Publicado em 22/06/2015 - paulo-botelho - Da Redação
Alto, magro e elegante com aparência de uns 35 anos; vestia um terno azul-marinho de corte em alfaiate, moda "sem gravata". Ao estender-me a mão para cumprimentar, mal apertou; observei possuir uma mão delicada, macia, quase feminina, unhas bem tratadas. Principal dirigente daquela unidade hospitalar, convidou-me para ministrar palestras sequenciais de treinamento direcionadas ao pessoal de enfermagem. – "Precisamos adestrar toda a enfermagem!" disse com determinação. Quando pedi para entrevistar esse pessoal, concordou a contragosto. E constatei a existência de relatos de agressão: uma enfermeira contou que num certo dia atendeu a uma senhora com dores abdominais. – "O filho dela me deu um tapa no rosto porque não atendemos de imediato!" – Isso demonstra a absurda intolerância em que se confunde grosseria com cidadania. Demonstra, sobretudo, que um homem que bate numa mulher não passa de um covarde. Situações assim de violência contribuem para deslocar a atividade de atendimento em saúde para situação de alto risco. Paralelamente, cresce nesse segmento a quantidade de cursos e palestras de má qualidade: espécie de calmante que tem princípio ativo e posologia variada; prescreve conteúdo pirotécnico e de efeito placebo. Ao terminar minha reunião com a enfermagem, fui até a sala do dirigente. Disse-lhe que iria propor um outro enfoque ao invés de palestras de adestramento como queria. – Ele não concordou. Sequer me estendeu de novo aquela mão bem tratada ao despedir. - Cavalos são adestrados porque só sentem; seres humanos não podem ser adestrados porque pensam e, sobretudo, sentem!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor. www.paulobotelho.com.br