Publicado em 09/04/2021 - paulo-botelho - Da Redação
Vem chegando um vento frio pela manhã, mas o céu está limpo
e o sol claro e forte. Centenas de sabiás (eternos chamadores de chuvas) ficam
empoleirados nos fios dos postes das ruas. - Está terminando o Verão; e fico a
observar o cair das águas de Março, tão bem decantadas pelo maestro e
compositor Tom Jobim.
E o Outono vem chegando de acordo com a previsão desse
imprevisível tempo. Vamos ter que fechar as janelas à noite; e o vento frio vai
arrancar as folhas das árvores; e as folhas secas, no dia seguinte, vão ficar
caídas no chão, enrugadas como as rugas do meu rosto. Todavia, mesmo com boa
vontade, é a chegada do Outono com a sua natural falsidade.
Assim como os ventos do Outono vão carregando as folhas
mortas, o tempo vai trazendo de volta minhas doces lembranças, ainda vivas. - E
fico a lembrar da Fazenda Monte Cristo de minha bisavó materna, a dona América
Bueno Alves, que ficava próxima a Monte Belo no Sul de Minas Gerais. Guardo
dela sensíveis lembranças: mulher simples, generosa, sempre descalça, às voltas
com o fogão de lenha a assar os seus saborosos biscoitos de polvilho; o gato
rajado sonolento; a talha úmida, cheia de água fresca; o cheiro das bostas dos
cavalos (excelente adubo); as árvores frutíferas e os pássaros saciados,
felizes.
"Outono é mais estação da alma do que da
natureza", já dissera o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade.
E eis que nestas poucas linhas tentei alcançar o Outono de
minhas doces lembranças, não obstante todo o amargor deste tempo tão difícil de
passar; de ir embora para sempre e nos deixar com saúde e a viver em paz. - É
isso.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
E-mail: papbotelho5@gmail.com Site:
https//paulobotelhoadm.com.br