Por uma humana arquitetura

Publicado em 25/04/2016 - paulo-botelho - Da Redação

Por uma humana arquitetura

Está difícil para mim conseguir esquecer do dia 17/04/16 – Domingo. Vi e ouvi os 504 deputados declararem seus votos no impeachment da Presidente da República. "Pela minha mãe, pelos meus filhos, pela minha querida esposa e pelo meu netinho recém-nascido, o meu voto é pelo Sim!" – O deputado e capitão do exército Jair Bolsonaro foi além, muito além; dedicou seu voto aos militares que destituíram o Presidente João Goulart em 1964; parabenizou o presidente da Câmara Eduardo Cunha e homenageou o coronel Brilhante Ustra, chefe do DOI-CODI em São Paulo, notório torturador na ditadura militar. Não faltou torcida organizada como que numa partida de futebol ou rodeio com direito a "sertanojos universitários". – Essa é a arquitetura desumana e fascista que acaba de desabar em cima das cabeças pensantes deste país!

O arquiteto Oscar Niemeyer imaginou a cidade de Brasília com a configuração de um avião: nacele, nariz, asas, empenagem e trem-de-pouso em analogia ao Executivo, Legislativo, Judiciário e Autarquias com interação e harmonização. Se vivo ainda fosse, Niemeyer estaria revendo a configuração do Plano Piloto de Brasília mudando-o para a configuração de um caminhão. Deixo ao leitor a composição de sua carga ou lotação.

O país está em decadência. O que mais me preocupa é a próxima etapa: desagregação e consequente estado de barbárie.

Todavia, a catedral lá está no mesmo lugar como que a propor harmonia e esperança. Niemeyer ao concebê-la evitou as soluções usuais das catedrais escuras que lembram a culpa. Mas, ao contrário, ele fez escura a galeria de acesso à nave, toda colorida, iluminada, voltada com seus vitrais transparentes para os espaços. São dezesseis colunas curvas, idênticas e organizadas em círculo. Elas se elevam para se encontrar como que num gesto de súplica ou pedido de socorro.

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor. www.paulobotelho.com.br