Encontros no farol

Publicado em 28/12/2015 - paulo-botelho - Da Redação

Encontros no farol

Foi em um domingo à tarde, chuvoso e frio, um pouco antes desse implacável verão. – Existe dia mais triste que um domingo à tarde? – E lá estava eu, diante daquele farol de tempo demorado de espera para abrir. Farol: os cariocas nos criticam por esse nome que damos por aqui. Lá no Rio eles chamam de sinaleira; entretanto o nome correto é semáforo. Bem, eles têm lá as suas idiossincrasias conosco; só que não saem daqui por nada deste mundo. Espertos!

Mesmo debaixo daquela chuvinha intensa, lá, bem debaixo do farol, estava um malabarista. Sua arte consiste em manobrar ou manipular quatro facões, desses de cortar cana. Acho que eu não conseguiria alguma destreza nem com apenas um facão. Ao jogá-lo para cima, ele cairia direto em minha garganta! Mas dei ao malabarista dois Bis-Lacta. Ele não gostou, mas enfiou-os no bolso. Quase que em seguida, apareceu um menino, acho que com menos de oito anos. Pediu uns trocados, mas dei a ele um Bis, passando a mão em sua cabeça toda encharcada pela chuva. Quase que ao mesmo tempo veio outro; creio que com uns cinco anos. Os Bis tinham acabado. Disse isso a ele. E, então, para minha total surpresa, tive uma das mais fortes interpelações em minha vida pessoal; o menino pediu: "Então, passa a mão na minha cabeça!" – Quase chorei.

A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro por essa vida afora.

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresae e Escritor. www.paulobotelho.com.br