Demissão no Aniversário

Publicado em 18/10/2016 - paulo-botelho - Da Redação

Demissão no Aniversário

Foi no dia do meu aniversário: 7 de outubro. Faz bastante tempo, mas a dor ficou.

O dia amanhecera cinzento e branco que eu chamaria de um dia administrativo, porque dava a impressão de que nada de interessante poderia ocorrer naquele início de falsa primavera. Se insisto nesse tom cinzento despido de relevo, não é por gostar do pitoresco, mas para demonstrar a banalidade do mal; do mal feito. Do bem feito, apenas uma singela comemoração prevista para o fim do expediente de trabalho; com café e bolo de fubá.

Redator principal da segunda maior agência de publicidade de São Paulo eu tinha um chefe que atendia pelo nome de Carlos Maia de Souza. Carlito para os íntimos. Autodidata ou ignorante por conta própria vestia-se como um dândi. Por discordar de apenas um parágrafo de um texto que eu elaborara, redarguiu, contrariado como um javali: “Não é isto que agrada o mercado! – Você está demitido!”

Algumas pessoas têm a maldade na cara, ao contrário de um cavalo de corridas que mostra logo a sua classe, o seu afeto. Descobri, muito tempo depois, o que o Maia me fazia lembrar. Eram várias coisas, todas de caráter patológico, exceto uma que se resume num palavrão.

Segundo o psiquiatra americano Paul Babiak, autor do livro “Snakes in Suits” (Cobras de Terno), 38% dos psicopatas estão dentro das empresas; qualquer empresa e de qualquer ramo de atividade. Eles não matam, mas usam o cargo para atormentar, humilhar, assediar ou demitir – sem dó. E chegam a cometer crimes. De acordo com a Consultoria Price Waterhouse Coopers, um terço das empresas sofre fraudes significativas, a cada ano, por conta de psicopatas corporativos.

Manda quem pode; obedece quem tem prejuízo. – Naquele meu dia, peguei o paletó e fui para casa; sem poder comer o bolo de fubá com o café dos meus amigos.

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor. www.paulobotelho.com.br