linguagem e da Mente", o cientista americano Noam Chomsky constata que o cérebro das abelhas é do tamanho de uma semente de grama, com menos de 1 milhão de neurônios; mesmo assim elas comunicam-se com eficiência para produzir mel. Ao contrário dessa constatação de Chomsky, o monstro da ignorância está dentro do ser humano, portador de bilhões de neurônios. Esse monstro está, na verdade, disfarçado de uma linguagem oblíqua e dissimulada, fazendo com que palavras e fatos não se encontrem porque não se reconhecem. Quando palavras e fatos perdem o seu sentido é o mundo que fica sem significado. E, então, a imbecilidade ganha espaço nas relações humanas funcionando com eficiência para produzir fel. Exceto para aqueles seres humanos que têm a doçura da primavera em flor; a estação preferida das abelhas!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor. www.paulobotelho.com.br