QUEDA DAS MULHERES PELOS TOLOS

Publicado em 18/05/2015 - paulo-botelho - Da Redação

QUEDA DAS MULHERES PELOS TOLOS

"Falar do amor das mulheres pelos tolos, não é arriscar tê-las por inimigas?"

 Machado de Assis (1839-1908) 

Conto de Machado de Assis, "Queda das Mulheres pelos Tolos" foi publicado em 1861. Muito tímido e inseguro, aos 22 anos, Machado atribuía a um tal belga Victor Henaux a autoria do conto escrito em um correto francês "L"Amour des Femmes pour les Sots". Queda discute o que determina as mulheres na escolha de um marido ou amante. Elas os escolhem com pleno conhecimento do que fazer. Comparam, examinam, e só decidem depois de verificar neles a "qualidade" da tolice. A escrita de Machado de Assis adota a estratégia delas: é oblíqua e dissimulada, mas sabe muito bem o que quer; onde quer chegar. Machado distingue a tolice adquirida da tolice inata e conclui que os tolos mais bem-sucedidos são aqueles a quem o bom dinheiro, a boa posição social, leva à prática da mediocridade. Já o "homem de espírito", de um lado, é dedicado, trabalhador, tímido, educado e generoso. Machado constata que "o homem de espírito é aquele que sempre enfia a mão no bolso"; quer dizer: é aquele que sempre paga todas as contas. Ele não cansa a mulher amada com sua presença insistente e nem a bombardeia com declarações de amor e bilhetes vulgares. O tolo, por sua vez, tem o sangue frio; é audacioso, conquistador, um legítimo "pegador" como se diz hoje em dia. Enche a bola dela com elogios; chega a ser um serviçal. É bom em correspondência amorosa, com uma coleção de textos melosos.

Há pouco tempo, fui assistir ao filme "Chega de Saudade", dirigido pela cineasta Laís Bodansky. A trama, ambientada durante uma noite de baile, começa ainda com a luz do dia, quando o salão abre suas portas, e termina depois da meia-noite, quando o último freqüentador vai embora. O ator principal, vive de fazer carreto com uma Kombi; e quer namorar todas as freqüentadoras, embora tenha uma fixa.  Terminado o baile, ele sai bem devagarinho com a Kombi até o ponto de ônibus. Lá está a fixa. Mostra, pela janela do veículo, um tablete. Nele está circunscrita a palavra Amor, dentro de um coração em vermelho. O tablete é uma singela paçoquinha. - E ela, imediatamente, sobe na Kombi!

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Consultor de Empresas e Escritor.  WWW.paulobotelho.com.br