De Sobrevivência

Publicado em 06/02/2017 - paulo-botelho - Da Redação

De Sobrevivência

As alquimias ou poções mágicas da farmacêutica Josefina Bueno, minha prima, conseguiram garantir a continuidade de minha vida e da de meu irmão João Ricardo. Fortes gripes e bronquites seguidas de febres altas, além de lombrigas e até um perigoso crupe, tiveram os cuidados de Josefina e da presença sedativa do médico Ismael de Oliveira Coimbra.

As lombrigas foram atacadas com eficiência pelas poções da prima farmacêutica. Eram muitas a deteriorar os nossos frágeis intestinos; elas queriam sair por outras vias além das normais. Verdadeiras cobras criadas. Em meu irmão, então, elas chegaram a sair pelo nariz.

Aos 14 anos, quase morri de crupe, uma doença contagiosa que causa inchaço no pescoço e cria dificuldade respiratória, além de intensa e torturante tosse. – E Josefina a me perguntar, meio desconfiada: “Paulo, aonde você arranjou esse crupe?”

Com tão pouca idade eu já trabalhava – e muito – na agência do correio de minha cidade. Havia aprendido a operar o Código Morse: um sistema composto das letras do alfabeto e dos números. As mensagens eram transmitidas por intervalos gráficos pelo telégrafo e viravam telegramas.

Mulheres das “Casas de Tolerância” (leia-se Putarias) costumavam receber inúmeros telegramas. E para a moça que levei um deles resultou num beijo na boca; daí o crupe!

Acabei demitido do correio por três motivos: muito lento na recepção das mensagens pelo telégrafo; negligente na entrega dos telegramas e por ter contraído crupe na putaria.

Muito triste, fui socorrido por Arlindo Pereira, dono do Gato Preto – um boteco que produzia um delicioso sanduiche de linguiça com queijo. O boteco funcionava de domingo a domingo a partir da meia-noite. – E Arlindo não economizou palavras de consolo: “Paulo, você com tão pouca idade já é um homem e vai se sair bem na vida. – Não fique triste; vamos beber uma cerveja!”

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor. www.paulobotelho.com.br