“Em cada anoitecer dorme uma porção de luz”.
De A Fenomenologia do Espírito, de Hegel, filósofo alemão.
Com tristeza, tenho pensado no drama de Édipo, personagem trágico do poeta grego Sófocles. Para salvar uma cidade subjugada por uma esfinge (monstro mitológico) que ameaçava o povo de fome e de peste, Édipo teria que resolver o enigma proposto por ela: “Decifra-me ou Devoro-te”.
Transpondo esse enigma para os nossos dias, estamos assim como Édipo. Os problemas ambientais estão a nos dizer, diariamente, “Decifra-me ou Devoro-te”. Lixo, poluição, enchente! As cidades da região metropolitana de São Paulo continuam jogando esgoto nos afluentes do rio Tietê. As ligações clandestinas de esgoto e todo o entulho, despejado pela população, contaminam o rio. Os sacos de lixo - colocados fora de horário de recolhimento por toda a cidade - são rasgados pelos cães e esse lixo vai entupir bueiros e galerias. Os 120 mil pneus retirados do rio desde 2002 não chegaram lá rodando sozinhos. Não é difícil identificar os piratas do Tietê: eles têm cabeça, tronco, membros e rabo! “O rio não enche; são as pessoas é que invadem a sua área de expansão” diz Benedito Lima, professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Precisamos de campanhas continuadas de conscientização para a cidadania; de consideração ao meio ambiente, dia e noite.
Aécio Chagas, professor do Instituto de Química da Unicamp, conta como anda a cabeça das pessoas por aí. Ele conta que uma questão de vestibular pedia ao aluno que distinguisse uma porção de sal de uma porção de açúcar, mas sem provar nenhuma delas. Um vestibulando respondeu o seguinte: “É só dissolver cada produto em água, pegar uma seringa, chamar um diabético e injetar a solução na veia dele. Se ele morrer, é açúcar!” Aécio disse que quase desabou quando leu essa resposta.
Retomando o enigma da esfinge, Édipo então chama Tirésias. Por sua vez, o cego Tirésias, que enxergava a verdade, diz a Édipo: “Os dois olhos que tens pouco adiantam, pois não vês a miséria que te cerca; em teus olhos, que pensas ver claro, contém uma treva irreversível”.
Hegel consola ensinando que “em cada anoitecer dorme uma porção de luz”. - Mas há quem apague as luzes de dentro!