Publicado em 16/10/2020 - raul-dias-filho - Da Redação
Esta historinha que vou contar aconteceu durante uma
campanha eleitoral no interior de São Paulo. O folclórico Paulo Maluf visitava
a cidade e logo depois do comício se encontrou com alguns correligionários. Entre
eles, um jovem candidato a prefeito. Como Maluf tinha uma memória absolutamente
espantosa, reconheceu o rapaz e foi logo perguntando em alto e bom som:
“Olá! Como vai você, meu caro? E como está seu pai (e
disse o nome do cidadão!), eu gosto muito dele, já me ajudou muito, onde ele
está? Faço questão de dar um abraço nele!
Fez se um silencio, as pessoas olharam umas para as
outras até que o rapaz, constrangido, respondeu:
“Obrigado, seo Maluf, por perguntar dele, mas meu pai já
morreu... Faz uns cinco anos já.”
Pensa que Maluf perdeu o rebolado? Pelo contrário!
Respondeu assim, na lata:
“Morreu pra você, filho ingrato! Porque pra mim ele
continua vivo, na memória e no coração.”
A história, verídica, mostra que as eleições são terreno
fértil para histórias curiosas, engraçadas, pitorescas, assustadoras, mas....
tudo isso pode estar chegando ao fim. A pandemia impede a campanha ‘corpo a
corpo’ e nas cidades menores, como aqui na região, o efeito disso nas urnas é
imprevisível. Sabe porquê? Porque o sul mineiro, tradicionalmente, já é
sistemático. Sistemático e desconfiado. Em tempos de eleição, então, pode
multiplicar esse ‘sistemático’ por dez que ainda é pouco. Primeiro, porque ele
não dá o voto de graça. Veja bem, não estou dizendo que ele vende o voto, mas
se o candidato não pedir, e pedir com jeito, com educação, respeito, graça,
gentileza, pode esquecer, porque ele vai preferir anular do que votar em alguém
tão ‘ingrato’, que tem a petulância de menosprezar o voto dele. E isso, agora,
cria um dilema e tanto para os candidatos. Como pedir o voto à distância, já
que a pandemia impede a aproximação? Se bem que ouvi dizer que tem candidato
que testou positivo, não cumpriu quarentena e saiu por aí cumprimentando todo
mundo em casamentos, batizados e velórios, como se não existisse pandemia.
Enfim, mas para quem obedece as regras e a cidadania, existe um desafio a ser
enfrentado. Como se comunicar, à distância, com um eleitor que faz questão da
conversa ao pé do ouvido? Não tenho dúvida de que o caminho passa
necessariamente pelas redes sociais. É a única ferramenta que permite ao
candidato ‘conversar’ com o eleitor, expor seus projetos e opiniões, apresentar
planos de governo e se defender de eventuais ataques. Aliás, desconfie daqueles
que preferem atacar o adversário em vez de apresentar propostas. E desconfie
mais ainda se, além dos ataques, o candidato fizer promessas irreais, como
abertura de empresas e empregos em massa. Isso se chama Fake News. Uma praga
que sempre existiu mas ganhou terreno justamente com internet e com as redes
sociais, onde cada um publica o que bem entende, sem filtro, sem fiscalização
eficiente, e onde as mentiras, repetidas à exaustão, ganham ares de verdade. E
são grandemente ampliadas pela velocidade do compartilhamento. O sujeito
publica uma mentira qualquer, sob o manto do anonimato, e em poucos minutos ela
atinge milhares ou milhões de pessoas. É uma arma letal. E as pessoas replicam
sistematicamente mentiras nas redes, muitas vezes por ingenuidade, por
inocência, sem ter a noção exata do quanto aquilo pode ser destrutivo para
determinadas pessoas. Ou por maldade mesmo. Existe até um estudo, feito pela
revista Science, que explica como esse ímpeto pela fraude seduz os internautas.
A revista fez uma pesquisa e concluiu que a possibilidade de compartilhamento
de uma notícia falsa é 70% maior do que o de uma notícia verdadeira. Uma das
explicações é que o impulso para espalhar mentiras pode ser compreendido, pelo
menos em parte, pelo fato delas serem mais atraentes para o leitor, por
parecerem mais curiosas, divertidas ou improváveis. Eu simplifico: a fofoca
seduz. Quem não se interessa pelo comentário maldoso sobre o vizinho? Ainda
mais se o comentário chega pelo Whatsapp, sem assinatura e carregada de
maledicências.Essa rede seduz ainda mais porque dá a impressão de que a
mensagem é personalizada, dirigida exclusivamente para aquela pessoa. E dá a
oportunidade para essa pessoa replicar a mensagem inúmeras vezes. É um efeito
tão ‘multiplicador’ que o próprio Whatsapp limitou para cinco o número de contatos que o usuário
pode selecionar, por mensagem. Por isso o melhor filtro é sempre o usuário, que
deve ter o bom senso de pesquisar em fontes confiáveis se a notícia é verídica
ou não. Como fazer? Basta acessar os sites de NOTÍCIAS mais tradicionais. Se a
informação não repercutiu ali, pode ter certeza de que ela não é confiável.
Aliás, essa é outra regra: as fake news nunca são assinadas. Então, se vacine
contra elas. Porque, não tenha dúvida, as mentiras serão usadas por alguns candidatos
como armas para te convencer. Não permita que isso aconteça. E que vençam os
melhores.
Ainda sobre eleições...
Ainda sobre eleições, eu vivo fora de Cabo Verde há
quarenta anos. E nunca transferi meu título de eleitor. Até porque sou um
cabo-verdense ausente apenas fisicamente, porque meu coração nunca se ausentou
da cidade. Faço questão de votar, sempre que possível, em TODAS as eleições.
Principalmente nas eleições municipais, quando temos a oportunidade de
escolher, entre os candidatos, pessoas que conhecemos pessoalmente, acreditamos
e confiamos. Isso não é possível, por exemplo, quando votamos para deputados,
senadores e presidentes. Porque são pessoas que não fazem parte do nosso
círculo de amizades, da nossa rotina e que, por mais que suas decisões nos
afetem, nos afetam menos que aquelas tomadas por quem dirige a comunidade onde
vivemos. As medidas tomadas por prefeitos e vereadores nos impactam de maneira
direta e imediata. Por isso, valorize seu voto. Avalie fatores como
honestidade, credibilidade e experiência. E faça uma boa escolha. Eu já fiz a
minha. Em Cabo Verde, Claudinho é o meu candidato.
Por hoje é isso. Semana que vem tem mais. Até lá.
Raul Dias Filho - O autor é jornalista e repórter especial da Record TV