Publicado em 22/05/2020 - paulo-botelho - Da Redação
Foi Hildebrando Bueno, conhecido de meus leitores, quem
chamou minha atenção. Eu estava absorto a pensar, com tristeza, nesse Brasil
tão castigado por um outro virus de nome Bolsonaro; uma criatura que
obteve mais de 50% dos votos dos brasileiros para a Presidência da República. E
perguntei aos meus contrafeitos botões: como será possível lutar contra a
demência imposta no lugar da democracia? - Acho difícil poder lutar porque
vivemos em um país primário, sem imaginação, povoado - em sua maioria - por
batedores de panelas; maioria essa composta pela dita Classe Média, é claro.
Foi por isso que demorei para entender uma notícia veiculada pelos jornalões
aqui do Sudeste. A notícia veio do Interior de Pernambuco e dizia: "Menina
de 8 anos fica agarrada à sua mochila enquanto é resgatada de uma
enchente". - E o que tinha dentro da mochila? - Livro, caderno e lápis. A
menina de nome Rivânia fora aconselhada pela avó a pegar apenas o que fosse
mais importante para ela. Rivânia não salvou a boneca de pano, tampouco a já
gasta sandália havaiana. Salvou apenas livro, caderno e lápis; tal como o
feijão, a farinha de mandioca, bens de consumo para o fortalecimento da mente e
do corpo. O livro, assim como a roda, é uma invenção consolidada. Georges
Simenon, escritor belga, disse que ninguém pode acabar com o livro porque ele
nunca descansa em uma estante ou na poeira. E é verdade, os anos passam pelo
livro e ele, indiferente, segue seu caminho resistindo a tudo: aos séculos, aos
leitores, aos críticos. E às enchentes. Ele sabe que sempre vai haver uma
Rivânia para registrar o seu desaparecimento utilizando somente de caderno e
lápis.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é professor e escritor.
E-mail: papbotelho5@gmail.com