Estar pronto é tudo

Publicado em 07/04/2015 - paulo-botelho - Da Redação

Estar pronto é tudo

Tenho pensado na morte com uma certa frequência, porém mais nos mortos. Pensar neles, já dizia a minha avó, é se preparar para bater as botas! Mas o melhor entendimento sobre a morte, a meu ver, vem de Shakespeare em Hamlet: “Existe uma previdência especial até na queda de um pássaro. Se é agora, não vai ser depois, se não for depois, será agora; se não for agora, será a qualquer hora. Estar pronto é tudo”. As pessoas mortas existem apenas na minha memória, na minha saudade, no meu esquecer ou na reconstrução de momentos vivenciados. Outro dia mesmo, levei um tempão reconstruindo um momento de uma meia hora de minha adolescência ocorrido na Oficina de Costura de minha mãe. Lá estavam oito pessoas a conversar enquanto trabalhavam; só eu continuo ainda vivo. – O que estavam conversando? – Quem disse o que? – Então, pensei: vou manter essas pessoas vivas o quanto puder em minha memória para poder escrever, pois  a memória é a escrita da alma. Se quando eu morrer, alguém me mantiver vivo do mesmo jeito, terá sido bom; terá valido a pena. A morte espera pelo mais valente, o mais rico, o mais bonito; mas os iguala ao mais covarde, ao mais pobre, ao mais feio. – Shakespeare morreu, Proust morreu, Machado de Assis morreu, Hemingway morreu; e eu não ando me sentindo bem!

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor, Escritor e Consultor de Empresas. Associado-Docente da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.  www.paulobotelho.com.br