Publicado em 01/02/2018 - paulo-botelho - Da Redação
Tenho pensado no tempo que me resta. Platão, filósofo grego, disse
que o Criador resolveu conceder-nos uma imagem da eternidade em movimento. É o
que ele chamou de tempo. Mas, admirado, consolado ou inspirado por ele, não me
livro da relação conflitante que tenho com o tempo; continuo tentando segurá-lo
sem conseguir.
Passado tanto tempo, fico a lembrar de esquecimentos que atribuo à
duvidosa ordem do tempo e à inevitável desordem da memória.
O Brasil parece que parou no tempo. É o mesmo de quando D. João VI
chegou em 1808: uma gente rica, analfabeta e sem educação – e que seguiu em
frente, passando a ser a primeira minoria a submeter a maioria pobre e
miserável.
É o Eclesiastes em seu Capítulo 3 que ensina: “Existe um tempo
certo para cada coisa, momento oportuno para cada propósito debaixo do Sol:
tempo de nascer, tempo de morrer, tempo de plantar, tempo de colher.”
Quando parei de lecionar fiquei a um só tempo alegre e com uma
sensação de vazio. Eu já sabia, então, que qualquer coisa – boa ou má – deixa
um vazio quando acaba. Se má o vazio se enche por si mesmo; se boa só se pode
enchê-lo arranjando coisa melhor. Estou à procura. Enquanto isso escrevo
artigos, crônicas, contos e até manuais de procedimentos de trabalhos para
empresas. Meus textos são curtos e econômicos em respeito ao tempo dos meus
caros leitores.
Não pode haver presente vivo com passado morto ou isolado, sem
referências. Quando expulsamos o tempo passado pela janela, ele logo volta
disfarçado de diversas maneiras a exigir ser lembrado.
E na lembrança do meu tempo a infância e adolescência tiveram um
papel importante: o cotidiano da vida era razoável; o país não era tão ruim;
Deus tinha sempre razão. E Deus era bom.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e
Escritor. Associado-Docente da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência. www.paulobotelho.com.br